“Começámos o ano sabendo que a crise mundial de água é real, e que está nas nossas mãos, nas mãos de quem tem o privilégio de poder usar o seu tempo livre para ajudar os outros, mudar esta realidade”, escreve Constança Santos Silva, presidente e co-fundadora do Thirst Project Portugal, no relatório anual de 2023 do projeto.
E assim foi.
Ao longo do ano a equipa conseguiu angariar mais de 60 mil euros, o que possibilitou a construção de cinco furos. No total, são mais 1334 pessoas que agora têm acesso a água potável.
“No Reino de Essuatíni tive a oportunidade de falar com um senhor chamado Jameson. O Jameson é o líder da comunidade de Mahhashini, onde o Thirst Project Portugal construiu o seu 3.º furo. Recebeu a equipa de braços abertos, falou sobre Vasco da Gama e contou o que aprendeu na escola sobre Portugal. Tem quatro filhos e acolheu-nos a todos como se fossemos o seu quinto. Disse-me: ‘Eu já tinha ouvido o nome Thirst Project. Todos sabemos que a organização existe, mas nunca achamos que teremos a sorte de ser os próximos a ser ajudados. Vocês tornaram os meus sonhos realidade. Agora, a comunidade de Mahhashini pode sonhar. Do fundo do meu coração, obrigado'”, conta Constança na mesma carta.
No mundo existem perto de 8 mil milhões de habitantes, 2,2 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 3,5 mil milhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico. Em 2022, já existiam regiões afetadas por esta crise um pouco por todo o globo, sendo que a África Sub-Sahariana, que, em 2022, tinha 407.996 pessoas sem acesso a água potável, é a região mais afetada.
A crise mundial da água é uma realidade que não pode ser ignorada, ou não fosse este um recurso essencial para a vida humana, à sua saúde e desenvolvimento.
Foi com isto em mente que o Thirst Project foi criado, uma organização sem fins lucrativos que nasceu em Los Angeles, EUA, em 2008. O objetivo destes jovens passa por combater a crise da água através da construção de furos de água potável. Em Portugal, o projeto começou oficialmente em 2019.
“O Thirst Project Portugal desempenha um papel crucial no compromisso global de fornecer água potável a países em necessidade deste recurso. Enquanto a organização atua atualmente em diversos países, incluindo o Reino de Essuatíni, o foco particular neste país não é por acaso, mas sim resultado de uma abordagem estratégica e da busca por um impacto significativo”, lê-se no relatório anual.
A urgência nesta região, com cerca de 1,2 milhões de habitantes, é facilmente explicada pelos números da Organização Mundial da Saúde e UNICEF: apenas 69% da população tem acesso a serviços básicos de água; só 58% têm acesso a serviços sanitários; a taxa de desemprego é de 22,5%; 59% da população vive na pobreza.
Para combater esta realidade nesta ou outras regiões, o Thirst Project começa pela angariação de fundos para a construção dos furos de água. Segue-se a avaliação financeira, a transferência para o projeto nos Estados Unidos, a alocação do furo a uma comunidade e transferência para o Thirst Project da comunidade local. Já na região, começa a formação, manutenção e reparação, a criação de um Fundo de Operações e Manutenção da comunidade, decisão do local da construção, preparação do solo, aquisição dos materiais e, por fim, construção do furo. Segundo o relatório, no total são investidos perto de 12 mil dólares na construção do furo.
Através dos 10 furos construídos pelo grupo português até hoje, 2987 pessoas passaram a ter acesso a água potável.
A análise financeira do Thirst Project Portugal em 2023 oferece uma visão abrangente daquilo que é a gestão e necessidades de um projeto como este. A receita chegou a cerca de 81 mil euros, enquanto que a despesa ficou fixada nos 73 mil euros.
