“Vivemos demasiados anos no convencimento da paz perpétua, a paz é um intervalo”, o que fez com que “durante demasiado tempo se desinvestisse” na defesa em Portugal – com a consequência lógica de que a atuação do exército tenha sido desviada para outras funções. Que são, evidentemente “exercícios de soberania”, disse o ministro da Defesa, Nuno Melo, no âmbito da ‘chave’ ‘Investir na defesa da Europa com a extrema-direita a ganhar peso?’, parte da conferência de aniversário do Jornal Económico.
“Nós trouxemos a defesa para a primeira linha das políticas do Governo”, bem antes de qualquer relatório Draghi ou de qualquer urgência internacional que entretanto se tenha verificado, lembrou Nuno Melo, para discorrer sobre o aumento dos salários no segmento militar. Houve uma inversão da percepção do que é a importância do exército e da defesa. Sendo certo que “o cumprimento da meta de 2% do PIB, seis mil milhões de euros, na defesa” só será cumprido agora, com o atual Governo, com 1,2 mil milhões de euros para gastar em bens, infraestruturas e equipamentos. O governante explica que dos seis mil milhões de investimento em defesa previstos para este ano 70% são para “investir em defesa pura e dura” – desta fatia serão afetados 20% para bens, equipamentos e infraestruturas (1,2 mil milhões) – e “30% em outras áreas relacionadas com áreas de soberania relacionadas com a tutela, por exemplo pensões”.
“Estamos a investir em linha com o que a NATO pede, não apenas em armamento, mas envolvendo as indústrias de defesa. Encaramos a necessidade de investir como uma oportunidade para Portugal. Estamos a pensar em materiais de duplo uso: um helicóptero pode ser usado em combate, mas também em urgência médica ou no combate aos incêndios”, especificou Nuno Melo.
Para assegurar que “aproveitamos essa oportunidade, fizemos uma inventariação das necessidades, uma calendarização”, que tem “um retorno para a indústria”, referiu. “estamos a investir numa constelação de satélites, 12, que serão vendidos para o mundo inteiro” e que são um exemplo de aposta em tecnologia que pode ser feito em Portugal. Os estaleiros de Viana do Castelo são outro exemplo, disse ainda Nuno Melo. As compras de aeronaves são ainda outro: é uma compra de 200 milhões de euros, dos quais 70 milhões serão investidos em Portugal. Os KC390 fizeram o milagre. “Nas aquisições de equipamentos queremos envolver a indústria, mas queremos investir em produção, manutenção – em pouco tempo, a indústria será um contribuinte líquido para a economia portuguesa”, afirmou Nuno Melo.
Nuno Melo mostrou-se pouco apto a concordar com a teoria segundo a qual os excessos belicistas e o aumento das tentações extremistas – nesta fase e na Europa apenas de direita – pode vir a dar num enorme desastre no ‘velho’ continente. “Acredito que, se resolvermos os problemas das pessoas, haverá um retorno. O aventureirismo perderá terreno, o aventureirismo que leva ao aumento dos extremismos. Temos de dar respostas concretas para problemas concretos, fazendo perder sentido aos extremismos – e eu sou um moderado. Se houvesse uma fórmula mágica para combater extremismos, seria mais fácil – o norte tem de ser fazer o que está certo. Os extremismos trouxeram a guerra, a moderação trouxe a paz”, concluiu.