A situação pandémica e as medidas de confinamento que assolaram o país potenciaram a exposição do tempo despendido em ambiente digital e o crescente recurso ao comércio eletrónico. Um dos resultados foi o incremento do cibercrime, nomeadamente, com o incremento do número de crimes relacionados com o uso fraudulento de cartões de crédito.
A análise é do Portal da Queixa, tendo por base vários casos reportados pelos consumidores.
De acordo com esta rede social de consumidores em Portugal, desde o início do ano até 15 de julho, as queixas gerais relacionadas com cartões de crédito e pagamentos mais do que duplicaram face a 2020, uma subida que foi transversal a todas as entidades inseridas nesta categoria (Cartão Universo, Cartão WiZink, Cartão Revolut e Cartão Cyrana).
O Portal da Queixa recebeu 943 reclamações dos consumidores relacionadas com cartões de crédito e pagamentos. Entre 1 de janeiro e 15 de julho deste ano, verificou-se um crescimento de 130%, face ao período homólogo, quando foram registadas 404 reclamações.
“Este ano, o principal alerta vai para o aumento exponencial das reclamações relacionadas com phishing, e os prejuízos causados pela alegada falta de segurança na utilização dos cartões de crédito”, salientam os responsáveis do Portal.
Um dos principais motivos que fez disparar as reclamações dos consumidores refere-se aos ataques por phishing.
A análise revela que, depois do elevado número de casos identificados com o Cartão Universo – que resolveu cerca de 80% das reclamações registadas no Portal da Queixa -, o Cartão WiZink é o mais recente visado destes esquemas de fraude, aponta o Portal da Queixa.
O aumento e gravidade dos casos reportados originaram mesmo a criação – por parte dos consumidores utilizadores do Portal da Queixa -, de um grupo online intitulado “Lesados WiZink”, que já conta com 25 pessoas que, alegadamente, entre abril e maio, perderam 130 mil euros nos cartões de crédito WiZink.
De acordo com os dados do Centro Nacional de Cibersegurança, no ano passado, foram registados 1418 casos de cibercrime. Destes, 649 referem-se a fraudes, com destaque para os esquemas por phishing, que dispararam de 236 para 613.
Segundo aponta o Relatório Anual de Segurança Interna 2020 (RASI), as práticas de fraude têm sido facilitadas pela “crescente facilidade e normalidade do recurso ao comércio eletrónico, frequentemente sem as necessárias e adequadas regras de segurança”.
Na visão de Pedro Lourenço, CEO e Founder do Portal da Queixa by Consumers Trust, “nos próximos tempos, com o natural crescimento na utilização de equipamentos tecnológicos e digitais, o grande problema da sociedade será certamente a insegurança dos dados pessoais e financeiros dos consumidores. Grandes mudanças, trazem igualmente grandes riscos para todos, e para os combater nada melhor que o conhecimento, que infelizmente tem faltado a grande parte dos novos consumidores digitais, que começam a sentir, cada vez mais, a necessidade de utilizarem mecanismos tecnológicos que não dominam, por forma a não se sentirem infoexcluídos. Hoje, para qualquer um de nós aventurar-se online, basta ter um telefone com acesso à internet. É urgente que os responsáveis governamentais ajam em prol dos interesses dos consumidores, com vista a garantir-lhes um acesso seguro, capaz e com a equidade necessária.”