Portugal reconheceu o Estado da Palestina. Saiba quais os países que também acabam de o fazer

Decorre hoje, segunda-feira, em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, a Conferência de Alto Nível, organizada pela França e pela Arábia Saudita para promover uma solução para o conflito que opõe Israel e a Palestina. Foi anunciado que, na conferência de hoje, que antecede a semana de alto nível da 80ª Assembleia-Geral das Nações…
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Portugal assina hoje, em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, a Declaração de Reconhecimento do Estado da Palestina. Reino Unido, Austrália, França também estão na lista dos 10 países que se juntam agora aos quase 150 que já reconhecem como Estado aquele território.
Economia

Decorre hoje, segunda-feira, em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, a Conferência de Alto Nível, organizada pela França e pela Arábia Saudita para promover uma solução para o conflito que opõe Israel e a Palestina. Foi anunciado que, na conferência de hoje, que antecede a semana de alto nível da 80ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, que se inicia amanhã, terça-feira, dez países iriam assinar a Declaração Oficial de Reconhecimento do Estado da Palestina. Portugal, que já anunciou ontem este reconhecimento oficial, é um dos países a assinar o documento, e torna-se o 13.º país da União Europeia a reconhecer o Estado palestiniano.

Além de Portugal e da França, também assinam hoje o documento o Reino Unido, a Austrália, o Canadá, o Luxemburgo, Andorra, Bélgica, Malta e San Marino. Benjamin Netanyahu desloca-se aos Estados Unidos para intervir na 80.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, estando também previsto um encontro com o Presidente norte-americano e aliado, Donald Trump.

Segundo a agência Lusa, são quase 150 os países reconhecem o Estado palestiniano em todo o mundo, sendo que Reino Unido e Canadá tornaram-se os primeiros do G7 , o grupo das sete maiores economias desenvolvidas do mundo, a fazê-lo. “Hoje, para reavivar a esperança de paz e de uma solução de dois Estados, declaro claramente, como primeiro-ministro deste grande país, que o Reino Unido reconhece oficialmente o Estado da Palestina”, anunciou Keir Starmer, numa declaração através de vídeo publicada nas redes sociais.

O chefe do Governo britânico afirmou ainda que “Perante o crescente horror no Médio Oriente, agimos para manter viva a possibilidade da paz e de uma solução de dois Estados. Isto significa um Israel seguro e protegido ao lado de um Estado palestiniano viável”. Starmer avisou ainda que, “com as ações do Hamas, o Governo israelita a intensificar o conflito e a construção de colonatos a ser acelerada na Cisjordânia, a esperança de uma solução de dois Estados está a desaparecer”. O primeiro-ministro negou que esta decisão seja “uma recompensa” para o movimento islamita palestiniano Hamas, respondendo a críticas do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e da líder do Partido Conservador, principal partido da oposição britânica.

Para o primeiro-ministro do Reino Unido, “o implacável e crescente bombardeamento de Gaza pelo Governo israelita, a ofensiva das últimas semanas, a fome e a devastação são absolutamente intoleráveis”.

“O Hamas é uma organização terrorista brutal. O nosso apelo por uma solução genuína de dois Estados é exatamente o oposto da sua visão odiosa”, defendeu, sublinhando que o Hamas “não pode ter futuro”, nem qualquer “papel no governo ou na segurança” de um futuro Estado da Palestina.O chefe do executivo britânico anunciou que Londres irá “sancionar outras figuras do Hamas nas próximas semanas”. Starmer deplorou ainda a “crise humanitária provocada pelo homem em Gaza”, que “atinge novos níveis”.

Para o primeiro-ministro do Reino Unido, “o implacável e crescente bombardeamento de Gaza pelo Governo israelita, a ofensiva das últimas semanas, a fome e a devastação são absolutamente intoleráveis”. “Esta morte e destruição horrorizam-nos a todos. Tem de acabar”, disse, enquanto instou novamente Israel a levantar as “inaceitáveis restrições” à entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano. Starmer deixou um apelo ao Governo de Benjamin Netanyahu: “Pare com essas táticas cruéis e deixe a ajuda chegar”.

Numa carta publicada no sábado, familiares de reféns ainda mantidos em Gaza condenaram a decisão do Governo britânico de reconhecer o Estado palestiniano, acusando o primeiro-ministro, Keir Starmer, de ter “complicado drasticamente os esforços” para trazer os respetivos “entes queridos de volta para casa”.

Canadá e Austrália também anunciaram ontem o reconhecimento

Este anúncio por parte do Reino Unido decorreu ontem quase em simultâneo com o anúncio do Canadá e da Austrália. “O Canadá reconhece o Estado da Palestina e oferece a sua parceria na construção da promessa de um futuro pacífico tanto para o Estado da Palestina como para o Estado de Israel”, anunciou, num comunicado, o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney. O Governo canadiano admitiu não ter ilusões de que este passo “é uma panaceia”, mas afirmou-se “firmemente alinhado com os princípios de autodeterminação e direitos humanos fundamentais refletidos na Carta das Nações Unidas e com a política consistente do Canadá há gerações”.

Para Camberra, a “organização terrorista Hamas não pode ter qualquer papel na Palestina”.

“O reconhecimento do Estado da Palestina, liderado pela Autoridade Palestiniana, fortalece aqueles que buscam a coexistência pacífica e o fim do Hamas”, defendeu Carney, para quem esta decisão “não legitima de forma alguma o terrorismo, nem é uma recompensa por ele” – respondendo assim a críticas do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro canadiano recordou que a Autoridade Palestiniana – atualmente no poder em partes da Cisjordânia – “assumiu compromissos diretos com o Canadá e a comunidade internacional sobre reformas muito necessárias, incluindo a reforma fundamental da sua governação, a realização de eleições gerais em 2026 nas quais o Hamas não possa participar e a desmilitarização do Estado palestiniano”.

No mesmo sentido, o Governo australiano lembrou que “a comunidade internacional estabeleceu requisitos claros para a Autoridade Palestiniana”, cujo Presidente, Mahmud Abbas, “reiterou o reconhecimento do direito de Israel a existir e apresentou garantias diretas à Austrália, incluindo compromissos de realizar eleições democráticas e implementar reformas significativas no financiamento, na governação e na educação”. Para Camberra, a “organização terrorista Hamas não pode ter qualquer papel na Palestina”. “Já está em curso um trabalho crucial em toda a comunidade internacional para desenvolver um plano de paz credível que permita a reconstrução de Gaza, fortaleça a capacidade do Estado da Palestina e garanta a segurança de Israel”, sublinhou o Governo australiano.

Caminho para a paz justa e duradoura, diz Mahmud Abbas

O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, considerou ontem que o reconhecimento do Estado da Palestina pelo Reino Unido é um passo em direção a “uma paz justa e duradoura”. “O Presidente do Estado palestiniano, Mahmud Abbas, saúda o anúncio do reconhecimento pelo Reino Unido do Estado palestiniano independente, afirmando que se trata de um passo importante e necessário para a concretização de uma paz justa e duradoura”, indicou a presidência, num comunicado citado pela agência palestiniana Wafa.

Para Abbas, o reconhecimento “abrirá o caminho para a implementação da solução de dois Estados”, que permitiria à Palestina viver “ao lado do Estado de Israel em segurança, paz e boa vizinhança”. O líder palestiniano sublinhou que a prioridade atual é alcançar um “cessar-fogo, a entrada de ajuda humanitária, a libertação de todos os reféns e prisioneiros”, bem como “a retirada total israelita da Faixa de Gaza” e “o fim da atividade de colonatos e do terrorismo de colonos”.

“Vocês estão a oferecer uma enorme recompensa ao terrorismo. E tenho outra mensagem para vocês: isso não vai acontecer. Nenhum Estado palestiniano será criado a oeste do [rio] Jordão”, disse ontem Benjamin Netanyahu. 

Na sequência destes anúncios, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, disse ontem, num vídeo dirigido aos líderes ocidentais, nomeadamente do Reino Unido, Canadá e Austrália, que tinha uma mensagem clara para os líderes que reconhecem o Estado palestiniano: “Vocês estão a oferecer uma enorme recompensa ao terrorismo. E tenho outra mensagem para vocês: isso não vai acontecer. Nenhum Estado palestiniano será criado a oeste do [rio] Jordão”, acrescentou. Benjamin Netanyahu afirmou ainda que o seu Governo vai expandir a colonização judaica na Cisjordânia ocupada, em resposta ao reconhecimento de um Estado palestiniano por parte de países ocidentais.

“Durante anos, impedi a criação desse Estado terrorista, apesar das enormes pressões, tanto dentro do país como internacionalmente”, disse Netanyahu, referindo: “Fizemo-lo com determinação e sabedoria política”. “Duplicámos os colonatos judeus na Judeia e Samaria [como Israel designa a Cisjordânia] e continuaremos nesse caminho”, acrescentou.

(Com Lusa)

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