O momento em que te tornas uma Under 30 da Forbes, o que é que isso significou para ti?
Claro que, além de ser uma grande honra, é um bocadinho uma responsabilidade. Agora tenho que provar às pessoas que sou merecedora desse título. Mas acho que é uma honra. Depois nós fizemos um jantar todos e ficas um bocado ‘o que é que eu estou a fazer aqui? eles são todos tão empreendedores’. Estavam a falar sobre os projetos e acho que é super interessante e mesmo bom poder estar num grupo com pessoas tão interessantes.
No jantar, escolheste os melhores momentos do teu ano: “Fui para as Filipinas fazer um projeto internacional, fiz os Morangos, ganhei um prémio em Cannes e ganhei um Globo de Ouro”. Continuam a ser estes os teus destaques?
Deste ano, sim, acho que sim. Entretanto tenho outro projeto que ainda não posso falar, mas acho que até agora o que posso dizer é que são esses os meus destaques.
O projeto que fizeste nas Filipinas foi a série dq Disney+?
Não, a série fui para a Hungria, há cerca de um ano, fiquei lá cinco meses, desapareci um bocadinho de Portugal e fui para o frio. Nas Filipinas foi um filme. Está no segredo dos deuses.
Como é que surgiu o projeto da Disney+?
Ainda não se pode falar grande coisa, mas surgiu não só pela minha agente do Reino Unido, como pela minha agente de Portugal e também pela Jo Monteiro, que é uma diretora de casting portuguesa. O meu nome acabou por surgir nos castings, fiz a self tape e fui para a Hungria cinco meses, senti que estava ali um bocadinho caída de paraquedas, aquele síndrome do impostor em que ficas ‘o que é isto?’, mas foi muito giro.
A entrada no mercado internacional foi planeada?
Era um objetivo meu, mas acho que não é uma coisa que tu planeias porque não consegues planear, vais fazendo castings. Claro que eu, como atriz, sempre tive esse sonho, não só de trabalhar e fazer o que posso cá em Portugal, mas também acabar por internacionalizar a minha carreira. Acho que ir jogando um bocadinho dos dois lados é o que quero neste momento.
Foi preciso um posicionamento diferente da tua parte?
Não, acho que não fiz mudança nenhuma. No meu Instagram sou muito eu, sou quem eu sou. Portanto acho que não houve grande mudança. É de castings, de agentes e sorte, e a sorte dá muito trabalho, portanto trabalho e esforço.
Foi muito diferente este trabalho lá fora em relação ao que estavas habituada por cá?
Claro que há diferenças, não só pela língua, como pelas pessoas, a maneira de trabalhar, e também algumas condições porque claro que há séries com mais dinheiro. Acho que é um bocadinho ela por ela. Óbvio que vais para uma Disney+ é uma coisa, vais para as Filipinas é outra, estás cá em Portugal tens uns projetos que são uma coisa e outros projetos que são outra. Acho que depende do projeto, depende do budget, mas também depende das pessoas. Um projeto pode ter imenso dinheiro e as pessoas podem ser um bocadinho mais distantes e frias, como podes estar a fazer um projeto pro bono e as pessoas serem amorosas e crias ali uma família. Não estou muito focada no budget dos projetos neste momento, estou focada em divertir-me enquanto não preciso de pagar contas, fazer aquilo que eu gosto e me faz feliz.
Sentiste uma responsabilidade acrescida por protagonizares o regresso da série de maior sucesso da televisão portuguesa, os Morangos com Açúcar?
Sentes uma responsabilidade, mas acho que falo por todos, não por protagonizar, falo pelo elenco todo. O facto de saberes que era uma série que fazia parte da infância de uma geração inteira, da adolescência de muitas pessoas de 20 e 30 anos, e do nada nós estarmos a regressar a esse tempo. E as pessoas tinham expetativas, acho que é uma gestão de expetativas não só nossa como atores, mas das pessoas como expetadores.
O resultado correspondeu às tuas expetativas?
Sim. Estreia muito tempo depois de fazermos, então há sempre coisas. Tu cresces como pessoa, como atriz, e há muitas coisas que eu olho hoje e penso ‘fazia isto tão diferente’. Mas tendo em conta quem eu era naquela altura e as minhas vivências naquela altura, sim, estou orgulhosa de nós, do elenco, da produção, da realização, da imagem. Se não estivesse [na série], veria.
Da parte do público, achas que toda a gente entendeu este novo formato?
Acho que entendem, podem gostar ou não gostar, mas gostos não se discutem. Acho que olham e percebem que é preciso uma evolução, que o audiovisual mudou de há 20 anos para cá. Portanto, sim, é preciso haver uma mudança. Claro que fomos para uma coisa que se calhar funciona mais hoje em dia e para um target que não são tanto as pessoas que viram os Morangos antigos. Gostos não se discutem e é super compreensível quem não goste, entendo perfeitamente. E criticas construtivas são bem vindas.
O mediatismo foi maior com este projeto quando comparado com outros projetos que tenhas feito anteriormente?
Não sei. Não é que esteja habituada, acho que estou mais velha e se calhar tenho mais noção. Quando tinha 10 anos não tinha tanto, estava lá a brincar. Mas as pessoas têm sido muito carinhosas, pelo menos comigo. Tenho recebido muitas mensagens e mesmo na rua costuma ser feedback muito positivo. Acho que quando vais ficando mais velha, vais tendo mais noção. Aprendes a lidar, porque com 10 anos não lidava, ninguém sabia quem eu era. Quando começas finalmente a levar como uma profissão, uma carreira, é bom e muito prazeroso que as pessoas venham ter contigo e digam, por exemplo, ‘identifiquei-me imenso, adorei’. E mesmo críticas construtivas, é muito bom porque significa que mexeu com as pessoas e que de alguma maneira, mesmo que não tenham gostado de alguma coisa, dizem ‘eu não gostei, esta parte devia ter sido mais assim’ e tu levas aquilo tranquilamente porque é bom, mexeu com as pessoas.
O prémio que ganhaste em Cannes, pela curta, que mensagem gostavas que ele deixasse aos mais jovens?
Acho que a mensagem que deixou. Nós dissemos isso depois no discurso do Globo de Ouro, em que dedicámos o prémio a todas as pessoas que estão a passar um mau bocado neste momento, para dizer que é normal. O Lucas [Dutra] tentou mostrar as três gerações. Como era no tempo dos nossos avós a saúde mental, que era como se as doenças mentais não existissem, nos nossos país, que foi uma coisa que começou a ser um bocadinho falada, e agora, que é muito falado. E é importante ser falado porque é saúde, se eu partir uma perna vou ao hospital, portanto se eu estiver “mal da cabeça” não há problema nenhum em ir a uma psicóloga. E está tudo bem. Eu ando numa psicóloga e aconselho imenso, é a minha melhor amiga, desabafo tudo. É bom falarmos sobre as coisas que nos preocupam e nos atormentam porque às vezes não é assim tão grande como nós achamos que é.
E o que é que significou para ti?
Acho que significou mais para mim como pessoa. Ter uma ideia, construir uma ideia com o Lucas e vê-lo a realizar essa ideia, porque o prémio que ganhámos foi o de argumento, ou seja como atriz não ganhei grande coisa, mas é bom saber que somos ouvidos, não só em Portugal como lá fora. E é a prova que o assunto é um assunto que tem de ser falado.
Sentes que é a prova de que, principalmente com a chegada da Internet, estes projetos devem ganhar vida mesmo que alguma empresa, canal, plataforma não queira pegar neles?
Sim, acho que as redes sociais, como tudo na vida, têm os seus pontos fortes e pontos fracos. Definitivamente um dos pontos fortes é que consegues expor problemas e consegues falar sobre as coisas muito mais abertamente e com um público muito mais abrangente do que conseguias há um par de anos. Acho que definitivamente as redes sociais têm um papel bastante importante nisso.
Para a tua geração é uma responsabilidade falar sobre estes temas?
Acho que sim, acho que está a começar a haver uma abertura maior para se falar disso. Não é tanto uma responsabilidade, ‘ah eu tenho que falar disto porque as pessoas vão ouvir’, é mais ‘isto é um assunto e eu acho que devia ser tratado’. É falar sobre coisas que toda a gente pensa e que não só a nossa geração, como mais gerações estão a começar a perceber, diria eu. Acho que as redes sociais são isso, neste momento é raro a pessoa que não tenha redes sociais portanto, tanto para o bom como para o mal, elas funcionam bastante rapidamente.
Sentes que como figura pública isso te é exigido de alguma forma?
Não, zero. Não acho que seja uma obrigação, mas tens o dever de falar e de tomar um papel ativo nas coisas. Tenho pessoas a olhar para mim e se acho que isto está correto, vou partilhar: eu acho que isto está correto, acho que devíamos fazer isto. Mas não acho que seja uma obrigação, acho que é um dever para com as pessoas porque tens uma voz ativa. Mas se não quiseres, está tudo bem.
A mesma curta levou-te a ti e ao Lucas a vencerem o Globo de Ouro. O quão importante foi esse reconhecimento também em Portugal?
É bom, é sempre bom ver que o nosso país nos apoia também. Foi um bocadinho estranho, eu pelo menos não estava nada à espera. Nós falámos nisso lá no dia, ‘não vamos ganhar, mas está tudo bem, foi bom já termos sido nomeados’. Porque quanto mais reconhecimento temos, mais a palavra se espalha. E eu acho que tanto eu, como o Lucas, como toda a gente envolvida no projeto, nós não fizemos pelo reconhecimento, fizemos pela mensagem que estávamos a passar. Mas é sempre bom e é sempre uma massagem ao ego ganhar prémios com aquilo que achamos que devemos falar e que fazemos bem.
Sentes que é mais fácil o reconhecimento cá acontecer depois do reconhecimento a nível internacional?
Acho que depende, depende do projeto, de todas as probabilidades. Há pessoas que não têm reconhecimento lá fora e têm cá dentro, há pessoas que têm lá fora e não têm cá. Eu acho que depende muito. Como artista é bom ter os dois.
Tu trabalhas desde os 10 anos. Nessa altura já olhavas para tudo isto como trabalho ou era apenas algo que te divertias a fazer?
Eu com 10 anos não sabia o que era trabalhar, eu saía da escola e ia-me divertir, ia ouvir as pessoas com quem eu contracenava a fazer brincadeiras, a fazer-me partidas, a dizer-me que me iam arrancar os dentes porque não fazia raccord. Era uma coisa que eu gostava mesmo muito, até que pensei ‘eu quero fazer disto vida, eu não troco isto por nada’. Não sei quando é que essa mudança aconteceu, mas sei que a algum ponto aconteceu e agora claro que vejo como uma coisa que eu amo fazer, mas começas a ver como um trabalho.
Como é que foi conciliar o trabalho com os estudos?
Relativamente fácil. Felizmente, eu tive muito apoio da minha família. Principalmente naquela fase inicial em que a única coisa que eu fazia era chegar a casa e ver filmes. Foi muito bom porque eu saía da escola, ia filmar, chegava a casa e a minha mãe ajudava-me a fazer os trabalhos de casa, ajudava-me a estudar o texto para o dia a seguir. Ter o apoio da minha família foi uma coisa muito importante e da qual estou muito grata, porque sei que não tinha conseguido fazer as coisas nem metade bem, na escola, não tinha conseguido ter metade das notas que tive se não fossem os meus pais.
Como é que te descreves como atriz?
Vou dizer aqueles clichés que toda a gente diz: sonhadora e trabalhadora. E acho que divertida. Tento divertir-me o máximo possível porque se não nos tivermos a divertir depois não tem piada.
De tudo o que já fizeste até hoje, qual é o projeto que destacas e porquê?
Todos, todos por diferentes motivos. Destaco uns por amigos que fiz para a vida, destaco outros por a minha fotografia favorita, outros pelo meu realizador favorito. Em todos aprendi muito, tentei sempre ser uma esponja e absorver tudo o que conseguia. Claro que absorvi coisas boas e absorvi tiques e coisas que depois é preciso desconstruir um bocadinho, mas acho que destaco todos por diferentes motivos. Ajudaram-me a crescer tanto como atriz como como pessoa.
O trabalho que tens no digital, como influenciadora, é algo que valorizas e algo em que te focas ou apenas uma consequência da exposição como atriz?
Acabou por ser uma consequência. Eu quero ser atriz e sempre quis, e é o meu foco, mas claro que a partir do momento em que sentes que tens uma voz, vais falar. Eu tento um bocadinho, principalmente ultimamente, mostrar às pessoas que me seguem o que é este lado que se calhar não conhecem da vida de atriz. Mas sim, sou atriz e depois vou falando com as pessoas nas redes sociais.
Como é que olhas para a cultura em Portugal? Em que momento estamos?
Acho que agora estamos num momento de mudança. A Netflix está a entrar, a HBO está a entrar, a Amazon já está a fazer imensas coisas. Acho que estamos num momento de mudança, pelo menos no audiovisual, e é uma coisa que me deixa muito ansiosa e entusiasmada.
O que é que Portugal tem para oferecer a essas plataformas?
Tudo, nós somos bons, fazemos bem e somos esforçados. Eu acho que pelo menos a maior parte das pessoas que eu fui vendo trabalhar gosta do que faz, portanto nós temos muito para oferecer, não só em termos de audiovisual, como a nível do nosso país. O nosso país é um país lindo. É a minha casa, por mais que eu vá lá para fora sei que vou sempre voltar.
Quais são os teus principais objetivos a curto prazo e a longo prazo?
Depende de como as coisas forem acontecendo. Quero ganhar um Óscar, mas isso é mais a longo prazo. Quer dizer, se for a curto prazo está ótimo também. Mas quero trabalhar, quero divertir-me, quero ser feliz a fazer o que faço, quero fazer projetos bons, prazerosos e eventualmente ir para fora. Mas eu vou para fora e sei que volto. Eu amo Portugal, vou sempre voltar.
Que mensagem deixas aos novos Under 30, que serão anunciados ainda este mês?
Divirtam-se. Podem sentir-se honrados com o título, está tudo bem, ninguém julga. E façam o que gostam.