O relatório “Future of Work – Automação e GenAI”, da McKinsey & Company, analisou o impacto específico que a Inteligência Artificial Generativa terá na economia portuguesa, concluindo que a automação com GenAI é uma realidade inevitável que impactará as tarefas existentes e que poderá dar a Portugal uma oportunidade de estreitar o crónico fosso de produtividade do país. Porém, se for desperdiçada essa oportunidade, a distância que nos separa dos países que estão já à nossa frente na União Europeia irá aumentar.
Numa apresentação do estudo à imprensa, que decorreu esta manhã, na sede da McKinsey, Duarte Begonha, Sócio Sénior, e Rita Calvão, Sócia Associada, referiram que a adoção célere de tecnologias de automação e de IA podem levar a um salto de 2,7 p.p. anuais de crescimento do PIB por aumento de produtividade, ficando em linha com a média da UE.
“A adoção rápida destas tecnologias em Portugal é fundamental para a nossa economia”, afirmam os especialistas da McKinsey.
Rita Calvão refere que esta disrupção é, contrariamente, ao que se pensa muitas vezes, “um tema de pessoas e não um tema tecnológico” e que “impacta todos, independentemente da sua atividade e rendimento. Esta mudança não é só para o setor tech; também diz respeito às pessoas do setor não tech”.
A visão da McKinsey é, aliás, a de que o investimento nas pessoas terá de ser o triplo do colocado na tecnologia. Ou seja, por cada euro investido em IA terá de haver 3 euros investidos na adoção da tecnologia pelas pessoas para que se criam condições para esta mudança: “O grosso do investimento a fazer está na adoção da tecnologia, ou seja, nas pessoas”, aponta Duarte Begonha.
Duarte Begonha realça que “ter a tecnologia por si não chega” para se dar este salto. “A adoção da tecnologia pelas pessoas e pelas empresas é o grande desafio, pois é a adoção que vai permitir o aumento da produtividade”.
Rita Calvão diz que “para se criar esta mudança, tem de se garantir mudanças nas próprias mentalidades, a começar pela intervenção dos líderes em três níveis: estratégia (para entenderem o potencial de impacto na organização e priorizar investimento com foco em retorno de negócio, conhecendo os processos de transformação necessários para o alcançar); capacidades (para garantir a infraestrutura tecnológica e de dados, bem como o talento necessário para a potenciar ao nível técnico e de negócio); e gestão de mudança (para assegurar um ritmo de adoção rápido e sustentável à escala, incluindo a qualificação de trabalhadores – upskilling e reskilling -, a adoção de novos modelos operativos, a implementação de mecanismos de controlo de riscos e o uso responsável de inteligência artificial.
“Se o país adotar estas tecnologias e, simultaneamente, formar as pessoas para usar essas tecnologias é possível termos esses ganhos de produção”, diz Duarte Begonha que está certo de que a GenAI “pode dar-nos um salto quântico no problema da produtividade” por permitir que as mesmas tarefas se façam mais depressa, libertando tempo para realizar outros trabalhos.
“O não adotar a GenAI pode ter consequências negativas para Portugal, pois o país não apenas não ganhará com a adoção destas tecnologias, como ficará mais distantes dos outros”, afirma Duarte Begonha.
A McKinsey refere que até 2030, a adoção rápida da automação e GenAI irá afetar em Portugal aproximadamente 30% do mercado de trabalho – o equivalente a cerca de 1,3 milhões de empregos, sobretudo nas áreas de STEM e de saúde – e conduzirá à necessidade de realocação profissional de cerca de 320 mil pessoas, as quais irão trabalhar em algo novo.
“Serão necessárias novas capacidades tecnológicas e sociais equivalentes a novas tarefas”, diz a consultora que realça que a GenAI irá alocar mais pessoas numas áreas e irá colocar menos pessoas noutras.
De acordo com a Mckinsey, que realizou esta análise com a colaboração da NOVA School of Business and Economics, o potencial impacto no aumento da produtividade está, por isso, dependente de um esforço “estrutural de formação” de recursos humanos, que garanta a realocação da força de trabalho, incluindo reskilling e upskilling.
“É algo que vai acontecer. Qual a velocidade a que vai acontecer é a dúvida”, indica Duarte Begonha que acentua que a ausência de uma política ativa de requalificação e realocação terá um impacto negativo no crescimento do PIB (de -0,5 p.p. a -0.7 p.p.) e arriscará o aumento do desemprego, com cerca de 250 mil pessoas por realocar no país, estima a McKinsey.
A adoção mais lenta destas tecnologias (por diferentes motivos e até devido a restrições regulatórias) terá um impacto negativo que se traduz num crescimento do PIB de apenas 0,2% vs. os 3,1% com uma adoção mais rápida: isto agravaria o fosso da economia portuguesa frente aos pares europeus, já que o nosso país apresenta níveis de produtividade na contribuição para o PIB (0,6%) aquém dos da média da UE (1,3%) e dos EUA durante a última década (2,1%).
“Portugal tem mesmo de apanhar este comboio”, conclui este analista.