Não há como fugir à realidade: a Europa atravessa um momento crítico, com ameaças que surgem em vários sentidos, sejam geopolíticas, sejam económicas. E, no dia em que a Polónia é atacada por drones russos, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, falou aos europeus, no Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo, no seu discurso sobre o Estado da União. A responsável máxima disse que a Europa está em luta pela paz, pela democracia, pela liberdade e pelo seu futuro, devendo aproveitar o momento para ser independente. Destas ameaças deverá surgir uma nova Europa, mais fortalecida, segundo a presidente.
“A Europa está em luta, uma luta por um continente unido e em paz, por uma Europa livre e independente, uma luta pelos nossos valores e pelas nossas democracias, uma luta pela nossa liberdade e pela nossa capacidade de determinar o nosso próprio destino. Não se enganem: esta é uma luta pelo nosso futuro”, disse Ursula von der Leyen. Alerta que a Europa tem de cuidar da sua defesa e segurança e ainda “pelo seu lugar num mundo em que muitas grandes potências são ambivalentes ou abertamente hostis à Europa”.
Relativamente ao ataque à Polónia, a presidente referiu a “imprudente violação sem precedentes” de drones russos no espaço aéreo polaco, e manifestou “total solidariedade” da União Europeia com a Polónia.
Anunciou ainda que vai propor ao Conselho Europeu, na reunião de outubro, a criação de um Semestre Europeu da Defesa para monitorizar até 2030 os projetos realizados nesta área. Ainda na área da defesa, o executivo comunitário vai propor um novo programa militar – Vantagem Militar Qualitativa (Qualitative Military Edge, no original) – de apoio ao investimento nas capacidades das forças armadas ucranianas, antecipar seis mil milhões de euros da iniciativa de Empréstimos por Aceleração de Receitas Extraordinárias (ERA) e entrar numa aliança de drones com a Ucrânia, “para que a Ucrânia mantenha a vantagem e a Europa reforce a sua”.
Ursula von der Leyen salienta que “o flanco oriental da Europa mantém toda a Europa segura”, anunciando um apoio aos países “do mar Báltico ao mar Negro” através de uma vigilância do flanco oriental (Eastern Flank Watch). A executiva disse que “isto significa dotar a Europa de capacidades estratégicas autónomas”, sublinhando a necessidade de investir na vigilância espacial em tempo real “para que nenhum movimento de forças passe despercebido” e ainda de “construir um muro de drones”.
Guerra da Ucrânia e Faixa de Gaza
A presidente da Comissão Europeia anunciou também a organização de uma cimeira para fazer regressar as crianças raptadas pela Rússia na Ucrânia e um próximo pacote de sanções a Moscovo. “Há dezenas de milhares de crianças ucranianas cujo destino é desconhecido”, disse Ursula von der Leyen, no debate sobre o Estado da União Europeia. “Por isso, posso anunciar que, em conjunto com a Ucrânia e outros parceiros, vou ser anfitriã de uma cimeira da Coligação Internacional para o Regresso das Crianças Ucranianas”, anunciou a responsável, sem avançar uma data. Estas crianças estão “presas, sob ameaça, forçadas a negar as identidades que têm”, salientou von der Leyen, acrescentando que “cada criança raptada tem de regressar” a casa.
Relativamente ao que se está a passar na Faixa de Gaza, defendeu que a fome provocada por Israel em Gaza “não pode ser uma arma de guerra” e “tem de acabar” e anunciou medidas para aumentar a pressão sobre Telavive. “Pessoas mortas enquanto imploravam por comida, mães segurando bebés sem vida… Estas imagens são simplesmente catastróficas e, por isso, quero começar com uma mensagem muito clara [dizendo que] a fome provocada pelo homem nunca pode ser uma arma de guerra”.
A responsável europeia anunciou também que pretende acabar com a pobreza na União Europeia até 2050, tendo apresentado uma estratégia para resolver a crise na habitação e torná-la “mais acessível, sustentável e de melhor qualidade”.
Depois de ter sido bastante criticada pelo silêncio sobre Gaza e por ser próxima de Israel, a responsável alemã vincou, obtendo aplausos dos eurodeputados: “Pelo bem das crianças, pelo bem da humanidade, isto tem de acabar”. De acordo com Ursula von der Leyen, o que está a acontecer no enclave palestiniano devido à ofensiva israelita “abalou consciência do mundo” e “é inaceitável”.
“Isto também faz parte de uma mudança mais sistemática nos últimos meses que é simplesmente inaceitável”, adiantou a política alemã de centro-direita, condenando o sufoco financeiro da Autoridade Palestiniana, os planos para colonização da Cisjordânia ocupada e “as ações e declarações dos ministros mais extremistas do governo israelita”.
Ao vincar que “a Europa deve liderar o caminho”, Ursula von der Leyen anunciou mais medidas para pressionar Israel a acabar com a ofensiva em Gaza, como a suspensão do apoio bilateral, a interrupção dos pagamentos sem afetar o trabalho com a sociedade civil, a introdução de sanções contra os ministros extremistas e os colonos violentos e ainda a suspensão parcial do Acordo de Associação da UE com Telavive no que diz respeito a questões comerciais.
A responsável europeia anunciou também que pretende acabar com a pobreza na União Europeia até 2050, tendo apresentado uma estratégia para resolver a crise na habitação e torná-la “mais acessível, sustentável e de melhor qualidade”. “Vamos apresentar o nosso plano para erradicar a pobreza até 2050”, disse Ursula von der Leyen, no Parlamento Europeu.
(Com Lusa)