É muito importante colocar a União Europeia nos desafios estratégicos de Portugal e não há desenvolvimento económico sem sistema financeiro que transporta poupança para os agentes económicos que produzem transformação. Este foi um dos principais temas debatidos no painel “Chave um. Fogo Cruzado. O sistema financeiro europeu: quase tudo por fazer?”, que contou com a presença de Carlos Costa, antigo governador do Banco de Portugal e Carlos Albuquerque, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos, e autor do livro “Os Bancos Portugueses e o Mecanismo Único de Supervisão (SSM)”, numa conferência dedicada ao presente e ao futuro da União Europeia, na AESE Business School.
Nesta conferência, que marca o nono aniversário do JE, serão apresentadas nove chaves para compreender a encruzilhada em que a União Europeia se encontra — temas que vão das migrações à união bancária, do crescimento do populismo à própria validade da União. “A Europa é um região excedentária em poupança, o que explica a nossa exposição ao risco, particularmente ao norte-americano.
O nosso sistema financeiro vive sempre no arame do ponto de vista do risco porque está a aceitar que a alavancagem das famílias ou empresas esteja nos limites. Se nós não atacarmos de frente o problema da abertura de capital do setor empresarial, da necessidade do crédito às famílias dimensionado em função da capacidade de reembolso, ciclicidade do rendimento e empresas colocamos os bancos de baixo de foco”, diz Carlos Costa, antigo governador do Banco de Portugal.
Carlos Albuquerque, por outro lado, defende que todos os países têm de se assumir riscos e refere o excesso de liquidez na banca. “Em Portugal temos 90 mil milhões de excesso de liquidez na banca. Os empréstimos a empresas são inferiores a 2014. Na Europa, as poupanças estão em depósitos. Onde está a assumpção de risco do País? A banca vive numa lógica de gestão de ativos e passivos”, afirma o administrador da CGD, sublinhando que o nível de imparidades dos três maiores bancos portugueses (BCP, CGD, Novo Banco) entre 2008 e 2017 foi de 35 mil milhões de euros.
Carlos Albuquerque refere ainda que neste momento “só há um banco pan-europeu e é o Revolut”. “Não há bancos pan-europeus porque as realidades bancárias são muito nacionais e existem muitas interferências nacionais no mercado bancário”, diz o administrador da CGD. Sobre este tema, Carlos Costa considera que a Europa foi construída com base no crédito. “Para alguém que se quer afirmar no mercado pan-europeu tem de recolher depósitos, ter a confiança dos depositantes e concorrer com os mercados locais. A banca europeia de crédito passa por fusões e aquisições”, acrescenta o antigo governador do Banco de Portugal.
Carlos Costa diz ainda que a função primordial na Europa é a de uma lógica de redistribuição. “Não há lógica de acumulação de poupança para fazer face ao futuro através de fundos de pensões ou seguros de capitalização. E não há inovação sem risco”. Em relação ao tema do Novo Banco, ambos os participantes da conferência partilham da mesma opinião: “É uma história de sucesso”.