O Grupo BertrandCírculo apresentou à imprensa, esta quarta-feira, as novidades que tem previsto lançar nestes próximos meses de setembro, outubro e novembro. O evento decorreu no MUDE – Museu do Design, em Lisboa. Uma das novidades mais sonantes é a publicação de “Huris”, obra proibida na Argélia e cujo autor, Kamel Daoud, tem sobre si uma sentença de morte imposta pelos fanáticos religiosos islâmicos. É publicada em Portugal hoje: 11 de setembro, uma data que traz também à memória o ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque, um dos piores atentados terroristas cometidos por uma organização fundamentalista islâmica.

Na apresentação das novidades literárias, os responsáveis da BertrandCírculo destacaram as obras de sete das editoras do grupo: Bertrand, 11X17, Pergaminho, ArtePlural, Temas e Debates, Quetzal e Contraponto.
Depois das boas-vindas dadas por Eduardo Boavida, Diretor Editorial da Bertrand, os diretores de cada uma das editoras em questão passaram em relance os destaques de uma rentrée literária que traz novas obras de António Damásio, Frederico Lourenço, José Eduardo Agualusa, José Luís Peixoto, J. Rentes de Carvalho e José Tolentino Mendonça. O catálogo inclui dezenas de apostas, contando também com novidades de Ana Varela, Irene Flunser Pimentel, Maria João Fialho Gouveia, Luísa Castel-Branco, Pedro Andersson, Raquel Varela, Rafaela Ferraz e Vital Moreira.
“Huris”, de Kamel Daoud
Em setembro, a Bertrand arranca com a publicação de “Huris”, de Kamel Daoud, vencedor do Prémio Goncourt 2024 (chega precisamente hoje às livrarias portuguesas).
A história é um relato ficcional dos massacres durante a “década negra” da Argélia (1992-2002), centrado em Aube, uma jovem grávida que conta à filha por nascer o massacre da sua família, a 31 de dezembro de 1999, por islamitas que tentaram cortar-lhe a garganta, deixando-a desfigurada e muda.
O romance ganhou o Prémio Goncourt, mas foi proibido no país onde nasceu. Pela sua posição muito crítica em relação ao fanatismo religioso, que considera um obstáculo para a Argélia e um inimigo da liberdade intelectual e de expressão, Kamel Daoud foi alvo de uma ‘fatwa’, em 2014.
Kamel Daoud, que está sob proteção de França, país onde reside desde 2020 “exilado pela força das coisas” – nas suas palavras -, já havia recebido o Goncourt de primeiro romance em 2015 com “Meursault, contra-investigação” (obra escrita como uma resposta a “O estrangeiro”, de Albert Camus), sendo um dos principais nomes envolvidos na libertação do escritor franco-argelino Boualem Sansal detido na Argélia há dez meses.
Ainda na Bertrand, “Porque Se Enganam os Intelectuais”, de Samuel Fitoussi, será uma das novidades em setembro. Trata-se de uma obra através da qual o autor nos mostra como a ideologia pode impedir o cérebro de funcionar adequadamente, pondo o poder argumentativo ao serviço da má-fé e do conformismo.
Em outubro, de Thrity Umrigar chega “O Canto dos Corações Rebeldes”, um romance que conquistou milhões de leitores em todo o mundo. Na BertrandKids, assistiremos ao lançamento de “Betty Bum – Votem em mim!”, a estrela de uma nova coleção infantojuvenil, da autoria de Capucine Lewalle e Chiara Baglioni.
Três vezes Stephen King
Para celebrar os 50 anos de “Salem’s Lot – A Hora do Vampiro”, de Stephen King, chega uma nova edição às livrarias com design gráfico especial. A 6 de novembro, com estreia simultânea nos cinemas e nas livrarias, a Bertrand publica “Jogo de Sobrevivência – The Running Man”, uma obra distópica que se passa (imagine-se…) em 2025, numa América governada por um governo totalitário que controla a sociedade através do entretenimento. E para os fãs do mestre do terror, a Bertrand disponibilizará ainda Stephen King em “Hansel e Gretel”, um pequeno tesouro da literatura, que junta, desta feita, um mestre da escrita e um mestre da ilustração, Maurice Sendak.
Lançamentos da Temas e Debates
A Temas e Debates prepara a publicação de “Uma Breve História da Igualdade”, de Sébastien Vassant e Stephen Desberg, uma novela gráfica segundo o livro de Thomas Piketty. Com coordenação de Amélia Polónia, chega às livrarias “Construtoras de Impérios – Vozes de Mulheres na Expansão Portuguesa”, onde se tecem novos debates, com forte base documental, sobre processos de exclusão e subalternidade, mas também de resistência.
Irene Flunser Pimentel publica, em novembro, o livro “Relações Perigosas”, abordando a cumplicidade da PIDE com as Secretas Internacionais e, no final do ano, chega “A Inteligência Natural & a Lógica da Consciência”, de António Damásio, o primeiro livro que avança com a hipótese de como a consciência é produzida, naquilo que é um “salto sobre o anterior pensamento do autor e uma ideia completamente diferente das opiniões dominantes sobre a consciência”, destacam a editora.
Até dezembro, está ainda prevista a publicação de “Porque morremos – a nova ciência do envelhecimento e a procura da imortalidade”, do Prémio Nobel da Química, Venki Ramakrishnan, pela Temas e Debates
Quetzal traz regresso de José Luís Peixoto ao romance
O último trimestre de 2025 traz mais novidades com a publicação de um novo romance de José Luís Peixoto (“A Montanha”) na Quetzal. “A Montanha” é o regresso ao romance de Peixoto, depois de “Almoço de Domingo” (2021), desta vez com outra história de ficção, que nasce de um projeto não ficcional.
“A Montanha” parte da ideia de acompanhar pacientes do Instituto Português de Oncologia do Porto e resultou num romance habitado por homens e mulheres de várias idades, com origem em diversas cidades e países, que vai do hiper-realismo, documental e autobiográfico, ao surrealismo, à alucinação e ao delírio, segundo a editora.
Novembro chega igualmente com mais um romance de José Eduardo Agualusa, “Tudo sobre Deus”, centrado na memória, no milagre da vida, e numa capela no deserto, em Angola, de onde se vê o mar.
Muito aguardado é o regresso de Jung Chang com “Voai, Cines Selvagens”, a continuação de um dos maiores bestsellers e livros de memórias sobre a China, “Cisnes Selvagens”, originalmente publicado em 1991. Até ao fim do ano, está prevista a publicação de obras inéditas de J. Rentes de Carvalho (“Recordações e Andorinhas”) e José Tolentino Mendonça (“Para os caminhantes tudo é caminho”).
Outro dos destaques da Quetzal é o livro “Portugal de Morte a Sul”, a ser publicado este mês de setembro, algures entre o guia de viagens e o ensaio sobre a mortalidade, procurando um diálogo com a morte nos espaços que esta domina.
Da autoria da escritora e investigadora independente Rafaela Ferraz, licenciada em Criminologia e mestre em Medicina Legal pela Universidade do Porto, este livro faz uma viagem por cemitérios e igrejas, santuários e museus, locais públicos e semipúblicos que – no tempo do turismo insólito – tentam uma aproximação aos que morrem e aos seus cerimoniais.
O mês de setembro leva ainda às livrarias um novo romance da escritora chinesa Can Xue, frequentemente apontada como favorita ao Prémio Nobel da Literatura, de quem a Quetzal já publicou anteriormente “O amor no novo milénio” e a Relógio d’Água editou “Fronteira”.
Neste novo título, “A última amante”, Can Xue cria um mundo extremo onde cada personagem tenta afastar a morte e o passado, seja em bares decadentes e ruas sinuosas da cidade, seja em desertos ou montanhas tingidas de neve.
Ainda na mesma altura, será publicado “Setembro negro”, do escritor italiano Sandro Veronesi, autor de “Colibri”, romance vencedor do Prémio Strega, editado em 2022 pela Quetzal e adaptado ao cinema.
Em outubro, será publicado um livro de Manuel Vázquez Montalbán, “A solidão do manager”, que trata do segundo grande caso de Pepe Carvalho, o famoso detetive privado criado pelo escritor espanhol, mas pela primeira vez traduzido e publicado em Portugal.
A editora Quetzal também dará espaço nesta rentrée para um novo volume da Bíblia (o 6º), traduzida por Frederico Lourenço, a partir do grego.
Alexandre Quintanilha na Contraponto
Em outubro, mas agora pela mão da Contraponto surgirá mais um volume da série “Uma Longa Viagem”, desta vez com autoria de Francisco Sena Santos e Clara Almeida Santos, que conversam com Alexandre Quintanilha (“A última lição de Alexandre Quintanilha”).
ArtePlural com guia felino
A ArtePlural destaca para novembro um sugestivo livro “Meditação – um guia felino”, da Valerie Dula, que se inspira na sabedoria dos gatos para apresentar mais de 50 práticas de meditação. “Enigmas da história da Arte”, de Susie Hodge e Dr. Gareth Moore, levam-nos a uma viagem do Antigo Egito à Nova Iorque da década de 1980, resolvendo enigmas, desobrinbdo segredos e enriquecendo a sua cultura geral.
Pergaminho com autoajuda
Do lado da Pergaminho, “Pára de ser o teu pior inimigo”, da psicóloga Alba Cardalda será uma das novidades da rentrée, numa editora, cuja catálogo é dedicado à autoajuda e espiritualidade. Nesse domínio, outra novidade é “Trabalhar como um monge – trazer harmonia e mindfulness ao mundo empresarial”, de Shoukei Matsumoto, o “monge do MBA” que a Pergaminho enfatiza como sendo possivelmente o único monge budista alguma vez destacado pela revista Forbes.
Editora 11X17
Em termos da editora 11X17, que se destaca pelos seus livros de bolso, teremos uma nova edição do clássico de “1984”, de George Orwell, bem como “A Corja”, de Camilo Castello Branco, obra que narra a história do padre Justino e da família do próprio Eusébio Macário que pertence agora a um estatuto social superior, nela não faltando a conhecida crítica social e de costumes do autor português do século XIX. A 11X17 também lançará neste mês de setembro “Pais sem pressa: o tempo na relação entre pais e filhos”, do pedopsiquiatra Pedro Strecht “que defende que é urgente evitar que o tempo tecnológico no controlo a nós e aos nossos filhos se nos imponha de modo ditatorial”, salienta a editora.
Serão, deste modo, quase uma centena de títulos que chegam às livrarias até ao final do ano, distribuídas pelas chancelas do Grupo BertrandCírculo: Bertrand, Temas e Debates, Quetzal, Contraponto, Pergaminho, ArtePlural e 11×17.