Charlie Hugh-Jones é coach de líderes e equipas, fazendo também parte dos conselheiros da Forbes desde 2019. Aproveitando os dias mais relaxados que as férias de verão proporcionam, este especialista aborda para a Forbes como é que, através do mindfulness, as pessoas podem conseguir abandonar alguns maus hábitos que têm e, dessa forma, alcançar de uma forma mais serena as metas, profissionais e pessoais, a que se propõem.
Hugh-Jones dá o exemplo de Toph, uma das muitas pessoas com grande capacidade de trabalho com quem trabalhou – “uma mulher inspiradora que possui uma disciplina extraordinária, assim como uma grande força de vontade para atingir os seus objetivos e fazer a diferença no mundo”, comenta o especialista em acompanhamento pessoal. No entanto – refere Hugh-Jones -, ela ainda luta contra hábitos negativos.
Este mentor afirma que, recentemente, Toph lhe pediu que a ajudasse a descobrir por que motivo ela não conseguia parar de ver os e-mails assim que acordava. “Li alguns estudos que diziam que eu poderia ser mais produtiva e ter mais capacidade de gerir a minha energia emocional durante o dia se não verificasse o correio eletrónico antes de fazer outras tarefas”, diz ela. “Mas eu simplesmente não consigo evitar de ler os mails”.
Explica Charlie Hugh-Jones que a maioria das pessoas de elevado desempenho pensa, erroneamente, que vencer hábitos maus passa por invocar mais autodisciplina ou ir buscar força de vontade ainda mais lá ao fundo.
Mas – salienta este especialista – a neurociência comportamental está a começar a mostrar-nos que é preciso mais do que autocontrolo para mudar velhos hábitos.
A resposta para isso é, porém, surpreendentemente simples, diz o coach Hugh-Jones: ficar mais atento às recompensas que reforçam esses comportamentos.
O segredo está nas recompensas
Este consultor declara que as pesquisas mostram que ao direcionarmos a atenção para a totalidade da experiência daquilo que os hábitos nos proporcionam isso permite-nos mudar a nossa relação com as recompensas e, consequentemente, alterar os nossos padrões de comportamento.
Explicando com um exemplo: a recompensa por fumar, por exemplo, pode inicialmente parecer óbvia – acalmar os nervos. Mas, ao prestar mais atenção a toda a experiência, pode perceber-se também que os cigarros deixam um mau gosto na boca, além de manchar os dentes.
Os estudos indicam, ainda, que essa abordagem, particularmente na área do fumo, alimentação e consumo compulsivo de redes sociais é incrivelmente eficaz. “No caso do fumo, a técnica da mindfulness tem cinco vezes mais sucesso do que outras metodologias. Mas por que é que isso acontece?”, questiona Charlie Hugh-Jones.
Este coach responde de seguida, salientando que quando a pessoa tenta reformular os seus maus hábitos através da autodisciplina, está a lutar contra um dos processos de aprendizagem mais tradicionais do ponto de vista evolutivo – o sistema de reforço positivo e negativo.
Reprogramar o “piloto automático” leva à mdança de comportamento.
“A mente descobriu que é possível a pessoa aliviar-se dos stresses diários através desse mesmo sistema. Pensar consome muita energia e os nossos mecanismos foram projetados para reduzir essa procura, mantendo-se assim num estado de piloto automático”, diz Hugh-Jones.
A mindfulness permite que a pessoa integre na sua mente o pensamento que diz: “Sei que isso não é bom para mim porque…”. Isso acaba reprogramando o seu “piloto automático”, de modo a que, quando a pessoa invocar a atenção para toda a experiência que esse hábito lhe trará, haverá uma atualização do seu registo de recompensas, passando a incluir também as associações negativas.
Com o tempo, este exercício vai reduzir o valor da recompensa e libertar a pessoa do comportamento compulsivo.
Mas, para que esta metodologia funcione, é preciso prática e repetição, adverte este especialista que aponta três dicas para que esta abordagem possa levar a pessoa de uma forma consciente a reformular os seus hábitos:
1. Descubra os seus gatilhos
“Qual é o gatilho que está a fazer com que esteja a agir de acordo com esse hábito ou que não está a deixá-lo mudar o seu comportamento?”, deixa no ar a pergunta este especialista. Usando, novamente, o exemplo de Toph, Hugh-Jones diz que esta sua cliente descobriu que a sua fonte generalizada de stress vinha do facto de que a sua empresa estava a ser adquirida. Todas as manhãs ela acordava a perguntar-se se ainda seria a diretora operacional do grupo no final do dia, o que a deixava constantemente no limite. Por isso, ela ficava a verificar as suas mensagens antes mesmo dela dar a si mesmo a oportunidade de decidir não o fazer.
2. Crie uma lista de recompensas
“Pedi a Toph para passar alguns dias a observar o que ela recebe em troca ao verificar imediatamente as suas mensagens todas as manhãs. O alívio foi a recompensa subjacente que ela me revelou: ela acorda tensa, mas consegue reduzir esse nível de stress ao saber que ainda tinha a sua posição garantida naquele dia. Portanto, da próxima vez que trocar a finalização de um relatório por alguns minutos no Twitter, não lute contra isso. Pelo contrário, preste atenção no que obtém com essa ação”, afirma Hugh-Jones.
Este coach dá outro exemplo: “Qual é a sensação de comer junk food quando não está com fome? Faça um inventário das suas respostas a essas perguntas – anotá-las ajuda a deixar o problema mais visível. Assim, a pessoa dar-se-á conta de que surgirão alguns padrões”.
3. Desperte a sua curiosidade
“Eu perguntei a Toph o que é que ela mais notou depois de começar a concentrar-se nas recompensas e na sensação de alívio. Após o prazer inicial, ela também detetou uma deceção por não ter conseguido manter o acordo consigo mesma sobre a adoção de uma nova rotina matinal. Mas imagine se, em vez de ceder ao seu desejo por doces, o substituísse pela curiosidade? O que é que realmente acontece consigo quando sente esse apelo para fazer algo e depois satisfaz esse desejo?”, lança a pergunta este especialista.
Hugh-Jones refere que, à medida que presta mais atenção, a pessoa notará que os desejos são compostos de sensações físicas e pensamentos que surgem e diminuem com o tempo.
“Ser curioso ajudá-lo-á a observar essas sensações sem agir sobre elas. A pessoa pode navegar a onda do desejo ao nomear e experimentar plenamente os sentimentos que surgem no seu corpo e na sua mente a cada momento – até que essa sensação passe. Se se permitir observar os seus hábitos com mais atenção em vez de invocar mais autodisciplina e força de vontade, é provável que consiga progressos muito mais significativos”, afirma este especialista em coaching.