Estrela de cinema da década de 1960 Claudia Cardinale morre. Tinha 87 anos

A atriz franco-italiana Claudia Cardinale, um ícone do cinema dos anos 1960, faleceu esta terça-feira, "aos 87 anos, junto dos seus filhos", em Nemours, perto de Paris, onde residia, anunciou o seu agente à agência de notícias francesa AFP. Nascida em Tunes, Claudia Cardinale trabalhou com os maiores atores e realizadores, como Luchino Visconti, Federico…
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A atriz franco-italiana Claudia Cardinale, um ícone do cinema dos anos 1960, faleceu aos 87 anos, junto dos seus filhos, em Nemours, perto de Paris, onde residia.   
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A atriz franco-italiana Claudia Cardinale, um ícone do cinema dos anos 1960, faleceu esta terça-feira, “aos 87 anos, junto dos seus filhos”, em Nemours, perto de Paris, onde residia, anunciou o seu agente à agência de notícias francesa AFP.

Nascida em Tunes, Claudia Cardinale trabalhou com os maiores atores e realizadores, como Luchino Visconti, Federico Fellini, Richard Brooks, Henri Verneuil e Sergio Leone.

 “Ela deixa-nos o legado de uma mulher livre e inspiradora, tanto na sua trajetória como mulher, quanto como artista”, afirmou o seu agente Laurent Savry numa mensagem enviada à AFP.

A atriz, que entrou no filme do realizador português Manoel de Oliveira, Gebo e a Sombra, subjugou Visconti e Fellini, encantou Delon, Belmondo e Mastroianni.

 Numa entrevista à agência Lusa, quando esteve na Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012 para a pré-estreia do filme “O Gebo e a Sombra”, obra que junta os dois decanos do cinema europeu, a “musa” de Manoel de Oliveira afirmou ter realizado um desejo “já antigo”, filmar com o realizador português, um homem que descreveu como sendo “extraordinário” e “cheio de energia”.

Três anos mais tarde, em 2015, numa reação à morte do realizador, Claudia Cardinale disse que Manoel de Oliveira “era um homem incrível, com uma cultura imensa e uma memória extraordinárias. Era realmente um amigo e um grande encenador. A mulher dele também é fabulosa, eles formavam um casal belíssimo”, acrescentou.

A “encarnação da beleza italiana”, Claudia Cardinale iluminou com sua presença mais de 150 filmes, incluindo monumentos como “O Leopardo” e “Oito e Meio”.

Selvagem e Maria rapaz na sua juventude, esta italiana da Tunísia, naturalizada francesa, tornou-se, sem querer, uma estrela de cinema internacional, premiada com um Leão de Ouro em Veneza, em 1993, e um Urso de Ouro em Berlim, em 2002.

 “Ela é a única rapariga simples e saudável neste meio de neuróticos e hipócritas”, dizia dela Marcello Mastroianni na altura.

A atriz atuou no melhor do renascimento italiano (Bolognini, Zurlini, Squitieri), brilhou em Hollywood (Edwards, Brooks, Leone), na França (Broca, Verneuil) e até na Alemanha, com Werner Herzog, e o seu maldito “Fitzcarraldo”.

“Tive a sorte de começar nos momentos mágicos do cinema. Todos os grandes cineastas foram meus mestres e eu, nunca tive de pedir nada a ninguém. Foram eles que me procuraram”, afirmou aos 74 anos na France Culture.

 Nascida em La Goulette, perto de Túnis, a 15 de abril de 1938, filha de uma francesa e de um siciliano, Claude Joséphine Rose Cardinale falava francês, árabe e siciliano, mas foi no cinema italiano que começou.

Aos 17 anos, num concurso de beleza, que venceu sem sequer ser candidata, virou a sua vida de pernas para o ar. “A mulher italiana mais bonita de Túnis” ganhou uma viagem ao Festival de Veneza onde causou sensação.

“Eu não queria fazer filmes. Era a minha irmã que queria. Mas insistiram tanto (…) que o meu pai desistiu”, confidenciou à France Inter.

Com um contrato com o produtor Franco Cristaldi, ela torna-se uma figura do cinema.

Claudia Cardinale tinha apenas 22 anos quando Visconti a faz filmar em “Rocco e os seus irmãos” (1960). Ele faz com que ela pinte os olhos de preto e ensina-lhe o ofício.

A atriz irá segui-lo por todo o lado. Em “O Leopardo”, em 1963, ela brilha entre Burt Lancaster e Alain Delon. Em paralelo, filma outra obra-prima, “Oito e Meio”, de Fellini.

“Visconti, preciso, meticuloso, como no teatro, falava-me em francês e queria-me morena com cabelo comprido. Fellini, desorganizado e sem argumento, falava-me em italiano e queria-me mais loira, com cabelo curto. Estes são os dois filmes mais importantes da minha vida”, contou a atriz ao diário francês Le Monde.

Aos 23 anos, faz uma entrada estrondosa em Cannes com “A rapariga da mala”, de Zurlini, e “O mau caminho” de Bolognini. E chegam a confundi-la com uma Bardot morena.

Dez anos mais tarde, “BB” e “CC” atuarão juntas na poeira em “As Pétroleuses”.

“Tornei-me a heroína de um conto de fadas, o símbolo de um país cuja língua eu mal falava”, escrevia a atriz na sua autobiografia “Minhas Estrelas”.

Reivindicada por Hollywood, onde recusa instalar-se, ela encanta os americanos em “A pantera cor-de-rosa”, depois em “O maior circo do mundo”, de Henry Hathaway, onde interpreta a filha de Rita Hayworth.

O napolitano Pasquale Squitieri, seu companheiro durante quase 30 anos, seu “único amor” e pai da sua filha Claudia, fez com que ela realizasse dez filmes de 1974 a 2011.

Na entrevista de 2012 à Lusa dizia querer trabalhar até morrer, como Manoel de Oliveira, mas sem olhar para trás.

“Não sou uma mulher nostálgica. Penso que se uma coisa não foi feita é porque o destino assim quis. Mas tenho sorte em continuar a trabalhar. Faço quatro filmes por ano.”, concluiu.

com Lusa

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