Lonbali quer 10% da faturação nos próximos três anos a vir de Portugal

A marca Lonbali tem 9 anos e já é uma referência em Espanha. O que motivou esta aposta em se expandirem para Portugal? Espanha e Portugal partilham uma cultura mediterrânica onde a moda e a imagem pessoal são elementos-chave de identidade e de estilo de vida urbano. O consumo concentra-se principalmente nas grandes cidades como…
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Fundada por três irmãos, a espanhola Lonbali assumiu-se como uma referência no país vizinho, tendo escolhido Portugal para o início da sua internacionalização. Soledad Álvarez, María Álvarez e Marc Caballée falam da marca e explicam os planos para o mercado português.
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A marca Lonbali tem 9 anos e já é uma referência em Espanha. O que motivou esta aposta em se expandirem para Portugal?
Espanha e Portugal partilham uma cultura mediterrânica onde a moda e a imagem pessoal são elementos-chave de identidade e de estilo de vida urbano. O consumo concentra-se principalmente nas grandes cidades como Madrid, Barcelona, Valência e Sevilha, em Espanha; Lisboa e Porto, em Portugal, com grande destaque para os centros comerciais e para ruas de prestígio como a Gran Vía, o Passeig de Gràcia, a Avenida da Liberdade ou a Rua de Santa Catarina.

O consumidor é cada vez mais digital e omnicanal, procurando uma combinação entre loja física e online, e mostrando atração por marcas internacionais e propostas “premium acessível”, com interesse pela personalização e por edições limitadas. Embora a sensibilidade ao preço continue elevada, o design, a originalidade e a identidade de marca são altamente valorizados.

Hoje, são as redes sociais, os influencers e o turismo internacional que abrem a porta a novas marcas. Simultaneamente, a sustentabilidade tornou-se um fator decisivo como critério de compra: os clientes exigem mais transparência, materiais reciclados e produção responsável.

“O consumidor é cada vez mais digital e omnicanal, procurando uma combinação entre loja física e online, e mostrando atração por marcas internacionais e propostas ‘premium acessível'”

A vossa entrada em Portugal marca o início da vossa internacionalização. Porquê Portugal — e por onde querem continuar?
Apostar em Portugal pareceu-nos um passo natural na nossa evolução. Permite-nos crescer de forma orgânica, consolidar a nossa presença na Península, depois de nos afirmarmos em Espanha, e aproximarmo-nos ainda mais de uma comunidade com a qual sentimos uma ligação autêntica.

A Lonbali continua a sua expansão para o México e para o Chile, dois países com um consumidor cada vez mais digital e atraído pela moda premium acessível e por propostas com personalidade. Ao mesmo tempo, abrimos caminho na Europa, chegando a Itália e França, epicentros da Moda mundial, onde a originalidade e o design intemporal são muitíssimo valorizados. Com esta expansão, a Lonbali procura posicionar-se como uma marca internacional que combina espírito familiar, personalização e um estilo versátil pensado para acompanhar no dia a dia.

No plano de cima: Soledad Álvarez (à esquerda) e María Álvarez. No plano de baixo: Marc Caballé

Que planos têm para Portugal, em termos de abertura de lojas (quantas e em que localização)?
Portugal é um mercado muito especial para nós: próximo, mediterrânico e com um consumidor que se identifica com o estilo de vida Lonbali. O nosso plano é começar com um ponto de venda em Lisboa e outro no Porto, em centros comerciais estratégicos que funcionem como embaixadas da marca.

Mais do que pontos de venda, serão espaços concebidos para melhorar a experiência de marca e reforçar a nossa estratégia omnicanal: ao ter contacto direto com o cliente, compreendemos melhor as suas necessidades – o ganho é mútuo.

“O nosso plano [para Portugal] é começar com um ponto de venda em Lisboa e outro no Porto, em centros comerciais estratégicos que funcionem como embaixadas da marca”.

Qual a percentagem para o vosso negócio que estimam que Portugal vos dará?
O nosso objetivo é que Portugal represente cerca de 10% da faturação nos próximos três anos. É um passo natural dentro da Península Ibérica e, ao mesmo tempo, uma peça-chave no nosso mapa de expansão internacional, que hoje também nos leva a mercados fora da União Europeia, como o México e o Chile.

Há mais países para onde estão a prever colocar a marca? Quais e quando é que isso ocorrerá?
A Lonbali começou a sua expansão internacional na Europa em 2025, chegando a Itália e França, duas capitais de referência mundial em moda e lifestyle. A partir de janeiro de 2026, a marca dará o salto para a América Latina com a entrada no México e no Chile, mercados em crescimento, onde a moda premium acessível, a digitalização e o consumo omnicanal oferecem grandes oportunidades. Este plano marca um passo decisivo na projeção global da Lonbali.

O nosso objetivo é que Portugal represente cerca de 10% da faturação nos próximos três anos.

Quais são os principais desafios de escalar uma marca de acessórios de autor para outros mercados?
Estamos plenamente conscientes de que escalar internacionalmente traz grandes oportunidades, mas também desafios importantes. O nosso objetivo é crescer de forma organizada e sustentável, avaliando cuidadosamente a melhor via de entrada em cada mercado, seja através do wholesale, de lojas próprias ou de alianças estratégicas com parceiros locais.

Um dos grandes riscos desta expansão é a necessidade de manter um controlo máximo sobre os processos de importação e distribuição, assim como sobre o impacto das tarifas em cada país – fatores essenciais para garantir competitividade e rentabilidade. Ao mesmo tempo, queremos assegurar que a Lonbali mantém sempre o controlo da sua imagem e da qualidade do produto, pilares fundamentais da nossa identidade. Por isso, apostamos numa expansão segura e calma, sem precipitações, minimizando riscos e construindo uma base sólida que nos permita alcançar um sucesso duradouro em cada mercado internacional.

Tote Bag Berry, da Lonbali (€135)

A Lonbali nasceu da união de três irmãos (Soledad Álvarez, María Álvarez e Marc Caballée) e das três cidades por onde andaram (Londres, Barcelona e Bali). O que é que cada um dos três fazia antes de decidirem criar a empresa? O que desencadeou a criação da marca?
Antes de fundarem a Lonbali, os três irmãos seguiam caminhos profissionais muito distintos, mas complementares. A María, advogada fiscalista e economista, passou 15 anos em Londres a trabalhar na banca de investimento, depois da sua passagem pelo Barclays e pelo Macquarie, até decidir tornar-se independente e criar o seu próprio escritório em parceria com uma colega do Deutsche Bank. O Marc encontrava-se em Bali, onde tinha apostado no empreendedorismo na área da restauração com um restaurante de tapas espanholas, combinando o espírito empreendedor e a vocação internacional. Já a Soledad estava há mais de dez anos à frente da sua própria marca de moda, a Sayan, especializada em vestidos de festa.

A Lonbali nasceu de uma conversa entre irmãos, em que partilhámos a ideia de criar uma marca de acessórios versáteis, funcionais e com estilo, que pudesse acompanhar qualquer pessoa no seu dia a dia e em qualquer lugar. Esse desejo juntou o espírito empreendedor do Marc e a experiência internacional da María, dando lugar a um projeto comum inspirado em três cidades-chave mas nossas vidas: Londres, Barcelona e Bali. Assim, a união da nossa experiência em moda, finanças e empreendedorismo tornou-se no ponto de partida para criar uma marca com essência familiar, cosmopolita e contemporânea.

Quando olharam pela primeira vez para a Lonbali como um projeto com potencial global — e não apenas como uma marca local ou de nicho?
Começámos a ver a Lonbali como um projeto com verdadeiro potencial global quando percebemos que o mercado espanhol estava consolidado e sob controlo. A partir daí, fomos construindo bases sólidas: primeiro assegurando os processos e a logística, depois aperfeiçoando a gestão de compras e o controlo de stock. Tudo isto permitiu-nos garantir estabilidade operacional e qualidade consistente.

Mas, sobretudo, o momento decisivo foi quando conseguimos formar uma equipa suficientemente forte e profissional para minimizar riscos e sustentar um crescimento internacional seguro e sustentável. Foi aí que soubemos que estávamos preparados para dar o salto para além do nosso mercado local.

Como foi crescer numa família ligada ao mundo da moda? O que é que herdaram da vossa mãe, a designer Purificación García — e o que quiseram fazer diferente?
É curioso, porque até há pouco tempo não tínhamos plena consciência do quão empreendedores somos, e acreditamos que isso vem diretamente da família em que crescemos: para nós, empreender sempre foi algo natural, quase o normal. Da nossa mãe, Purificación García, herdámos o perfeccionismo e a perseverança, além da frase que ela nos repetia constantemente: “é melhor arrepender-se de algo do que não se arrepender de nada nesta vida”. Este ensinamento deu-nos a coragem de olhar em frente, assumir que podemos falhar, mas também que se aprende com cada erro. O que fizemos de diferente foi que, sendo três sócios, tomamos sempre as decisões em conjunto; e essa união dá-nos mais tranquilidade e segurança para enfrentar qualquer desafio.

“Da nossa mãe, Purificación García, herdámos o perfeccionismo e a perseverança, além da frase que ela nos repetia constantemente: ‘é melhor arrepender-se de algo do que não se arrepender de nada nesta vida’”

Três irmãos a liderar uma marca de acessórios pode parecer um cenário caótico. Como é que organizam as ideias, as decisões e os egos? Como dividem funções entre os três? Há uma liderança clara ou funciona como uma espécie de trindade criativa?
É verdade que trabalhar em família pode ser caótico e complicado, sobretudo porque a confiança dificulta separar o profissional do pessoal. Com o tempo, e graças a processos de coaching, aprendemos a compreender-nos, a escutar-nos e a dar opiniões sem levar para o lado pessoal.

O lado positivo é que cada um aporta um perfil muito distinto e isso complementa-nos. A María lidera o barco a partir de uma visão mais estratégica; embora não esteja no dia a dia, é uma peça fundamental do puzzle. O Marc, pela sua trajetória e personalidade, está mais focado na gestão, nos processos, na parte analítica e em construir uma equipa sólida. Já a Soledad traz a visão criativa: é quem transforma as ideias em projetos reais e as reforça com uma estratégia de marketing clara e eficaz.

Além disso, para as decisões-chave contamos com um conselho que nos orienta, e na parte mais corporativa elaborámos um acordo de sócios com o apoio de profissionais do setor. Tudo isto permitiu-nos transformar o possível caos num equilíbrio que impulsiona a Lonbali para a frente.

“Trabalhar em família pode ser caótico e complicado, sobretudo porque a confiança dificulta separar o profissional do pessoal. Com o tempo, e graças a processos de coaching, aprendemos a compreender-nos, a escutar-nos e a dar opiniões sem levar para o lado pessoal”.

Como definem o estilo Lonbali? Quais são as vossas maiores influências — na moda, no design, na vida?
O estilo da Lonbali é urbano e contemporâneo. Desenhamos acessórios versáteis e intemporais, pensados para acompanhar os nossos clientes no dia a dia, conseguindo sempre um equilíbrio entre funcionalidade e design. Apostamos no conceito “premium acessível” com a possibilidade de personalizar cada peça, porque acreditamos que uma carteira deve ser tão única quanto a pessoa que a transporta.

A nossa inspiração surge das três cidades que nos marcaram: Londres, Barcelona e Bali, que aportam modernidade, criatividade e o espírito cosmopolita que define a essência da marca.

As nossas maiores influências vêm das viagens e do contacto com novas culturas, porque cada lugar nos abre a mente e nos inspira de forma diferente. Também nos inspiram muito as conversas com pessoas que admiramos, que nos transmitem ideias e formas de ver a vida que mais tarde aplicamos no nosso trabalho. E, claro, o cinema: há filmes que nos transportam para épocas em que gostaríamos de ter vivido, e essa combinação entre nostalgia e criatividade também se reflete no universo Lonbali.

A vossa primeira coleção esgotou em dias — sem lojas físicas nem publicidade tradicional. O que vos ensinou esse momento sobre o poder das redes sociais?
É verdade, lançámos a Lonbali em 2016 sem qualquer ponto de venda físico, apenas online, e o literalmente “morremos de sucesso”: o stock esgotou-se em poucos dias. Nessa altura, o Instagram estava a começar a ganhar força e as influencers ainda não tinham o peso que têm hoje, mas mesmo assim percebemos como as redes sociais foram fundamentais para o nosso lançamento e funcionaram maravilhosamente bem para nos dar a conhecer com rapidez. Também é justo dizer que tivemos a sorte e o apoio da nossa mãe, que foi simultaneamente mãe e PR, e nos ajudou imenso nos primeiros passos.

Que tipo de relação procuram construir com a vossa comunidade digital? E como é que ela influencia as vossas decisões de design ou de negócio e de mensagens que colocam nas redes sociais?
O que procuramos é construir uma comunidade fiel, presente em cada lançamento, que nos apoie, partilhe os nossos valores, se motive com cada passo que damos e queira sentir-se parte da marca.

Temos plena consciência de que o mundo digital avança muito rápido e de que as novas gerações consomem sobretudo através destes canais. Por isso, há dois anos decidimos fazer uma mudança: renovámos a imagem da marca e reorientámos a nossa estratégia de conteúdos e campanhas para uma identidade mais digital e moderna, o que também influenciou a forma como encaramos o marketing e a comunicação.

Ainda assim, não quisemos perder a proximidade, porque é algo que nos distingue: a Lonbali sempre prezou atendimento em loja, com um serviço muito individual e personalizado. Escutamos muito a nossa comunidade, e muitas decisões de produto e design nascem dos seus comentários, do que nos transmitem e das necessidades que partilham connosco.

Sabemos também que temos um público muito amplo, mas o que queremos transmitir sempre é a sensação de poder que as nossas peças transmitem: sentir que se consegue tudo, que se tem ambição, que se conquista o mundo e que se procuram sempre novos desafios!

“O mundo digital avança muito rápido e de que as novas gerações consomem sobretudo através destes canais”.

A personalização é uma das vossas grandes bandeiras. Quais as peças que mais pedidos de personalização têm?
A personalização representa hoje uma percentagem muito importante das nossas vendas e, desde o início, foi um elemento-chave para nos diferenciarmos dentro do setor. Na Lonbali quase todos os produtos podem ser personalizados, desde uma shopping bag até um porta-cartões, mas sem dúvida a mais solicitada é a nossa shopping bag, que se tornou um verdadeiro ícone da marca.

Adicionalmente, a personalização tem um valor acrescentado: não só reforça o efeito de presente, como transforma cada peça num objeto único e especial para o cliente, e isso abre-nos muitas oportunidades em estratégias de cross-selling.

“A personalização representa hoje uma percentagem muito importante das nossas vendas e, desde o início, foi um elemento-chave para nos diferenciarmos dentro do setor”.

As edições limitadas são uma forma de manter a marca fresca e desejável. Como escolhem os lançamentos sazonais?
Na Lonbali trabalhamos com uma coleção ongoing que constitui o coração da marca e que reforçamos todos os anos com novas cores em edição limitada ou com a incorporação de artigos que complementam a proposta. A essa base juntamos quatro coleções cápsula por ano, que nos permitem acompanhar de perto as tendências do momento, trazer frescura e surpreender as nossas clientes mais fiéis. Assim conseguimos equilibrar a intemporalidade dos nossos clássicos com a emoção da novidade.

Que conselho dariam a quem hoje quer lançar uma marca com identidade própria, sem grandes recursos, mas com grande visão?
O nosso conselho é que o mais importante é ter uma identidade própria bem definida e mantê-la firme ao longo do tempo, porque essa coerência é o que permitirá uma evolução sem perder a essência da marca. Os recursos acabam por surgir, quando existe realmente algo único e diferente para oferecer.

Antes de começar, é fundamental conhecer bem o setor em que se quer atuar, estudar detalhadamente a concorrência e analisar as várias possibilidades. E, acima de tudo, rodear-se de pessoas que possam aconselhar de verdade – ouvir e aproveitar cada minuto com pessoas experiente que ajudem a tomar as melhores decisões.

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