A jornalista da Vanity Fair, Alice Hines, cruzou-se com a história de José Castelo Branco e Betty Grafstein, e quis saber mais, até porque estas figuras da socialite em Portugal, são desconhecidas nos EUA.
Contudo, os contornos e todo o enredo deste par, desde que se conheceram até ao seu litígio, são demasiado gráficos e pitorescos, envolvendo de festas a clínicas de botox, de roubos diversos a viagens, passando por joias e marcas de luxo, que a Vanity Fair não resistiu à história que tantas páginas ocupam nas revistas e programas televisivos cor de rosa, e não só.
A jornalista Alice Hines encontrou-se com José Castelo Branco em maio, em Lisboa, num pequeno apartamento numa rua suburbana. José Castelo Branco estava a usar as mesmas leggings da Balmain há duas semanas. “Qualquer pessoa que conhece o José sabe que isto é um escândalo. Cônjuge de uma herdeira de diamantes e estrela de nível Kardashian em Portugal, José sempre viveu para um certo nível de luxo. Viajando de Nova Iorque para Lisboa para o que deveria ser uma curta viagem, José trouxe as habituais 13 malas Louis Vuitton e pagou milhares de dólares em taxas de excesso de bagagem”, refere o artigo da Vanity Fair.
A peça e conta com declarações do próprio, de Betty, e ainda do seu filho, Roger Basile.
“Betty Grafstein, uma idosa aristocrata britânica e esposa de José há quase 30 anos, acusava José de abuso físico e psicológico. As autoridades portuguesas estavam a investigar. O guarda-roupa e a coleção de joias do casal eram agora objeto de uma disputa conjugal. José estava, efetivamente, a dormir no sofá do apartamento de um amigo leal, com apenas um conjunto de roupas – o mesmo que usara na prisão, menos uma bolsa Birkin, vendida para ajudar a pagar as despesas legais”, descreve a jornalista.
A Vanity Fair relata a história de Lady Betty Grafstein e José Castelo Branco, referindo que “no papel, a beleza era a única coisa que José e Betty sempre tiveram em comum. José (ele/ela, de acordo com a biografia no Instagram e neste artigo) é um(a) modelo de 61 anos, que se tornou marchand de arte, tendo passado a vida a quebrar regras de género e raça. Entretanto, Lady Betty Grafstein (também de acordo com a sua biografia) é uma dama de 95 anos que cresceu numa Nova Iorque onde as regras sobre a disposição de garfos de sobremesa definiam a posição social de uma pessoa. E, no entanto, quando José e Betty se conheceram no início dos anos 90, foi como se cada um tivesse encontrado um espelho”.
José relembrou a história de quando conheceu Betty nos anos 90, depois de um amigo em comum ter levado a recém-viúva Betty a uma inauguração na galeria de arte de José em Cascais.
José, com pouco mais de 30 anos na época, presumiu que Betty tinha uns 50 anos. Descobriu que tinha mais de 60 uns dias antes do casamento, diz a reportagem: “Betty começou rapidamente a parecer ainda mais jovem. O seu cabelo passou de ruivo a loiro. Perdeu peso e rugas. José também mudou fisicamente, abraçando a androginia e, eventualmente, a feminilidade.
“Estou muito bem resolvido(a),” diz José à revista. “Sou uma ela. Mas, por outro lado, ainda sou um ele. Quem se importa?”, afirmou José Castelo Branco à Vanity Fair.
Alice Hines informa os leitores que “Betty era uma socialite britânico-americana que herdara uma grande fortuna do seu segundo marido, o falecido negociante de diamantes Albert Grafstein. José era o seu terceiro cônjuge, uma estrela de reality show vanguardista de Moçambique. Embora não fossem nomes conhecidos nos EUA, José e Betty tinham um séquito de assistentes, um guarda-roupa aparentemente avaliado em centenas de milhares de dólares, e milhões de visualizações no TikTok. E, no entanto, as suas (muitas) aparições na TV eram todas em português. Estrelas nacionais há muito tempo, de repente, tornaram-se ícones globais ou estrelas das redes sociais a agir como ícones globais”.
O artigo da Vanity Fair afirma que “a vida do casal consistia em galas, tardes em iates, e desenhar abotoaduras de ouro para um príncipe saudita”. Em Nova Iorque, onde viviam no seu requintado apartamento no Upper East Side, José e Betty “nunca eram vistos sem trajes meticulosos e, frequentemente, coordenados de designers. Partilhavam um armário. Partilhavam médicos de Botox. Ao longo do tempo, alguns comentadores notaram que José e Betty começaram a parecer-se subtilmente”.
Contudo, muito do que exibiam não era deles. A revista põe em causa o património financeiro de Betty, o porquê de a herdeira da fortuna de diamantes Grafstein estar a fazer posts patrocinados de preenchimento facial aos 95 anos e aborda a casa em Nova Iorque.
“Mas havia algo que não batia certo. Porque é que Lady Betty Grafstein DBE, herdeira da fortuna de diamantes Grafstein, estava a fazer posts patrocinados para injetores de preenchimento aos 95 anos? Não era ela precisamente o tipo de mulher que não precisava de se incomodar com indignidades como esta?”, questiona a publicação.
Os resultados de uma pesquisa incompleta situam o património líquido de Betty Grafstein entre 25 e 500 milhões de dólares. “Mas não consegui encontrar muito sobre a Grafstein Diamond Corporation. O único sítio que encontrei que mencionava o negócio da família, para além de artigos sobre Betty, era uma joalharia de bairro em New Jersey que, a dada altura, tinha vendido os seus produtos. Entretanto, não consegui encontrar o nome de Betty nos registos de cavaleiros e damas homenageados pelos monarcas do Reino Unido. Quando pedi pormenores a José e Betty, o casal disse-me que Betty tinha recebido o título de dama numa cerimónia em 2001. Tinham fotografias e uma medalha do evento, disseram, mas estavam na casa em Sintra”, escreve a revista.
“Mas o que dizer do apartamento brilhante na East 62nd Street? Um parecer de 2019 do Supremo Tribunal de Nova Iorque revelou, para minha grande surpresa, que o apartamento que acolhia festas frequentadas por Tina Radziwill, pelo designer de interiores Baron Roger de Cabrol e pela promotora do Studio 54, Carmen D’Alessio, era de facto alugado – e tinha renda estabilizada. (A herdeira dos diamantes pagava menos renda do que eu!)”, comenta a jornalista.
O artigo prossegue: “Encontrei o enteado de Betty, Pierre Cohen, que trabalha no negócio dos diamantes na Bélgica. ‘Albert era um grossista de diamantes normal na Rua 47’, disse-me Cohen sobre o passado de classe média alta do seu avô. ‘E não era particularmente bem sucedido, uma vez que vivia em Portugal metade do ano.’ Quando Albert morreu, Cohen herdou uma quantia que mais parecia uma prenda, diz ele, e menos do que teria sido necessário para comprar um apartamento”, aponta a publicação.
“Os meus avós eram pessoas simples”, diz o filho de Betty, Roger Basile sobre a família. “Visitei-os uma vez na sua pequena casa no campo.”
O pai adotivo de Betty, que o casal dizia ser dono da revista masculina The Yachtsman, era, na verdade, um tipógrafo. Ainda segundo a revista, os registos do recenseamento confirmaram este facto e também indicaram que o avô de Betty – aquele cuja mulher era alegadamente dama de companhia da Rainha Maria – era apenas dono de um bar.
A Vanity Fair recorda que antes das acusações de agressão, o romance já tinha sobrevivido a todo o tipo de escândalos”, nomeadamente, “uma ação movida por uma ex-empregada, uma acusação de furto, problemas com a autoridade tributária portuguesa. Até houve uma cassete de vídeo, libertada em 2011, na qual José aparecia numa orgia, sem Betty à vista. José afirma ter sido drogado na noite em que o vídeo foi gravado”.
“O casal mantinha uma agenda extenuante: jantares, galas, desfiles de moda. Betty comparecia a esses eventos, às vezes de forma precária, numa cadeira de rodas, empurrada por alguém que também filmava e parecia gerir a sua conta no Instagram”, refere o artigo.

A jornalista conta que enviou um e-mail a Castelo Branco e foi prontamente convidada para um apartamento para tomar chá. “A casa deles parecia um cenário de filme maximalista. Esculturas de macacos ajoelhavam-se em oração sobre pedestais dourados. Uma sala de estar estava decorada com móveis Luís XVI, uma coleção de santos católicos e um nu masculino em bronze. A iluminação era por candelabro. Os assentos eram em leopardo. Uma ópera tocava em altifalantes ocultos”.
A jornalista refere que durante a conversa, Castelo Branco explicou-lhe que “as senhoras nunca cruzam as pernas” e que a frase “bon appétit” estava fora de moda. Outra “lição” de Castelo Branco: “Louis Vuitton deve ser usado apenas para as suas malas”.
“Os minutos passaram, ou talvez horas, e o chá nunca se materializou. Houve diatribes sobre nobreza, listas de convidados de festas passadas foram dissecadas”, afirma a jornalista. O artigo destaca o facto de o casal, “décadas atrasado no jogo dos influencers”, voltou-se “para o YouTube, Instagram e TikTok quando já não podiam viajar devido à saúde de Betty. Botox e artrite tinham dado a Betty uma amplitude limitada de movimento, mas ela mantinha uma inteligência aguçada”.
A peça da Vanity Fair conta que na noite de 21 de abril, depois de ser libertado da prisão, na sequência das acusações de agressão a Betty que a levaram ao hospital, José estava num comboio de volta para Lisboa, com pulseira eletrónica no tornozelo, cercado por paparazzi.
“O que ninguém sabia, claro, é que José estava de facto a pensar em fugir”, afirma Alice Haines que nas conversas que teve com Betty ela lhe garante que a violência que sofreu existia há muito, “desde o início”. Castelo Branco nega tudo.
Apesar de afirmar que não conseguia deixar Betty para trás, Nova Iorque era um destino possível para Castelo Branco, de acordo com a reportagem. “Se eu não conseguir ver a minha Lady, só me resta ir para a América e recomeçar,” disse Castelo Branco à Vanity Fair. “Eu sou como a Phoenix. Vou renascer das cinzas”, complementou.
José defendeu-se, referindo à Vanity Fair que “Betty foi provavelmente coagida por um ‘grupo terrível’ de conspiradores, que teriam plantado um chip no ouvido de Betty, enganando-a e manipulando-a para incriminar José. ‘Betty foi atacada’, disse José. ‘Porque as pessoas querem o que ela tem’”.
A jornalista conta ainda que, com uma outra amiga do socialite, foi jantar com Castelo Branco: “Diana ordenou que todos ignorássemos a pulseira eletrónica, mesmo que fosse difícil não reparar no fio preto que corria do tornozelo de José até ao bolso, onde estava escondido o dispositivo”.
José ocupou o seu tempo a mostrar à jornalista fotografias de um grande leque de figurinos. “Eu sou imbatível”, disse José. “Eu sou o mestre da indumentária”, disse ainda.
A publicação recorda a biografia de José, a qual descreve a decisão de abraçar tanto a masculinidade como a feminilidade como uma reação a uma vida de dificuldades: “Sendo naturalmente andrógino na adolescência, José sofreu bullying, bem como agressões sexuais a partir dos 11 anos. ‘Eu estava muito traumatizado. Um dia, disse a mim mesmo: ‘Já chega, José!’ Fui um pioneiro neste país. Abri o caminho para as pessoas se sentirem livres para serem elas mesmas.”
A jornalista da Vanity Fair diz ter visto vídeos de José com Betty, no seu pico: a visitar os Champs-Élysées, a desfilar na Semana da Moda de Nova Iorque, a discutir com funcionários na Louis Vuitton: “Estavam apaixonados por igual, apaixonados por eles próprios. A certa altura, José foi acusado de tentar roubar uma garrafa de água de uma loja de conveniência. Um segurança alertou a polícia, e José deu-lhes uma lição sobre moda”.
Em declarações à Vanity Fair, o filho de Betty diz, porém, que a mãe não tem os alegados milhões e que vive da Segurança Social: “A minha mãe não tem um tostão!”, garante, explicando que, apesar de ter sido uma mulher que “vivia bem”, atualmente os seus únicos bens de valor são roupas, joias e a casa em Sintra, que o casal hipotecou.
Roger Basile afirma que Betty, a sua mãe “nunca se fez passar por mais do que era”, em termos de riqueza ou de títulos. “O José deu força a estas histórias e eles tornaram-se celebridades em Portugal. E ela alinhava nisso porque gostava da atenção.”
Betty também admite que José tinha “inventado histórias”, incluindo sobre a sua condição de dama e sobre a sua avó adotiva, que supostamente teria sido dama de companhia da Rainha Maria. “O José gosta de glorificar tudo e de se exibir”, considerou.