O setor da construção em Portugal demonstra sinais encorajadores e uma base sólida de crescimento sustentado. O investimento público, os fundos europeus e o interesse privado com origem nacional e estrangeira, mantêm o sector dinâmico, apesar de persistirem desafios estruturais que exigem resposta coordenada.
Questões como o custo das matérias-primas, o acesso ao financiamento e a escassez de mão-de-obra qualificada continuam a marcar a agenda do sector. Tal como em mercados como os EUA ou a Índia, onde a sazonalidade do trabalho compromete frequentemente a execução dos projetos, também em Portugal persiste uma desvalorização das profissões ligadas à construção. É, por isso, necessário tornar o sector mais atrativo para as novas gerações, mais moderno, estável e com perspetivas de carreira claras. Apesar destes desafios, é precisamente esta pressão que tem acelerado a adoção de soluções inovadoras: desde novos modelos de construção mais industrializados até à digitalização de processos, revelando um sector cada vez mais adaptável e orientado para o futuro.
A industrialização da construção, a aposta em novas tecnologias e uma maior colaboração entre promotores, projetistas e empreiteiros estão a ganhar terreno. Este é um sinal claro de maturação e adaptação do sector a um contexto mais complexo.
No segmento de Industrial & Logística, observa-se uma procura sólida por ativos eficientes, bem localizados e tecnologicamente preparados. Tal como no Reino Unido, também em Portugal cresce o interesse por soluções modernas e sustentáveis, um reflexo direto do comércio eletrónico, da reorganização das cadeias de produção e das metas ambientais. Contudo, um dos principais desafios identificados é a escassez de solo disponível para responder à procura crescente. Em muitas zonas estratégicas, a oferta de terrenos com escala, infraestruturas e licenciamento adequado é limitada, o que impõe uma pressão significativa sobre os promotores e encarece o desenvolvimento. A reconversão de parques industriais obsoletos e a aposta em hubs logísticos mais ágeis e tecnologicamente preparados constituem, por isso, uma oportunidade estratégica para aumentar a competitividade nacional e responder de forma mais célere às necessidades do mercado.
Também o mercado de escritórios vive um processo de transformação. A tendência de “flight to quality” leva ocupantes a procurar edifícios mais sustentáveis, bem localizados e tecnologicamente avançados. As empresas exigem espaços que cumpram critérios ESG e que atraiam talento. Isto impõe uma pressão positiva sobre o sector da construção: adaptar, reabilitar e construir com foco na flexibilidade e na eficiência energética.
Já no segmento residencial, a procura mantém-se elevada, impulsionada pelo crescimento populacional, urbanização e pela necessidade urgente de habitação acessível. Embora existam constrangimentos, como o custo de construção e o processo de licenciamento, a aposta na reabilitação urbana e nos programas de habitação pública poderá ser decisiva. O envolvimento mais ágil das autarquias e a implementação de medidas fiscais estáveis como a redução do IVA para 6% serão fundamentais para desbloquear o potencial do sector.
O reforço do recurso ao Building Information Modelling (BIM), bem como a utilização de soluções modulares e pré-fabricadas, podem acelerar a resposta à procura, aumentar a previsibilidade de custos e melhorar a qualidade da construção. Estes avanços, já visíveis em projetos de maior escala, devem agora chegar aos pequenos promotores e subempreiteiros, com o apoio de formação técnica e digitalização.
Portugal tem condições para afirmar o seu sector da construção como uma referência europeia em inovação, sustentabilidade e colaboração público-privada. Para isso, é essencial manter uma visão de longo prazo, alinhada com as metas do PRR, da transição energética e da inclusão social.
2025 será um ano de consolidação e decisão. Com as ferramentas certas — talento, planeamento e investimento inteligente — o sector tem tudo para reforçar o seu papel estratégico na economia portuguesa e dar resposta aos desafios das próximas décadas.
Paulo Silva,
Head of Country da Savills Portugal