Jogos Olímpicos: como investiram no “eco-friendly” e deixaram os atletas com fome

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 prometiam ser os mais sustentáveis de sempre, pois tudo estava desenhado e pensado para que 60% das refeições servidas na Vila Olímpica fossem à base de plantas. A intenção era boa mas, como disso está o inferno cheio, à medida que as competições avançavam, o sonho de tornar estes…
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Susete Estrela, especialista em alimentação segura, escreve aqui sobre a polémica alimentar que se instalou nos Jogos de Paris: para ser mais sustentável, a organização deixou os atletas com fome.
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Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 prometiam ser os mais sustentáveis de sempre, pois tudo estava desenhado e pensado para que 60% das refeições servidas na Vila Olímpica fossem à base de plantas.

A intenção era boa mas, como disso está o inferno cheio, à medida que as competições avançavam, o sonho de tornar estes jogos “os mais verdes de sempre” começou a murchar como uma alface fora do frigorífico.

Preocupados com as alterações climáticas e focados numa nova “Visão Alimentar”, Paris 2024 – que queria ser gourmet, local e plant-based – recorreu a 120 organizações e 200 atletas para pensar na forma mais criativa e sustentável de entregar 13 milhões de refeições, durante o tempo que decorrem os jogos.

Só que a imposição de refeições plant-based gerou tanta insatisfação nos atletas, por se sentirem desrespeitados na sua bioindividualidade, que alguns deles responsabilizam o menu e a baixa quantidade de alimentos servidos como a principal causa para a ausência de medalhas.

Como um escândalo nunca vem só, há atletas a relatar presença de parasitas no peixe servido. Pois é, parece que a segurança alimentar também não vai subir ao pódio, em Paris.

Muitos dos melhores atletas do mundo reclamaram, logo nos primeiros dias, sobre a falta de opções ricas em proteína animal, que defendem ser essencial para a sua recuperação muscular e o elevado nível de desempenho.

Parece que a gota de água foi quando um pugilista de 1,98 metros de altura e 110 quilos foi servido com… duas costeletinhas de borrego!

Alguns países, prevendo um desastre nutricional, levaram consigo reservas próprias. A Austrália, por exemplo, levou três toneladas de atum,10.000 barras de cereais e 2.400 tartes de carne (meat pie).

Depois de tantas reclamações a nível mundial, para acalmar os ânimos olímpicos, Philipp Würz, responsável pela alimentação do evento, foi obrigado a rever a visão alimentar e encomendou mais carne, ovos e lacticínios para o “maior restaurante do mundo” por estes dias.

Philipp Würz, acabou por assumir que “não se pode simplesmente dizer, ok, agora vão comer 60% ou 100% vegan. Isso não é possível”.

Como um escândalo nunca vem só, há atletas a relatar presença de parasitas no peixe servido. Pois é, parece que a segurança alimentar também não vai subir ao pódio, em Paris.

Obrigar atletas de elite a experimentar uma “nova forma de comer” no pico das suas exibições de alta intensidade, parece-me uma forma um pouco forçada e indelicada de receber convidados.

Durante estes jogos olímpicos, a França, o maior produtor agrícola da Europa, com 28 milhões de hectares e mais de 708 mil agricultores, convidou o mundo para a sua mesa e a organização do evento serviu fome e falta de segurança alimentar.

A ideia de um menu amigo do ambiente era ambiciosa e digna de aplausos. No entanto, a execução deixou muito a desejar, evidenciando que, enquanto as boas intenções são essenciais, é igualmente crucial garantir que os atletas recebem a sua nutrição preferida. Afinal, eles não foram a Paris para fazer um piquenique, uma experiência gastronómica ou experimentar novas filosofias dietéticas.

Obrigar atletas de elite a experimentar uma “nova forma de comer” no pico das suas exibições de alta intensidade, parece-me uma forma um pouco forçada e indelicada de receber convidados.

Entretanto, e até domingo, com mais ou menos fome, quer sejam veganos ou omnívoros, the show must go on, n´importe quoi.

(Texto escrito pala autora Susete Estrela, engenheira alimentar, health coach e especialista em alimentação segura)

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