A Aon, empresa de serviços profissionais nas áreas de risco, reforma e saúde, divulgou as conclusões do 2021 Weather, Climate and Catastrophe Insight, um relatório global que apresenta os principais números do impacto dos desastres naturais a nível económico em 2021.
De acordo com o documento, o último ano registou em perdas económicas um total de 343 mil milhões de dólares (o equivalente a mais de €300 mil milhões), sendo $329 mil milhões (perto de €288 mil milhões) resultantes especificamente de eventos meteorológicos e climáticos.
A Aon acrescenta que, com estes números, 2021 tornou-se o terceiro ano com mais custos associados a desastres naturais – sendo esta análise efetuada após o ajuste da inflação –, ainda que o número de cataclismas tenha diminuído para 401 (face aos 416 registados em 2020), o que, segundo o relatório, demonstra o crescente custo e gravidade destes eventos.
Considerando o valor das perdas, 2021 foi o sétimo ano de maiores prejuízos nos registos da Aon, após o ajuste dos danos reais incorridos para dólares (segundo valores atuais), usando o Índice de Preços ao Consumidor dos EUA.
Embora 2021 não seja um ano recorde – muito abaixo dos anos de pico de perda observados em 2011 (US$ 615 biliões) e 2017 (US$ 532 biliões) –, o ano passado ficou acima da média (US$ 271 biliões) e mediana (US$ 265 biliões) do século XXI. Quando comparado com a última década (2011-2020), as perdas económicas foram quatro por cento maiores do que a média e 15% superiores à mediana.
Se nos focarmos aos eventos climáticos (associados às alterações climáticas, como inundações, secas, incêndios, por exemplo), 2021 aparece como o segundo pior desde 2007.
Outra das principais conclusões do 2021 Weather, Climate and Catastrophe Insight releva que, do total de eventos climáticos ocorridos no ano passado, somente 38% destes foram cobertos por seguros.
Anabela Araújo, Chief Broking Officer e Claims Director da Aon Portugal, refere que os resultados agora apresentados não são animadores: “Apesar do crescente compromisso de empresas, Estados e do próprio setor segurador em trabalhar no sentido de responder à crise climática que atravessamos e que fortemente impacta todos os países a nível económico, este novo relatório vem demonstrar que ainda nos encontramos no início da jornada”.
“É necessária maior ousadia na visão do risco climático”, diz anabela Araújo, da Eon Portugal.
Para Anabela Araújo “é, por isso, necessária maior ousadia na visão do risco climático e desenharmos novas soluções de proteção que consigam atenuar o impacto financeiro espoletado pelas catástrofes climáticas e, consequentemente, assegurar a sustentabilidade dos negócios e países.”
Já na perspetiva de Eric Andersen, Presidente da Aon plc, “existe claramente uma lacuna de proteção e inovação quando se trata de risco climático”. Para o executivo, “à medida que os eventos catastróficos aumentam em gravidade, a maneira como avaliamos e nos preparamos para esses riscos não pode depender apenas dos dados que temos do passado”.
Andersen salienta que é preciso “olhar para a tecnologia, como a Inteligência Artificial e modelos preditivos que estão constantemente a aprender e a evoluir para mapear a volatilidade de um clima em mudança. Com soluções escaláveis, podemos apoiar as organizações a tomar melhores decisões que as tornam mais resilientes à medida que continuam a enfrentar com mais frequência riscos interligados e cada vez mais voláteis.”
Segundo a Aon, 2021 fica também marcado por ser o quarto ano em que mais eventos climáticos superaram a barreira dos mil milhões de dólares em perdas – neste caso, 50.
Entre os eventos climáticos mais perturbadores de 2021 sobressai o furacão Ida, que assolou os EUA e as Caraíbas, o qual foi o desastre que mais perdas económicas gerou no último ano, num total de $75.3 mil milhões (mais de €65 mil milhões).
Atrás deste surgem também as cheias de julho na Europa Ocidental e Central, que, segundo o relatório da Aon, se tornaram o desastre mais caro de que há registo neste continente, tendo o mesmo alcançado perdas de $45.6 mil milhões (perto de €39 mil milhões). Também as cheias sazonais na China surgem na lista, com perdas de $30 mil milhões (cerca de €26 mil milhões).
Em Portugal e Espanha, o mau tempo nos meses de maio e junho do ano passado originou custos de mais de €131 milhões.
Relativamente a Portugal, o país surge na lista dos eventos climáticos registados no último ano juntamente com Espanha e ambos registaram perdas na ordem dos mais de $150 milhões (mais de €131 milhões), devido ao período de mau tempo que ocorreu entre 29 de maio e 14 de junho.
Sobre a resposta a este cenário, Carlos Freire, CEO da Aon Portugal, destaca: “Perante uma realidade onde o risco climático, em particular, e os long tail risks, em geral, são cada vez mais prementes, a solução terá de passar por modelos de negócio que mobilizem transformações estruturais para assegurar a resiliência das empresas e organizações em relação ao contexto de volatilidade, cada vez mais constante, criando uma abordagem mais direcionada para os princípios ESG (Environmental, Social, Governance)”.
O 2021 Weather, Climate and Catastrophe Insight é um relatório desenvolvido anualmente pela Aon com o objetivo de reunir informação que permita quantificar e qualificar riscos relacionados com catástrofes e, em simultâneo, avaliar como é que as organizações podem aumentar a sua resiliência num cenário onde o risco climático é cada vez mais volátil.