Opinião

O que permanece quando tudo muda: as âncoras de valor em pessoas e marcas

Maria Duarte Bello

Vivemos numa época marcada pela velocidade da mudança, pela saturação de informação e pela exposição constante a novas exigências sociais, culturais e tecnológicas. Neste contexto, torna-se cada vez mais difícil manter estabilidade, coerência e confiança. É precisamente por isso que se torna pertinente refletir sobre as principais âncoras de valor numa pessoa ou numa marca. Se tudo muda, o que permanece? Que princípios, práticas e atitudes funcionam como pontos de estabilidade que conferem identidade e credibilidade?

Mais do que uma questão abstrata, esta reflexão toca dimensões fundamentais da vida contemporânea: por um lado, a necessidade humana de autenticidade, integridade e sentido; por outro, a exigência estratégica de diferenciação, relevância e reputação, essenciais à construção de uma marca pessoal ou organizacional sólida e duradoura.

Âncoras de valor numa perspetiva filosófica

Do ponto de vista filosófico, as âncoras de valor remetem para princípios essenciais que dão coerência à identidade de uma pessoa. Num mundo em que a imagem se tornou muitas vezes mais importante do que a substância, falar de autenticidade é quase contracorrente. A autenticidade significa manter fidelidade a si próprio, agir em conformidade com convicções profundas e não moldar inteiramente a identidade às expectativas externas. Quando há esta coerência entre quem se é e o que se mostra, gera-se confiança e respeito.

Outra âncora essencial é a integridade. Mais do que um valor moral abstrato, a integridade traduz-se na capacidade de agir de acordo com princípios, mesmo em situações de pressão ou adversidade. É um eixo de orientação que garante continuidade ao longo do tempo. A estas duas dimensões soma-se ainda a responsabilidade: a consciência de que cada ação individual tem impacto na vida dos outros e na sociedade. Juntas, estas âncoras permitem que uma pessoa construa uma identidade sólida, resistente à volatilidade das circunstâncias.

Âncoras de valor numa perspetiva estratégica

Se a perspetiva filosófica se centra no ser, a perspetiva estratégica foca-se no modo como esse ser é percecionado e valorizado pelos outros. É aqui que o conceito de personal branding ganha relevância, mas também a lógica do branding corporativo.

No plano estratégico, as principais âncoras de valor são o propósito, a credibilidade, a relevância e a reputação. O propósito define a razão de existir de uma pessoa ou de uma marca, funcionando como bússola orientadora das suas ações. Sem propósito, a identidade tende a diluir-se em comportamentos oportunistas.

A credibilidade, por sua vez, resulta da competência e da capacidade de cumprir promessas. Uma marca ou um indivíduo que se mostra inconsistente perde rapidamente confiança. A relevância surge da capacidade de responder às necessidades e expectativas do público ou do contexto em que se insere. De nada serve uma identidade bem construída se não for significativa para os outros. Por fim, a reputação, talvez a âncora mais poderosa, corresponde à perceção social acumulada ao longo do tempo. Não é autoproclamada, mas reconhecida pelos outros através de experiências, narrativas e testemunhos.

Para as marcas, estas âncoras são críticas. Num mercado saturado de estímulos, apenas aquelas que se mantêm consistentes, que comunicam de forma autêntica e que alinham as suas práticas com valores reconhecidos pela sociedade conseguem sobreviver. Para as pessoas, a lógica é semelhante: a exposição digital pode gerar visibilidade imediata, mas só a autenticidade, a integridade e a reputação permitem transformar notoriedade em reconhecimento duradouro.

Refletir sobre as âncoras de valor numa pessoa ou numa marca é, em última análise, refletir sobre aquilo que resiste ao tempo e que gera confiança num mundo em permanente mutação. De um lado, encontramos a dimensão filosófica, que sublinha a importância da autenticidade, da integridade e da coerência como bases de uma vida com sentido. Do outro, a dimensão estratégica, que evidencia a necessidade de propósito, credibilidade, relevância e reputação como fatores decisivos para a construção de uma imagem sólida e diferenciada.

Assim, falar de âncoras de valor continua a ser não apenas pertinente, mas urgente. Num tempo em que tudo parece efémero e descartável, são estas âncoras que asseguram continuidade, confiança e impacto duradouro. São elas que permitem a pessoas e marcas navegar na incerteza sem perder a essência, adaptar-se sem perder a identidade e inovar sem sacrificar aquilo que verdadeiramente as define.

Maria Duarte Bello,
CEO da MDB-Coaching e Gestão de Imagem, PhD Lecturer, expert na Marca Pessoal, Trainer em Public Speaking e Media Training

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