Opinião

O que é que um líder e um pai têm em comum? O legado

Diogo Fabiana

Sou o Diogo, pai de duas filhas e pai de quatro projetos. Esta podia ser a sinopse do meu LinkedIn, até porque é um bom resumo da minha pessoa, seja como profissional ou como pai, dois papéis indissociáveis.

Lembro-me do dia em que abri a minha empresa tão bem como me lembro do dia em que soube que ia ser pai. Apesar de distantes, são dois eventos que têm muito em comum. Em ambos, foi necessário refletir sobre mim para perceber quem eu era realmente e sobre o propósito, objetivos, legado que queria deixar.  Foi necessário também refletir sobre se estaria preparado para assumir o papel de pai e de líder, uma decisão nada fácil de tomar, diga-se.

Como pai, preocupo-me com a segurança das minhas filhas, com o presente, mas muito mais com o seu futuro. As novas tendências, modas, estímulos, o estado do país, a educação, as redes sociais, e como isso poderá afetar a sua forma de estar, e o tipo de pessoas que se vão tornar. E claro, o papel que tenho em tudo isso.  Preocupo-me com os valores que retiram de mim, e mais do que me preocupar com o meu legado, o meu foco e preocupação, está em como as minhas filhas lhe vão dar continuidade.

Cada geração tem os seus desafios e as suas mutações. Hoje em dia, as crianças consomem mais “digital” do que eu alguma vez consumi televisão com a mesma idade.

Hoje em dia os jovens entram no mercado de trabalho a dominar a inteligência artificial, mas a serem desafiados pela inteligência emocional.

Tudo se tornou mais instantâneo, mais fácil e com um nível de exigência mais reduzido, com menos “luta”. Está tudo tão rápido, que, por ventura, pode haver menos resiliência, menos paciência. Juntando a isto, o teletrabalho e as redes sociais, distanciam-nos, fazendo-nos sentir que estamos mais próximos do que nunca, mas trazendo mais desafios ao nível da empatia, da cultura organizacional, da educação.

Como líder, esta azáfama digital, incerteza social e convenhamos imaturidade, faz com que me preocupe com todos aqueles que fazem parte dos meus projetos, especialmente a geração mais nova. Esta preocupação, vem de um lugar genuíno pois, para mim, se as minhas filhas são o centro do meu mundo, as pessoas são o centro dos meus projetos.

O segredo de qualquer projeto bem sucedido são as pessoas. Como tal, é crucial investir nelas, transmitir-lhes valores e confiança. A nossa maior ferramenta é, sem dúvida, a empatia. Só quando tentamos compreender como é que o outro se sente, é que conseguimos apoiar, educar, partilhar, de forma humilde, os valores certos para que consigam gerir, encarar e ultrapassar qualquer desafio.

Acontece que a empatia desafia-nos também a sermos altruístas, e isso implica coragem e capacidade de adaptação, basicamente um resumo do que é ser-se pai e líder. Ser altruísta exige que quando é preciso, ponhamos os outros num papel de destaque, em detrimento do nosso, para que eles possam crescer e continuar o legado que lhes queremos deixar. Isto pode implicar aceitar novas abordagens, ideias e valores, que não são necessariamente os que idealizámos para aquela situação ou pessoa.

Podemos olhar para o investimento que fazemos em brinquedos ou ferramentas. Podemos olhar para o investimento em formação, seja numa escola privada ou num team building. Podemos olhar para o tamanho e infraestruturas de uma casa ou escritório, mas se não tivermos em conta os sentimentos, valores ou princípios, como é que podemos construir uma família, uma equipa, uma comunidade, um legado que perdura no tempo?

É injusto terminar este artigo sem reforçar que o papel de pai, o papel de líder, não é solitário, nem é um “one man show”. Pelo contrário, só é possível ser-se bem sucedido nestes papéis quando o papel da mãe, dos avós, dos sócios, dos irmãos, dos colegas, de todos os intervenientes familiares, ou da equipa, são respeitados, ouvidos, envolvidos, de forma humilde, solidária e com equidade.

Chief Innovation Officer & sócio do IDEA Spaces

Artigos Relacionados