No âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, a Bolt organizou um evento no Técnico Innovation Center, em Lisboa, dedicado à mobilidade e que juntou mais de 500 participantes entre motoristas TVDE, frotas e operadores, e representantes do setor da mobilidade.
A propósito do Dia da Mobilidade by Bolt, Mário de Morais, responsável de Ride-hailing da empresa em Portugal, conta à Forbes quais são os principais desafios do setor.
Que alterações legislativas ou regulatórias são hoje mais urgentes para desbloquear o verdadeiro potencial da mobilidade partilhada em Portugal?
No seu todo, somos da opinião que já existe uma base legislativa bastante robusta no que toca aos vários tipos de mobilidade partilhada. Nesse sentido, Portugal e os seus decisores têm tomado passos significativos para assegurar uma regulação adequada. Ainda assim, sabemos que há espaço para melhorar. Um passo significativo foi o protocolo de partilha de dados que lançámos com o IMT, que permitiu trazer maior transparência, segurança e regulação ao setor. Por um lado, tem fornecido dados concretos sobre o setor dos TVDE em Portugal pela primeira vez e, por outro, existe agora uma maior supervisão e segurança, porque todos os motoristas, veículos e operadores são verificados semanalmente. Na verdade, o objetivo deve ser que a adesão a este protocolo seja obrigatória para qualquer plataforma que venha a operar no país. A acrescentar, nos TVDE, por exemplo, acreditamos que o setor – principalmente os motoristas e frotas parceiras – beneficiariam da possibilidade de publicidade nos veículos, porque seria um rendimento extra para os mesmos. Por fim, achamos que deve haver lugar para discutir a maior longevidade dos veículos TVDE, hoje restritos a um ciclo de serviço máximo de sete anos; em síntese, esta medida traria uma maior estabilidade financeira e maior sustentabilidade aos parceiros.
“Existe agora uma maior supervisão e segurança, porque todos os motoristas, veículos e operadores são verificados semanalmente”.
TVDE, trotinetes, bicicletas: qual destas áreas de mobilidade considera que terão um maior crescimento nas principais cidades portuguesas?
Uma excelente questão, sobretudo porque acho que todas têm potencial para continuar a evoluir. O cerne reside mesmo na premissa das infraestruturas e na preparação ou adaptação das cidades a uma mobilidade mais elétrica e partilhada. O TVDE sem dúvida continuará a permear a nossa vida pela sua conveniência de serviço, mas acho que os meios de micromobilidade verão uma nova onda de adoção, à medida que as infraestruturas das próprias cidades forem evoluindo. Essa visão de uma cidade interconectada através da mobilidade partilhada foi o que nos levou a fazer uma aposta diferenciada no Bolt Plus, o nosso serviço de subscrição cujo foco é nessa vertente. A mobilidade deve ser, acima de tudo, um serviço para as pessoas, e é crucial haver agregadores verdadeiramente integradores desses serviços – que é onde nos queremos posicionar.
“Os meios de micromobilidade verão uma nova onda de adoção, à medida que as infraestruturas das próprias cidades forem evoluindo”.
No caso da Bolt, qual é a área de negócio que tem maior expressão para o negócio da empresa? É alguma ligada à mobilidade ou é a área de negócio da restauração?
Diria que a Bolt é uma plataforma de mobilidade nas suas diferentes vertentes, dado que na verdade a questão do serviço de entrega de comida também se pode – e deve – incluir na equação.
Como avalia o modo como tem decorrido a possibilidade de os utentes com títulos de transporte (passes Navegante) utilizarem trotinetes? Qual a adesão? O projeto vai evoluir? De que forma?
É mais um passo importante tomado por Lisboa para o que referi há pouco de uma mobilidade integrada. Permitir que utilizadores do passe Navegante consigam usar micromobilidade partilhada é um incentivo forte para começarmos a incutir um desapego dos carros particulares, ao mesmo tempo que promove uma cultura de uso de soluções robustas de primeira e última milha. Quanto aos resultados operacionais em si, ainda é cedo para conseguirmos ter uma visão concreta dada a introdução recente, mas ao longo da segunda metade de 2025 haverá certamente algo a dizer sobre o assunto.
“Permitir que utilizadores do passe Navegante consigam usar micromobilidade partilhada é um incentivo forte para começarmos a incutir um desapego dos carros particulares”.
Olhando para o futuro, com a automação a ganhar terreno, como é que os condutores – quer de TVDE, quer de táxi – se estão a preparar para uma possível disrupção nos seus modelos de trabalho?
A automação é uma realidade que está já a ser testada em países europeus, e é certo que mais cedo ou mais tarde chegará ao mercado português. Nós, na Bolt, queremos ser o agregador de todas as soluções de mobilidade. No entanto, isto não deverá acontecer para já; a mudança será gradual, a nosso ver, e o mercado de TVDE e táxis irá com certeza adaptar-se progressivamente.
Como é que os operadores de mobilidade partilhada estão, na prática, a reduzir a pegada ecológica? Qual a quota elétrica da frota de TVDE ao serviço da Bolt?
Em Portugal, vemos uma crescente adoção por parte das frotas parceiras. Hoje, com dados do IMT é possível perceber que 36% dos TVDE a atuar em Portugal são veículos elétricos. Isto reflete a realidade, claro está, também na nossa plataforma.
A nossa aplicação hoje acolhe veículos elétricos, híbridos e plug-in em mais de 70 cidades entre a Europa e África, com um ritmo bastante saudável de expansão. As maiores taxas de adoção de EVs, a operar com a Bolt, são em países nórdicos e da Europa ocidental, como Lisboa, Paris, Londres, Amesterdão, Helsínquia e Oslo; assim o é porque as políticas públicas de adoção destes veículos têm incentivado as frotas parceiras nesse sentido. Além do mais, a Bolt está comprometida em tornar-se uma empresa net-zero (neutra em emissões de carbono) até 2040, e estes nossos objetivos foram inclusive validados pela Science Based Targets Initiative (SBTi).
Que investimentos a Bolt conta fazer nos próximos meses, em Portugal, em cada um dos domínios em que atua?
Portugal tem sido um dos mercados de maior relevo para a Bolt. Desde que começámos a operar em 2018, o crescimento tem sido sempre na casa dos dois dígitos e isso tem-nos permitido acrescentar verticais de negócio e a expandi-los. Atualmente a nossa operação de TVDE já cobre todos os distritos, e somos inclusive a única plataforma a atuar nos Açores – isto pelo nosso compromisso em trabalhar com frotas parceiras para veículos exclusivamente elétricos no arquipélago. Com a reintrodução de táxis no Porto através de uma parceria com a RadiTáxis, queremos tentar expandir esta opção a mais regiões no país. As nossas trotinetes estão em 15 cidades neste momento, tendo sido também as primeiras a chegar aos Açores, neste caso Ponta Delgada, e queremos subir esse número brevemente.
“Portugal tem sido um dos mercados de maior relevo para a Bolt. Desde que começámos a operar em 2018, o crescimento tem sido sempre na casa dos dois dígitos”.
A Bolt Food atua já em 20 cidades de norte a sul, com mais expansões a acontecer até ao fim do ano (e chegámos agora em junho também à ilha de São Miguel). Para lá deste serviço direto ao cliente, temos ainda um vertical de crescimento relevante no nosso país, a Bolt Business – que, sumariamente, alberga e oferece as nossas soluções para as empresas, ou seja, é o nosso braço B2B (business-to-business). Por fim, gostaria de destacar o investimento que estamos a fazer em 18 mercados, entre os quais Portugal, na questão da segurança – são 100 milhões a nível global até 2027 para novas funcionalidades, melhoria de processos e reforço das capacidades das nossas várias equipas de segurança.