O presidente Donald Trump anunciou uma tarifa de 100% sobre chips e semicondutores importados, afirmando que a tarifa poderia ser evitada pelas empresas se elas se “tivessem comprometido a construir ou estivessem em processo de construção” de fábricas em solo americano. O presidente americano deu como exemplo a Apple que está a “regressar a casa” e irá fazer um investimento adicional de US$ 100 mil milhões (85 mil milhões de euros) na indústria nos EUA, recebendo em conformidade com essa decisão isenção por produzir bens nos EUA.
“Imporemos uma tarifa de aproximadamente 100% sobre os chips e semicondutores”, declarou Trump na Sala Oval da Casa Branca. “Se [os fabricantes] estiverem a produzir nos EUA, não há qualquer cobrança”, adiantou Trump, que apresenta a sua política tarifária como uma solução para atrair investimentos industriais no país.
O presidente norte-americano acrescentou que as empresas que não cumprirem os compromissos serão cobradas retroativamente: “Isso é uma garantia”, sublinhou.
Trump não especificou, por enquanto, a data de entrada em vigor desta nova taxa.
“Vamos aplicar tarifas significativas sobre ‘chips’ e semicondutores”, afirmou Trump na Casa Branca: “Serão em torno de 100%. Mas isso é uma boa notícia para as empresas que os fabricam nos EUA”, acrescentou.
Trump tem vindo a impôs tarifas como uma tentativa de impulsionar a produção nos EUA, chegando recentemente a acordos de redução de tarifas com parceiros comerciais, incluindo o Japão (15%), o Reino Unido (10%) e a União Europeia (15%).
A tarifa de Trump sobre semicondutores é mais uma nessa linha. Embora siga as tentativas da administração Biden de criar uma presença mais robusta do fabrico de tecnologia nos EUA, que ficou para trás de Taiwan e da China na produção de semicondutores, a estratégia seguida por Trump é diferente da de Biden.
Biden apostava em incentivos e Trump joga com sanções. Trump está a apostar em tarifas que forcem os players a optar por deslocalizar as suas fábricas, trazendo-as para os EUA. A abordagem do ex-presidente Joe Biden foi de disponibilizar incentivos de mais de 50 mil milhões de dólares (43 mil milhões de euros) para apoiar novas fábricas de ‘chips’ e semicondutores, financiar investigação e formar trabalhadores para o setor. A combinação de apoio financeiro, créditos fiscais e outros incentivos financeiros visava atrair investimento privado, uma estratégia à qual Trump se opôs veementemente.
Apesar de o risco de as tarifas poderem comprimir os lucros das empresas e fazerem subir os preços dos telemóveis, televisões ou frigoríficos, Trump insiste na medida, como forma de forçar a maioria dos fabricantes a abrir nos EUA unidades de produção, altamente sofisticadas e que exigem avultados investimentos. É o caso dos semicondutores que são componentes eletrónicos essenciais para telefones, computadores, equipamentos médicos, veículos e muito mais.
A tecnologia é um dos vários setores incluídos na iniciativa de Trump para aumentar a produção nacional. De acordo com o presidente americano, estão em curso investimentos multimilionários de empresas como OpenAI, Oracle e Softbank, que devem aumentar o seu investimento acumulado em centros de dados de IA para US$ 500 mil milhões. O Google e a empresa de gestão de investimentos Blackstone também comprometeram US$ 50 mil milhões em investimentos nos EUA para centros de dados e infraestrutura.
Apple a regressar a casa
Estas novas tarifas foram dadas a conhecer no âmbito de uma reunião com o presidente executivo da Apple, Tim Cook, durante a qual foi sublinhado que o mais recente investimento da Apple na indústria eleva o seu compromisso com os EUA para US$ 600 mil milhões (514 mil milhões de euros) para os próximos quatro anos, adicionando fábricas e instalações de formação a Estados como Texas, Michigan e Kentucky, sendo que este último Estado começará a fabricar vidros de cobertura para todos os iPhones e Apple Watches.
“Os nossos produtos são concebidos aqui. Contratámos e crescemos aqui, e criámos 450 mil empregos com milhares de fornecedores e parceiros em todos os 50 estados”, frisou Tim Cook, declarando-se comprometido com “a inovação e o fabrico nos Estados Unidos”.
A China tem sido a principal base de fabrico e montagem da Apple nos últimos vinte anos, mas, mais recentemente, a empresa transferiu parte da sua produção para o Vietname, Tailândia e Índia.
A Apple anunciou em fevereiro que planeava investir 500 mil milhões de dólares e contratar 20 mil pessoas nos Estados Unidos nos próximos quatro anos, além de abrir no Texas uma unidade de produção de equipamentos de inteligência artificial.
Um dos objetivos de Trump é que a empresa californiana comece a fabricar os seus populares iPhones nos Estados Unidos.
Hoje, a Apple anunciou que vai aumentar os investimentos em muitos dos seus fornecedores norte-americanos, mas algumas destas empresas têm sede nos Estados Unidos e fabricam os seus componentes para produtos tecnológicos no estrangeiro, de acordo com o The New York Times.
Cook anunciou hoje que “muito em breve” e pela primeira vez, todos os novos iPhones e Apple Watches vendidos em qualquer parte do mundo terão vidro fabricado no Kentucky.
Taiwan diz que TSMC será “isenta” das sobretaxas de 100% sobre ‘chips’
Em reação ao anúncio de tarifas, a gigante taiwanesa de semicondutores TSMC veio já dizer que “está isenta ” das taxas alfandegárias de 100% impostas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre semicondutores, afirmou um responsável em Taipé.
“Sendo o principal exportador de Taiwan e tendo fábricas nos Estados Unidos, a TSMC está isenta”, entende Liu Chin-ching, diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento, durante uma reunião no Parlamento.
De resto, as ações da TSMC, principal fabricante mundial de ‘chips’ avançados, atingiram hoje um novo máximo na Bolsa de Taipé, num movimento estimulado pela convicção de que a gigante escapará à imposição de tarifas devido aos investimentos anunciados nos Estados Unidos.
Os títulos da TSMC alcançaram subidas de 4,89%, atingindo 1.180 dólares taiwaneses (33,9 euros) às 11:30, hora local (03:30 TMG), impulsionando assim o índice de referência da Bolsa de Taipé, o Taiex, que registava um avanço de 2,32%, ou 543,68 pontos, à mesma hora.
No entanto, Liu precisou que outros fabricantes de ‘chips’ taiwaneses “serão afetados” pelas tarifas.
Há vários meses que Donald Trump, que acusa Taiwan de sabotar a indústria norte-americana de semicondutores, vinha fazendo essa ameaça.
Para se proteger como maior fabricante de ‘chips’ do mundo, a TSMC anunciou em março que investiria a colossal quantia de 100 mil milhões de dólares (85 mil milhões de euros) nos Estados Unidos para construir fábricas no país.
A TSMC produz ‘chips’ utilizados em todas as áreas tecnológicas, desde os iPhones da Apple até equipamentos de inteligência artificial de ponta da Nvidia.
“Escudo de silício” de Taiwan mais fraco
A concentração do fabrico de ‘chips’ em Taiwan foi definida por muito tempo sob o conceito de “escudo de silício”, protegendo-a de uma invasão ou bloqueio da China e incentivando os EUA a defendê-la contra Pequim.
Mas este investimento maciço da TSMC pode prejudicar a economia taiwanesa e enfraquecer este “escudo”.
Taiwan continua a ser afetada por sobretaxas temporárias de 20% sobre os seus produtos, com exceção dos semicondutores, enquanto se aguarda a assinatura de um acordo entre Taipé e Washington.
O arquipélago, que Pequim reivindica como parte do seu território, também se comprometeu a aumentar a compra de energia aos Estados Unidos e a elevar as suas despesas militares para mais de 3% do PIB, a fim de evitar novas taxas.
com Antonio Pequeño IV/Forbes Internacional e Lusa