Como a Why Portugal está a internacionalizar a música nacional

A Why Portugal é uma plataforma que promove a internacionalização de músicos nacionais. A Why Portugal é uma associação sem fins lucrativos que funciona como um gabinete de exportação de artistas/músicos portugueses, assim como toda a estrutura profissional associada, de editores, managers ou agentes, necessária para uma carreira na música. Esta entidade trabalha de forma…
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Num mercado musical cada vez mais global, a internacionalização tornou-se um passo decisivo para os artistas portugueses. É precisamente esse o papel da Why Portugal, a associação que, nos bastidores, abre portas lá fora para a música feita cá dentro, ligando artistas, managers e editoras nacionais ao circuito internacional.
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A Why Portugal é uma plataforma que promove a internacionalização de músicos nacionais. A Why Portugal é uma associação sem fins lucrativos que funciona como um gabinete de exportação de artistas/músicos portugueses, assim como toda a estrutura profissional associada, de editores, managers ou agentes, necessária para uma carreira na música.

Guilherme Dourado, da Coordenação Internacional da Why Portugal.

Esta entidade trabalha de forma bidirecional, o que significa que tanto promove os artistas no estrangeiro (em eventos internacionais, como Eurosonic, Folk Alliance, Waves Vienna, WOMEX, entre outros), como convida as estruturas internacionais para os eventos nacionais, de modo a dar a conhecer os artistas locais a estas comitivas.

Trata-se de um trabalho de bastidores, desconhecido ainda da maior parte dos artistas, mas importante para que os artistas se possam promover internacionalmente, seja qual for o género musical, e que quisemos conhecer, numa entrevista com Guilherme Dourado, da Coordenação Internacional da Why Portugal.

Em que consiste a Why Portugal e como surgiu a ideia de criar esta plataforma?
A Why Portugal é o gabinete de exportação da música portuguesa. Foi criada em 2016 pela AMAEI – Associação de Músicos, Artistas e Editoras Independentes, inspirada no trabalho já existente noutros países e com a convicção de que Portugal tinha talento e profissionalismo para se afirmar além-fronteiras. Desde então, a missão da Why Portugal é clara: criar oportunidades de internacionalização para artistas e profissionais portugueses, apoiando a sua presença em festivais, feiras, conferências e redes internacionais. A Why Portugal é financiada pela Audiogest e Fundação GDA, contando com apoios pontuais dos concursos da DGartes e outras instituições às quais apresentamos o plano anual de atividades (AICEP Portugal Global, Embaixadas de Portugal, etc.).

Após oito anos, o balanço até agora mostra quase 50 missões internacionais, 120 showcases e cerca de 500 artistas inscritos. Que resultados concretos esses números já traduziram em carreiras internacionais?
Felizmente são muitos os casos de sucesso e os nomes que ajudámos a promover ao longo destes quase 10 anos de atividade. Os resultados são muito positivos. Em 2025, por exemplo, Portugal foi o país em destaque na Folk Alliance International (Canadá), com 11 artistas em showcase. Destes, 6 confirmaram já resultados diretos: convites para festivais, propostas de digressão e contratos de agenciamento internacional. No Eurosonic (Países Baixos), um dos festivais profissionais mais prestigiados do mundo, artistas como MAQUINA, Travo e Marta Pereira da Costa regressaram com datas confirmadas em França, Alemanha, Bélgica e Hungria. Estes casos mostram como um showcase bem preparado pode transformar carreiras e abrir portas em múltiplos mercados.

A promoção que fazem dos artistas é, essencialmente, em que mercados ou países?
Atualmente já temos presença em vários continentes. A Europa continua a ser o mercado mais forte, uma vez que é aqui que estão concentradas a maioria das nossas missões, mas felizmente, temos conseguido ir conquistando o mundo. Fora da Europa já estivemos presentes no Canadá, no Folk Alliance, onde Portugal foi país de destaque em 2025 e esta foi especial porque foi a primeira missão enquanto país destaque fora da Europa. No NAMM, nos EUA e no Zandari Festa, na Coreia do Sul.

Podem destacar alguns casos de artistas ou projetos que conseguiram abrir portas relevantes graças ao apoio da Why Portugal?
Ana Lua Caiano: foi convidada por vários festivais do circuito profissional (Les Transmusicales 2023 em França, BIME 2023 em Espanha, BUSH 2024 na Hungria, Reeperbahn 2024 na Alemanha, Roskilde Festival 2024 na Dinamarca, entre muitos outros) e ainda nomeada para os Music Moves Europe Talent Award 2024.

MAQUINA: após o showcase no Eurosonic 2025, garantiram presença em mais de 10 festivais europeus, incluindo Linecheck (Itália), Dour Festival (Bélgica) e Kalorama (Portugal), além de uma tour nos Países Baixos.

Throes + The Shine: primeira presença portuguesa no Zandari Festa (Coreia do Sul), com apoio logístico e institucional da WHY Portugal e apoio financeiro do Consulado de Portugal em Seul (captado pela nossa equipa), abriu portas a novos contactos no mercado asiático.

Qual é o feedback que recebem dos agentes e programadores internacionais quando descobrem música portuguesa através da vossa plataforma?
As opiniões são unânimes e o que mais destacam é a qualidade artística, a diversidade de estilos e o profissionalismo. Muitos programadores ficam surpreendidos pela variedade e originalidade da música portuguesa, e afirmam que os artistas chegam bem preparados. Isso deve-se ao trabalho prévio de capacitação que e ao facto de os próprios artistas saberem que estas oportunidades são raras e valiosas.

Quais são hoje os maiores obstáculos para um artista português conseguir afirmar-se no mercado internacional?
Os principais obstáculos são os custos elevados de mobilidade e promoção, e o desconhecimento ainda existente sobre a música portuguesa em muitos mercados. Para artistas com poucos recursos, é difícil investir em alojamento, equipas técnicas e viagens, sendo que sair de Portugal é dispendioso. Esta costa mais a Oeste da Europa está isolada dos grandes centros europeus sem conexões de comboio. Viagens de avião com equipamentos e instrumentos musicais representam um custo elevado e a viagem por estrada representa um número acrescido de dias em viagem.

Há diferenças entre géneros musicais? Alguns estilos são mais facilmente exportáveis do que outros?
Cada género encontra oportunidades diferentes. O indie-rock, a eletrónica e o jazz têm mercados muito ativos na Europa, enquanto o fado e as músicas de raiz continuam a ser fortes cartões de visita pela sua singularidade. Mas a verdade é que qualquer género pode ter espaço, desde que exista qualidade, originalidade e contexto. Mais importante do que o estilo é a capacidade do projeto de comunicar bem a sua identidade.

O talento, por si só, não é suficiente muitas vezes. Que outros fatores consideram indispensáveis para transformar talento em carreira nacional ou internacional?
São indispensáveis trabalho, consistência e preparação. É preciso ter música editada e distribuída, presença digital cuidada, alguma experiência de palco e, se possível, uma equipa de apoio (manager, agente ou editora) que ajude a dar continuidade. A internacionalização exige persistência, profissionalismo, investimento e visão a longo prazo.

A sorte ainda tem um papel importante, ou tudo se resume a estratégia e trabalho consistente?
A sorte pode ajudar, mas acreditamos que a sorte se constrói com trabalho. Muitas das oportunidades que parecem “golpes de sorte” só acontecem porque houve preparação prévia, porque o artista estava no sítio certo e com o trabalho certo. Como se costuma dizer: a sorte dá muito trabalho.

De que forma as redes de contactos e o acesso a showcases internacionais fazem a diferença na prática?
É através destas redes que os artistas chegam a programadores, agentes e festivais. Um showcase internacional não é apenas um concerto: é uma montra estratégica, diante do público que decide programações e digressões. Um único concerto pode traduzir-se em várias datas confirmadas ou até numa parceria de longo prazo.

Dentro de Portugal a associação continua a ser relativamente pouco conhecida. Como explicam essa discrepância?
Quando criámos a Why Portugal, definimos como prioridade consolidar primeiro a rede internacional. Não fazia sentido levar artistas lá fora sem contactos sólidos. Por isso, investimos anos para construir credibilidade fora, junto dos nossos pares que já levavam anos de experiência à nossa frente. Hoje, que já temos resultados concretos e provas dadas, estamos também a focar-nos em Portugal: apresentar o nosso trabalho ao setor, envolver mais artistas e profissionais e afirmar a Why Portugal como parte essencial do ecossistema musical nacional.

Quais são os objetivos da Why Portugal para os próximos anos?
Queremos continuar a crescer além-fronteiras, sedimentar os atuais mercados onde estamos presentes, com comitivas cada vez maiores e conquistar novos palcos fora da Europa. Para isso, também realizamos missões de prospeção a novos eventos profissionais, tendo já acontecido uma este ano em França, está prevista uma outra, para novembro na Islândia e, no início do próximo ano, no Brasil.

Estão a pensar em expandir o vosso raio de ação para novos mercados fora da Europa?
Sim, essa expansão faz parte da nossa estratégia. Surge também da nossa participação nos vários eventos, muitas das parcerias e sinergias que se criam para o futuro são também fruto da nossa presença e participação no terreno, em busca de novas oportunidades de exportação. Depois de termos consolidado já vários mercados na Europa, queremos avançar para novos territórios.

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