A par da inovação inquestionável que trouxe às nossas vidas, a tecnologia tem revolucionado mercados e impactado vários setores da economia. Através dela, alcançámos novos níveis de eficiência, de segurança e de escalabilidade, ao mesmo tempo que ganhámos competências para trabalhar de forma mais colaborativa e ágil. Tudo nos leva a crer que assim continuará a evoluir, porque a verdade é que este é o melhor momento da tecnologia – e é também a altura ideal para a usarmos a nosso favor. Mas a pergunta que se tem colocado há vários anos mantém-se: Porque é que não existem mais mulheres no centro desta transformação digital?
Os mais recentes dados do Women in Digital Scoreboard, da Comissão Europeia, mostram, mais uma vez, que existe um longo caminho a percorrer. O número de mulheres continua abaixo do número de homens na maioria dos indicadores associados ao digital, nomeadamente no que concerne aos que exercem funções no setor. Mas porquê? Entre os vários argumentos que têm sido apresentados na literatura, destaca-se o que parece ser mais óbvio ou, pelo menos, o mais concreto: falta de oferta.
De acordo com os dados da Direção-Geral de Estatísticas, Educação e Ciência, em cada 10 mulheres, apenas 1 se forma na área das engenharias tecnológicas. É matemático: a probabilidade de um empregador optar por contratar alguém do sexo masculino será, naturalmente, muito maior.
Surge, assim, uma nova questão. Porque é que as jovens mulheres não escolhem percursos escolares e universitários relacionados com tecnologia?
Os vários indicadores do Women in Digital Scoreboard parecem-nos indicar que as discrepâncias entre géneros são maiores nas camadas mais jovens, tendendo a encontrar um equilíbrio mais tarde, em faixas etárias superiores.
A título de exemplo, veja-se o indicador do Eurostat apresentado abaixo – Indivíduos com competências digitais mais do que básicas. A diferença entre homens e mulheres é cerca de 11% mais acentuada em faixas etárias mais baixas, comparativamente a uma diferença muito menos significativa nas faixas etárias que se seguem. Entre os 16 e os 19 anos, 72% dos rapazes possuem competências digitais mais do que básicas, face a apenas 61% das mulheres.
No entanto, torna-se evidente que as mulheres se vão aproximando dos homens nesta análise, à medida que ficam mais velhas (entre os 20 e os 24 anos), até que chegam a um momento em que se igualam. Entre os 25 e os 29 anos, a percentagem de mulheres e homens com competências digitais mais do que básicas é de 56% para ambos.
Tendo isto em conta, podemos pressupor que o desequilíbrio de género, no que toca ao interesse e envolvimento na área da tecnologia, começa em tenra idade.
Se pensarmos no impacto destes números, de forma mais alargada, compreendemos facilmente o porquê de, no momento de ingressarem no Ensino Superior, não existirem mais mulheres que escolham cursos no âmbito da tecnologia e do digital. À data, eram áreas de estudo que não despertavam interesse. Anos mais tarde, isto reflete-se num menor número de mulheres disponíveis para desempenharem funções nestes setores.
Acredito que, compreendendo a raiz do problema, poderemos impulsionar uma mudança efetiva. As iniciativas e programas – direcionados para as jovens mulheres – que antecipem o despertar de interesse para o digital tornam-se cruciais para que o gender gap seja significativamente reduzido. Estas ações precisam de ser dirigidas, essencialmente, às faixas etárias mais jovens.
Várias iniciativas têm sido apresentadas neste sentido. A nível público, sabemos que várias entidades governativas têm desenvolvido inúmeros programas, dos quais são exemplo o UPskill, o Jovem + Digital, o Engenheiras por 1 dia, entre tantos outros, que podem ser conhecidos em portugaldigital.pt. Mas também a nível privado, onde temos o exemplo do European Leadership Academy da Huawei ou a 42Lisbon.
Outras entidades, como a Women in Tech®, têm também desenvolvido um papel fundamental nesta missão de mitigar o gender gap – não só através do apoio a iniciativas educacionais, como também na apresentação e partilha de estórias de role models femininos na tecnologia, na promoção de eventos de networking entre juniores e seniores, e programas de mentoria para new joiners.
Apenas todos juntos – entidades públicas, privadas e ONGs – conseguiremos equilibrar a balança e garantir que a tecnologia não só tem espaço para as mulheres, como a elas também pertence.
Diana Marques
Head of Business Partnerhips da Women in Tech Portugal