A África Subsaariana tem uma das populações mais jovens do mundo, que deverá aumentar em 65% até 2050, mas enfrenta desafios que limitam o potencial da sua juventude, revelam as Nações Unidas num relatório. O estudo “O Estado da Juventude nos Sistemas Agroalimentares” da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) identificou a juventude como um ator central na mudança económica e social, de forma global, mas evidenciou as crescentes dificuldades enfrentadas por milhões de jovens em contextos rurais africanos.
Segundo o documento, existem cerca de 1,3 mil milhões de jovens entre os 15 e os 24 anos no mundo, mas estes enfrentam taxas de desemprego 3,5 vezes superiores às dos adultos. “Mais de 25% da juventude mundial não está empregada, nem a estudar ou a receber formação”, lamentou.
A juventude da África Subsaariana – que tem uma proporção superior à média mundial e deverá registar um aumento de 65% até 2050, atingindo cerca de 400 milhões – vê-se assim obrigada a migrar, muitas vezes dentro das fronteiras nacionais.
Os dados mostram que 85% dos jovens vivem em países de baixo rendimento, particularmente na África Subsaariana e no Sul da Ásia. Segundo a FAO, a região da África Subsaariana, apesar de ser estratégica para o futuro da agricultura mundial, regista também os maiores níveis de informalidade laboral no setor agroalimentar (62%), marcada por baixos salários, fraca proteção social e degradação ambiental.
A juventude da África Subsaariana – que tem uma proporção superior à média mundial e deverá registar um aumento de 65% até 2050, atingindo cerca de 400 milhões – vê-se assim obrigada a migrar, muitas vezes dentro das fronteiras nacionais, procurando alternativas à falta de oportunidades rurais, salientou a agência da ONU. Assim, a migração interna juvenil apresenta características específicas: as raparigas, por exemplo, migram mais do que os rapazes, sobretudo por razões familiares e de casamento. “Em países como o Benim, há registo de migração temporária de raparigas com apenas 13 anos”, citou. “No Burundi e no Ruanda, mais de 60% dos jovens migrantes deslocam-se entre áreas rurais”, especificou.
No entanto, Moçambique é citado como sendo um dos três países analisados – além do Gabão e do Camboja – “que apresentam uma incidência notavelmente mais elevada de migração interna entre os jovens do sexo masculino em comparação com as jovens”, enquanto “na Tanzânia e em Timor-Leste as taxas são semelhantes entre rapazes e raparigas”. Estudos realizados na Etiópia, Uganda e Tanzânia, citados na investigação, indicam que a migração urbana “permite aos jovens aceder a empregos não agrícolas”, enquanto a migração rural–rural “favorece a diversificação dentro do próprio setor agroalimentar”.
Vulnerabilidade agravada pelas alterações climáticas
A vulnerabilidade dos jovens é agravada, de uma forma geral, pelas alterações climáticas, que redesenham o potencial produtivo das terras, mas, por outro lado, o acesso à terra é outro obstáculo crítico aos jovens. “Na Etiópia e na Nigéria, estudos demonstram que o aumento de heranças de terras está diretamente associado ao reforço da permanência dos jovens na agricultura”. Porém, poucos jovens conseguem hoje herdar terras, e as raparigas continuam a ser discriminadas em muitos sistemas consuetudinários porque as famílias não querem que as terras passem para a posse da família dos maridos, explicou a agência da ONU.
A FAO considera que o investimento em educação, formação técnica, tecnologias agrícolas e inclusão financeira podem transformar os sistemas agroalimentares numa área de emprego digno.
Apesar das dificuldades, o relatório apontou soluções e oportunidades e citou que existem países que contrariam estas tendências. “Apesar das tendências globais apontarem para uma diminuição do envolvimento dos jovens na agricultura, a proporção de jovens entre os trabalhadores agrícolas aumentou em alguns países, como Angola (de 21% para 29%), Uganda (de 31% para 36%) e Equador (de 19% para 22%)”.
A FAO considera que o investimento em educação, formação técnica, tecnologias agrícolas e inclusão financeira podem transformar os sistemas agroalimentares numa área de emprego digno. Em suma, a FAO defendeu uma transformação estrutural dos sistemas agroalimentares, com base em três eixos: acesso alargado a empregos dignos, maior segurança alimentar e nutricional, e resiliência face a choques climáticos, económicos e sociais.
(Lusa)