O chanceler alemão afirmou que o Presidente russo, Vladimir Putin, aceitou, em conversa telefónica com o Presidente dos EUA na segunda-feira, reunir-se com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, nas próximas duas semanas.
Após conversações na Casa Branca entre Donald Trump, Zelensky e vários líderes europeus, Friedrich Merz afirmou à imprensa que o Presidente russo, em contacto telefónico com Trump, “concordou que se realizaria nas próximas duas semanas uma reunião” sua com o Presidente ucraniano.
Outro participante na reunião, o Presidente finlandês, Alexander Stubb, afirmou que dos contactos na Casa Branca resultou que “se tudo correr bem” na primeira reunião Putin-Zelensky, haverá uma outra trilateral com Trump.
“Tratando-se de Putin”, disse Stubb, o resultado da primeira reunião é “um grande se”. Presidente do país com a maior fronteira terrestre com a Rússia, e ele próprio descendente de finlandeses originários da região da Karelia anexada pela Rússia após a II Guerra Mundial, Stubb mostrou-se moderadamente otimista, afirmando que na reunião da Casa Branca foram dados “três passos em frente, nenhum para trás”.
Já Trump escreveu nas redes sociais sobre esse cenário de um encontro entre Zelensky e Putin. Trump disse numa publicação publicada quer no Truth Social, quer no X (ex-Twitter) que o local da reunião ainda não foi determinado e observou que, após o encontro proposto entre Zelensky e Putin, ele se juntará aos dois presidentes para uma reunião trilateral.
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Trump, que inicialmente disse “podemos ou não ter uma reunião trilateral”, disse mais tarde que era uma questão de “quando, não se” ele se reuniria com Putin e Zelenskyy, acrescentando: “Acho que se tivermos uma reunião trilateral, há uma boa chance de talvez acabar [a guerra]”.
“Todos estão muito felizes com a possibilidade de PAZ para a Rússia/Ucrânia. No final das reuniões, liguei ao presidente Putin e comecei a organizar um encontro” – Donald Trump.
Numa mensagem nas redes sociais Truth, Trump afirmou que, no final da reunião na Casa Branca com Zelensky e líderes europeus sobre o conflito na Ucrânia, telefonou a Putin e iniciou “os preparativos para uma reunião, em local a determinar”, entre os chefes de Estado russo e ucraniano.
“Após essa reunião, teremos uma reunião trilateral, que seriam os dois Presidentes, para além de mim”, adiantou.
Citando fonte próxima do encontro, a AFP adianta que Putin disse a Trump estar pronto a encontrar-se com Zelensky.
Quem esteve presente na reunião da Casa Branca
A reunião de segunda-feira em Washington foi convocada por Donald Trump, após uma cimeira no Alasca na sexta-feira com o homólogo russo, que não produziu nenhum anúncio relacionado com um acordo para o conflito.
Além de Zelensky, Merz e Stubb, marcaram presença hoje na Casa Branca os líderes francês, Emmanuel Macron, e britânico, Keir Starmer.
Estiveram ainda presentes a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
Após uma primeira reunião com Zelensky, seguiu-se uma reunião de Trump também com os líderes europeus, que terminou em conversações na Sala Oval da Casa Branca, tendo sido discutidas as garantias de segurança para a Ucrânia, adiantou o Presidente norte-americano na rede social Truth.
Estas garantias, adiantou “seriam prestadas pelos vários países europeus, em coordenação com os Estados Unidos”.
Na CNN, Stubb foi confrontado com uma inconfidência de Trump, que num momento em que falava em privado com os líderes europeus, sem saber que o microfone estava ligado, mostrou confiança na postura de Putin. “Eu acho que ele quer fazer um acordo para mim. Por mais maluco que isto pareça”, afirma Trump no momento difundido pelas cadeias de televisão que filmavam em direto o final da parte pública do encontro com os líderes europeus.
A prudência do presidente finlandês, Alexander Stubb: “Está em causa lidar com Putin”
Apesar deste desenvolvimento favorável, a paz está muito longe de ser alcançada. Na rede social X, Merz fala com prudência, considerando que “os próximos passos serão mais complicados”. Para o chanceller germânico, é necessário “pressionar a Rússia” e insistir na necessidade de suspensão das hostilidades no terreno.
“É necessário haver um cessar-fogo antes de novas negociações”, afirmou o chanceler alemão.
“Os próximos passos serão mais complicados”, perspetiva o chanceller alemão.
Por seu lado, Stubb recordou estar em causa “lidar com Putin”, cujos “objetivos básicos estratégicos continuam a ser os mesmos”.
Estes são três, enumerou: a Rússia ser vista como superpotência, dividir os países ocidentais e negar a soberania da Ucrânia.
No final, Merz defendeu que a Ucrânia não deve ser forçada a fazer concessões territoriais como parte de um possível acordo de paz com a Rússia.
“A exigência russa de que Kiev ceda as partes livres do Donbass corresponde, francamente, a uma proposta de que os Estados Unidos cedam a Florida”, clarifica Merz aos jornalistas.
O presidente finlandês, Alexander Stubb, manifestou dúvidas de que Putin esteja disponível para a sequência de reuniões que se anunciou no final do encontro na Casa Branca, que juntou, para além de Stubb, do anfitrião, Donald Trump e Zelensky, os Presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão Friedrich Merz, e o seus homólogos britânico, Keir Starmer, e italiana, Giorgia Melonio, e ainda as lideranças da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e da NATO, Mark Rute.
“Putin raramente é digno de confiança. Resta saber se ele tem coragem de comparecer a este tipo de reuniões, se tem coragem de comparecer a uma reunião trilateral, ou está mais uma vez a tentar ganhar tempo”, afirmou Stubb à imprensa finlandesa.
Numa outra entrevista à emissora norte-americana NBC News, Emmanuel Macron não escondeu que não partilhava o otimismo de Trump sobre a possibilidade de se chegar a um acordo de paz com a Rússia: “Quando olho para a situação e os factos, não vejo o Presidente Putin a desejar a paz agora, mas talvez eu seja muito pessimista”, afirmou, segundo a AFP.
Em entrevista ao canal informativo da rede TF1, Macron descreveu o líder russo, Vladimir Putin, como um predador às portas da Europa que “precisa de continuar a comer” para sobreviver, numa entrevista divulgada hoje.
Emmanuel Macron apelou aos europeus para que “não sejam ingénuos” face à Rússia, que será “duradouramente uma potência desestabilizadora”, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP), que cita a entrevista à TF1.
“Desde 2007-2008 [a intervenção russa na Geórgia], o Presidente Putin raramente cumpriu os compromissos. Tem sido constantemente uma potência desestabilizadora. E tem procurado rever as fronteiras para expandir o poder”, afirmou Macron.
A entrevista foi realizada no rescaldo das conversações de segunda-feira em Washington entre os Presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em que Macron participou juntamente com outros líderes europeus e da NATO.
Na entrevista ao canal LCI do grupo TF1, Macron disse duvidar das intenções de paz do líder de um país que mobilizou um exército de mais de 1,3 milhões de efetivos para a guerra e investe 40% do orçamento em defesa.
Putin “não voltará a um estado de paz e a um sistema democrático aberto da noite para o dia”, afirmou.
“Portanto, mesmo que seja apenas para a sua própria sobrevivência, ele [Putin] precisa de continuar a alimentar-se. É isso mesmo. E, por isso, é um predador, é um ogre às nossas portas”, disse o Presidente francês.
“Não estou a dizer que amanhã a França será atacada, mas é uma ameaça para os europeus. Não devemos ser ingénuos”, acrescentou.
Zelensky espera garantias de segurança de aliados europeus “dentro de dez dias”
Entretanto, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou segunda-feira em Washington que os seus aliados ocidentais vão formalizar “dentro de dez dias” as garantias de segurança para a Ucrânia, para impedir qualquer novo ataque russo ao país.
“As garantias de segurança serão provavelmente decididas pelos nossos parceiros e haverá cada vez mais detalhes, pois tudo será colocado no papel e oficializado (…) dentro de uma semana a dez dias”, afirmou o chefe de Estado ucraniano, após negociações na Casa Branca com o Presidente norte-americano, Donald Trump, e vários líderes europeus.
Esse é um dos pontos críticos a limar, dadas a diferenças de opinião. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia não aprova a presença de tropas da NATO na Ucrânia como parte das garantias de segurança, de acordo com o The New York Times. Os membros da NATO forneceram armas e apoio em treino para a Ucrânia, mas não chegaram a enviar tropas para o país, que não é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Sobre este ponto, o Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que uma das garantias de segurança para a Ucrânia, a acompanhar qualquer acordo de paz com a Rússia, deverá ser um exército ucraniano suficientemente “robusto” para impedir novos ataques de Moscovo. “Pude voltar esta tarde ao conteúdo dessas garantias de segurança, que são um exército ucraniano robusto, capaz de resistir a qualquer tentativa de ataque e dissuadi-lo, e, portanto, sem limitações em número, capacidade ou armamento”, disse Macron aos jornalistas. “Enquanto ele [o Presidente russo, Vladimir Putin] achar que pode vencer através da guerra, continuará”, acrescentou.
Zelensky disse que está “pronto” para uma reunião bilateral com Putin, para pôr fim à invasão russa do seu país, que já dura há mais de três anos.
“Estamos prontos para uma reunião bilateral com Putin e, depois disso, esperamos uma reunião trilateral” com a participação de Donald Trump, disse à imprensa.
A questão de eventuais concessões territoriais exigidas pela Rússia à Ucrânia “é uma questão que deixaremos entre mim e Putin”, acrescentou.
Macron confirmou a ausência do tema nas concessões territoriais nas conversações, porque, segundo disse, “a prioridade são as garantias de segurança” e “isso deve ser discutido bilateralmente e trilateramente”, numa eventual reunião entre Putin e Zelensky, seguida de uma possível cimeira a três com Trump.
As reuniões em Washington giraram em torno das garantias de segurança, que devem ser fornecidas à Ucrânia pelos seus aliados do Velho Continente, em “coordenação” com os Estados Unidos.
Segundo Donald Trump, Vladimir Putin estará disposto a aceitar tais garantias de segurança.
com Lusa e Sara Dorn e Antonio Pequeño IV/Forbes Internacional