Em qualquer área, a aposta em conhecimento, aprender noutras geografias, com quem faz diferente, é essencial. Podia ter-me instalado no conforto de quem trabalha em exclusividade para um canal de televisão há mais de duas décadas, sou uma privilegiada nesta área, eu sei, mas talvez hoje não estivesse aqui, do outro lado do oceano, a participar numa série internacional. Isto não se ensina, mas pode ser incutido, desde cedo. Ter mundo, ambição, vontade de adquirir continuamente conhecimentos, torna-nos melhores, obriga-nos a trabalhar mais e melhor e a não nos conformarmos com “mesmismos”.
E é também desde cedo, que se pode fazer a diferença. As crianças deviam ter mais acesso à cultura. Esta tem de estar mais impregnada nas escolas, pois só a partir de uma boa educação é que se consegue levar a que as pessoas assistam a mais espetáculos, estejam a par do que se passa, percebam que a cultura é uma abordagem ao futuro e ao mundo, que vai lançando vários alertas, sendo um contributo para a evolução da sociedade. Devemos incentivar o consumo de cultura a todos os níveis, sejam eles teatro, cinema (não apenas o comercial, mas também o que nos faz refletir), dança, concertos, livros. A cultura no seu todo tem de ser introduzida de uma forma urgente.
Claro que, no meio disto tudo, deveríamos começar pelo apoio financeiro com percentagens maiores do orçamento de estado, para que haja mais produção, a oferta seja maior e o público tenha mais opções do que consumir. É um direito do público.
Outra situação que acho urgente que aconteça em Portugal é a existência de representatividade de pessoas não brancas no audiovisual. Deveria ser criado um consenso geral na procura de espaços, não apenas para os atores, mas também nas funções técnicas, sejam elas realizadores, produtores, diretores. A oportunidade tem de existir para todos. Aqui no Brasil isso não é uma lei, mas é um consenso, uma ética de proteção e realmente tem funcionado pois quando olho para as telas vejo todas as cores, vejo uma mistura linda que torna tudo mais real, um reflexo mais autêntico do mundo em que vivemos.