Considerada pela Deloitte como uma das 50 empresas nacionais com maior crescimento na área da Tecnologia, a Critical Manufacturing é uma empresa com berço em Portugal, mas que trabalha para o mundo. Reconhecida também como uma das empresas líderes na tecnologia, pela Gartner, a empresa de desenvolvimento de software para a indústria (MES – Manufacturing Execution Systems), especializada no segmento dos semicondutores, pertence agora ao grupo ASMPT, cotado na bolsa de Hong Kong, que a absorveu em 2018. Regista atualmente crescimentos que rondam entre os 45% e os 60% ao ano. O que levou, afinal, uma empresa de Singapura a interessar-se por esta tecnologia nacional?
Francisco Almada Lobo, atual CEO, conta como tudo começou: o gestor era então quadro da Qimonda, empresa que se tornou conhecida após o seu mediático processo de falência a nível mundial, e para a qual trabalhava desde 1997. Esta era a herdeira do negócio do software para semicondutores da Siemens, que mais parte passou a Infineon Technologies e que, finalmente, assumiu o nome de Qimonda Portugal – filial da Quimonda AG, fabricante europeu de semicondutores. Esta empresa fazia a montagem e teste de semicondutores, sendo então Francisco Almada Lobo o responsável pela área de desenvolvimento de software, um departamento que se chamava de Porto Development Center. Este desenvolvia software para todas as empresas do grupo e era constituído por uma equipa de 150 engenheiros.
Quando a falência foi anunciada, o gestor queria encontrar uma solução para os seus colaboradores e, em conjunto com um grupo de pessoas chave, entendeu que havia condições para criar um projeto centrado num produto de software, criado de raiz, que respondesse às necessidades da gestão industrial nas fábricas de semicondutores.
Como montar um negócio de raiz
“A partir daí tentámos juntar um grupo de pessoas disponíveis para esse projecto, procuramos investidores, o que não foi fácil, mas houve uma empresa que acabou por acreditar em nós, a Critical Software, – empresa de Coimbra com a qual já tinha trabalhado e era fornecedora de serviços para a Qimonda”, explica o executivo. A Critical Software trabalhava essencialmente para a indústria aeroespacial, da defesa, e das telecomunicações e transportes e considerou que havia potencial em trabalhar para os meios industriais. “A Critical Software realizou a parte principal do investimento e um conjunto de seis pessoas individuais, da qual fiz parte, entraram com o restante capital”, explica.
Como pertence a um grupo cotado em bolsa não pode divulgar os resultados locais, mas para dar uma ordem de grandeza, o gestor afirma que as receitas se situam entre os 60 e os 70 milhões de euros.
O investimento inicial da empresa, em 2009, rondou os 3 milhões de euros e o seu foco foi sempre o mercado internacional, daí que ainda hoje as exportações representem entre 98% a 99% das receitas do grupo. Este investimento foi transferido para um fundo de capital de risco da Critical Software, e quando a empresa começou a ganhar dimensão começaram a surgir interessados na sua aquisição e a certa altura, em 2018, surgiu a proposta de um grupo industrial que fazia sentido para a estratégia. Foi então vendida, na sua totalidade ao grupo industrial ASMPT. Este grupo de Singapura, cotado em bolsa, tem investimentos na área dos equipamentos industriais para semicondutores de eletrónica e pretendia entrar também na área do software. Foi assim ditado o casamento.
Francisco Almada Lobo, e os outros acionistas iniciais saíram do capital e ficaram como quadros da mesma. “Mas a empresa é gerida autonomamente, não temos executivos da casa-mãe em Portugal”, refere o gestor. Adiante que a Critical Manufacturing está no centro da estratégia de software do grupo: “a ideia era ser uma power house nesta área, para que além do valor direto, possamos agregar outras ofertas complementares”.
Crescimento contínuo aprova nova rota
Inicialmente não acertaram logo com a estratégia do novo negócio, mas a partir de 2011, a rota foi definida e o crescimento não parou. “Começámos a ter um produto mais estável, e a chamar mais à atenção de algumas empresas industriais. Desde 2011 só temos tido crescimento e sempre resultados positivos”, refere.
O gestor afirma que nos primeiros tempos encontrou inúmeras barreiras no mercado internacional, e que havia quem questionasse o porquê de comprar software português. “Nesses casos tínhamos de explicar a história toda. E depois era mostrar que tínhamos experiência nesta área, e que conseguimos fazer um produto novo, aplicando a tecnologia, resolvendo muitos problemas”, explica. O primeiro cliente que conseguiu angariar foi uma empresa alemã de células solares, porque as células solares tinham um processo muito parecido com o dos semicondutores.
São cerca de 80 os clientes da empresa, que afirma não ter excessiva dependência de alguma. O top 10, que representa 57% das vendas, tem vindo a diminuir de peso, afirma.
O produto tem uma base comum, tal como um ERP, mas é um produto muito modelar, que acompanha todas as rotas de produção, de todos os materiais, de todos os equipamentos, ou seja, todos os processos são geridos por este software. “Tem uma componente de adaptação de configuração do produto ao cliente, mas há sempre algumas coisas feitas à medida porque é impossível antecipar a 100% todos os processos do cliente”, explica Francisco Almada Lobo.
Diversificação foi um passo importante
Depois dos primeiros passos no negócio, a gestão da empresa percebeu que os processos aplicados à indústria dos semicondutores poderiam ser replicados em quase todas as indústrias e diversificou a sua atuação. Depois de várias tentativas, focou-se essencialmente em quatro segmentos industriais: a inicial, claro, dos semicondutores, a eletrónica, os dispositivos médicos e finalmente os equipamentos industriais. Ainda hoje mantêm estas quatro áreas. “Começámos a crescer a sério quando percebemos que não podíamos ser tão generalistas, mas sim focados nas indústrias principais”, explica Francisco Almada Lobo.
A Critical Manufacturing está a investir cerca de dois milhões de euros no aumento das instalações no parque industrial da Maia, para acomodar as mais de 460 pessoas que tem só em Portugal.
A sua concorrência ao nível dos semicondutores são apenas seis ou sete empresas a nível mundial, todos grandes players, como a Siemens e a IBM. Se tivermos em conta todos os segmentos em que atua, então serão mais de 500 as que oferecem este tipo de serviços.
Como pertence a um grupo cotado em bolsa não pode divulgar os resultados locais, para dar uma ordem de grandeza, o gestor afirma que as receitas se situam entre os 60 e os 70 milhões de euros. São cerca de 80 os clientes da empresa, que afirma não ter excessiva dependência de alguma. O top 10, que representa 57% das vendas, tem vindo a diminuir de peso, afirma.
As dores do crescimento
“Este crescimento traz desafios de como é que vamos aguentá-lo, porque começamos a vender para clientes com 20, 30 e 40 fábricas”, afirma Francisco Almada Lobo. Foi necessário então aumentar a capacidade dos recursos humanos, sendo que a equipa já ultrapassa as 600 pessoas neste momento – chegaram mesmo a contratar 20 pessoas por mês na fase da pandemia. Optaram por fazer parcerias, e tem grandes empresas, como a Accenture e a Tata, a fazer integração de sistemas do seu software.
A Critical Manufacturing pretende crescer pelo lado das fusões e aquisições: através do fundo Critical Ventures, da Critical Software, no qual tem uma participação, procura startups ou e outras empresas em crescimento que possam ter produtos complementares à sua oferta.
Para já a empresa está a investir cerca de dois milhões de euros no aumento das instalações no parque industrial da Maia, para acomodar as mais de 460 pessoas que tem só em Portugal. As restantes estão na China, na Alemanha, nos Estados Unidos, no México e na Malásia. “O hub principal de engenharia ainda é em Portugal”, explica. A Critical Manufacturing adquiriu duas empresas, uma no México e outra na Malásia, para reforçar as equipas, tendo aí mais de 80 pessoas.
A companhia quer continuar a caminhada ascendente e para isso aposta numa outra área que se está a tornar importante, a de analytics. Com o advento da Inteligência Artificial, o elevado volume de dados de que dispõem tornam-se cada vez mais relevantes para a tomada de decisões.
Por outro lado, pretende também crescer pelo lado das fusões e aquisições: através do fundo Critical Ventures, da Critical Software, no qual tem uma participação, procura startups ou e outras empresas em crescimento que possam ter produtos complementares à sua oferta.