“Profissionais terão de procurar novos desafios na área digital”

Jorge Fonseca, fundador e sócio-gerente da GEORGE Career Change Consultants-agência especializada em carreiras e mudanças de emprego, considera que o surgimento da pandemia do novo Coronavírus vai obrigar um grande número de profissionais a optarem por mudar de emprego e apostar na formação em novas áreas do saber como Fintech, Insurtech, Regtech, e tecnologias em…
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A pandemia vai obrigar a mudanças de emprego de muitos profissionais que terão de apostar na formação em novas áreas do saber como fintech, insurtech e regtech, diz especialista.
Negócios

Jorge Fonseca, fundador e sócio-gerente da GEORGE Career Change Consultants-agência especializada em carreiras e mudanças de emprego, considera que o surgimento da pandemia do novo Coronavírus vai obrigar um grande número de profissionais a optarem por mudar de emprego e apostar na formação em novas áreas do saber como Fintech, Insurtech, Regtech, e tecnologias em geral. Em entrevista à FORBES este executivo considera que, com o fim da pandemia são esperados diversos processos de fusões e aquisições de empresas dos mais diversos sectores, em especial das áreas mais fustigadas pela Covid-19, e pela consequente crise económica, nomeadamente o sector da aviação, viagens, hotelaria, restauração, banca e seguros, automóvel, industria exportadora de bens não essenciais.

Que análise se pode fazer sobre a atual conjuntura do ponto de vista de emprego?

A claríssima maioria dos países do mundo atravessam uma das maiores crises sanitárias e económicas desde que há registos, com repercussões que começam a ser crescentemente visíveis no mercado de emprego. O coronavírus tem vindo a acelerar expressivamente o ritmo de diversas tendências que já estavam em curso: transformação digital dos negócios de um vasto número de empresas maioritariamente em atividades de e-commerce, teletrabalho, frequência de ações de formação à distância, forte redução do número de viagens de negócios e focus nas reuniões por teleconferência (Zoom, MS, Teams), vulgarização da banca digital, web conferences, consultas online a médicos, advogados, consultores.

O que vai mudar?

Com o fim da pandemia são esperados diversos processos de fusões e aquisições de empresas dos mais diversos setores, em especial das áreas mais fustigadas pela pandemia e pela consequente crise económica (aviação, viagens, hotelaria, restauração, banca e seguros, automóvel, industria exportadora de bens não essenciais), os quais deverão ser liderados por empresas de Private Equity, que deverão aumentar significativamente o seu peso na gestão de empresas e instituições de relevo. Alguns organismos credíveis preveem que até final de 2020, a taxa de desemprego em Portugal atinja os 12%, Espanha 20%.

Quando que é se pode esperar por uma recuperação?

Segundo executivos e líderes de opinião bem-informados que conheço, o desemprego deverá agravar-se de forma continua até ao final de 2021, ou mesmo até meados de 2022, e só posteriormente deverá começar a regredir, dado que o fecho das contas de 2020, é que irá ditar o previsível encerramento de diversas empresas e o inicio dos processos de downsizing/ rightsizing e de fusões e aquisições de um vasto número de outras. Por outro lado, a descarbonização e transição, para a economia verde, desglobalização e reindustrialização de processos e produtos críticos, que em minha opinião deverão perdurar quando termine a crise pandémica.

Quais serão os pontos negativos, ou os danos colaterais que a pandemia irá deixar aos mercados no geral?  

A pandemia criou num ápice a maior crise económica de que há memória, a nível global, cujas sequelas deverão demorar muitos anos a voltar aos níveis de 2019 (se é que voltam), em especial nos setores da Aviação, Viagens e da Hotelaria. Portugal recebeu no ano passado 24.6 milhões de Turistas, Espanha recebeu 83.7 milhões, números que segundo experts de hotelaria e turismo que muito admiro irão demorar anos a serem igualados, se é que algum dia o serão.

 

Com é que as empresas deviam olhar para a situação para que se possa evitar maior número de despedimentos?  

Em minha opinião, os governos da maioria dos países industrializados têm vindo a tomar decisões adequadas para minimizar os efeitos desta grande crise pandémica e económica à escala global, nomeadamente através de medidas como os lay-off’s simplificados e em larga escala (890.000 de trabalhadores abrangidos), moratórias para pagamento de empréstimos de empresas e particulares, bazuca económica que a EU irá distribuir pelos diversos países para os mesmos injetarem nas economias, fomento das ações de requalificação profissional (incremento das competências digitais).

Nesta situação, podemos afirmar que há profissões que poderão ser extintas e assistiremos também ao surgimento de novas? 

Como disse há pouco, com o fim da pandemia deverão iniciar-se diversos processos de fusão e aquisição de empresas de sectores que apresentam muito baixas rentabilidades e cuja transformação digital exige avultados investimentos, como é o caso da banca, seguros, aviação e viagens. É esperado o fecho de diversos balcões da banca, seguros e de lojas físicas em geral e a sua substituição em parte por canais digitais, pelo que muitos profissionais que estão hoje aí empregados e em áreas de backoffice, cujos processos serão crescentemente automatizados, terão que procurar novos desafios em áreas ou negócios em ascensão como fintech, insurtech, regtech, e tecnologias em geral.

Ou seja, é são novas profissões que exigem aumento da formação em plataformas digitais?

Aprender competências nas áreas digitais ou começar uma nova profissão de raiz. Por outro lado, aprendizagem continua de novas competências e o incremento do know-how nas suas áreas de expertise devem começar a ser uma preocupação da maioria dos profissionais que pretendem manter a sua empregabilidade e valor de mercado, ou melhor, frequência de ações de formação presencial e à distancia, participação em conferências e eventos onde possam interagir com profissionais que se destaquem nos seus sectores ou áreas de atividades, como há muito fazem alguns dos mais bem sucedidos executivos, médicos e advogados.

No caso dos mercados emergentes, como é o caso do angolano, que apostas deviam fazer para conter a subida do desemprego? 

Os mercados emergentes e o angolano em particular devem apostar na melhoria da qualidade e abrangência do ensino e formação dos seus profissionais, cujo nível médio de escolaridade ainda é muito baixo, através do incentivo a que um expressivo número dos mesmos aumente as suas qualificações e que um muito maior número de quadros dirigentes comecem a frequentar ações de formação continua para a aprendizagem de novas competências (nas áreas digitais, liderança, vendas), nomeadamente através da inscrição em cursos para executivos ministrados à distancia a partir de Portugal.

 

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