Nos últimos meses, várias contas de influenciadores financeiros portugueses têm sido desativadas de forma súbita pelo Instagram. Entre eles, alguns dos nomes mais reconhecidos no panorama da literacia financeira nacional, que diariamente chegavam a milhares de pessoas com conteúdos pedagógicos sobre poupanças, créditos e investimentos.
O fenómeno merece atenção, porque este tipo de abordagem coloca dois problemas sérios.
O primeiro é a ausência de transparência. Ao eliminar contas inteiras, em vez de sinalizar publicações específicas que possam violar normas, retira-se aos criadores de conteúdo a oportunidade de corrigir, melhorar ou adaptar a sua comunicação.
O segundo problema é social: o desaparecimento de páginas dedicadas à literacia financeira empobrece o espaço público num momento em que Portugal tem assumido, a nível governamental, o compromisso de integrar a educação financeira no ensino obrigatório.
É importante sublinhar que a regulação tem o seu papel. Garantir que não há confusão entre aconselhamento personalizado e partilha de conhecimento genérico é fundamental para proteger os consumidores.
Mas a regulação não pode ser confundida com silenciamento. Bloquear contas inteiras significa reduzir a diversidade de vozes e dificultar o acesso da população a informação que, muitas vezes, não é encontrada nos canais tradicionais.
Portugal continua a enfrentar níveis reduzidos de conhecimento sobre dinheiro. Uma população menos informada tende a tomar piores decisões financeiras. E retirar do espaço digital quem procura educar, ainda que com estilos diferentes, é um passo atrás neste combate.
O caminho desejável passa por um maior diálogo entre reguladores, plataformas e criadores de conteúdo.
Em vez de punições opacas, deveria privilegiar-se a comunicação clara: identificar as publicações em incumprimento, permitir correções voluntárias e criar linhas orientadoras mais objetivas. Só assim será possível conjugar três dimensões fundamentais: proteção do consumidor, liberdade de expressão e promoção da literacia financeira.
A educação financeira não deve ser silenciada; deve ser potenciada. Afinal, quanto mais informadas estiverem as pessoas, mais responsável e sustentável será o sistema financeiro como um todo.
João Pereira,
CEO da Gestlifes