Professor na Nova SBE
Artigo incluído na edição de Abril 2019
Um dos temas que mais frequentemente surge nas sessões de formação de executivos é a dificuldade crescente que as pessoas sentem em conseguir “arranjar” tempo para reflectir e pensar acerca do que estão a fazer, de como melhorar ou inovar os seus processos de trabalho, de como se motivarem e à sua equipa.
O ritmo de trabalho muitas vezes imposto ou percebido como a única forma de fazer face aos desafios e solicitações do dia-a-dia pura e simplesmente não o permite. Esta lógica exprime-se bem em frases como “o meu trabalho é responder a 2 mil mails por dia”, como salientou Xavier Niel, uma personalidade da área das telecomunicações.
Na tentativa de sermos produtivos – focando na execução –, acabamos, muitas vezes, por hipotecar a qualidade das decisões. Este é possivelmente um dos problemas mais comuns da gestão contemporânea. Uma breve busca na Harvard Business Review trouxe-me vários artigos publicados nos últimos 2 anos sobre o tema, incluindo: “Why you should make time for self-reflection; Schedule time for reflective thinking; How to regain the lost art of reflection; How self-reflection can help leaders stay motivated”. Todos estes artigos salientam a importância da auto-reflexão, tanto para a compreensão do próprio comportamento como para a gestão da equipa/organização. Há estudos que mostram melhorias de desempenho à volta dos 23% em 10 dias para colaboradores que tiram 15 minutos no final do dia para reflectir acerca das lições aprendidas. No fundo, é como caracteriza Jennifer Porter: “a reflexão dá ao cérebro uma oportunidade de fazer uma pausa no meio do caos […] e de criar significado”, o que depois se traduz em aprendizagem.
Quantas ideias, melhorias e inovações surgiram em momentos inusitados? Desde o Princípio de Arquimedes (o mais famoso banho da história) ou a Teoria da Gravidade de Newton (cuja árvore ainda cresce na sua casa em Lincolnshire), aos post-its (enquanto Arthur Fry tentava marcar as pautas do coro da Igreja). Estas (e muitas outras) ideias não surgiram enquanto os respectivos inventores trabalhavam afincadamente no seu desenvolvimento; surgiram precisamente em momentos de reflexão e pausa que permitiram que a eureka chegasse. Foi isto que a 3M institucionalizou em 1948 (!) e cujos resultados levaram a que gigantes como a Google ou a HP seguissem o modelo.
Mesmo assim, esta prática não é ainda generalizada; é difícil fazê-lo num ambiente permanentemente turbulento e em que é preciso fazer, fazer, fazer. Por onde começar então? Martin Reeves sugere que os líderes devem agendar tempo para pensar de forma não estruturada (por exemplo, o presidente-executivo do LinkedIn afirma guardar entre 1,5-2 horas todos os dias para reflexão); procurar um coach (ou alguém de confiança) para poder trocar impressões e desafiar as suas próprias ideias e mesmo tentar proteger-se (e à sua organização) de sobrecargas de informação. Só assim passamos de um modelo reactivo para um modelo de acção sustentada, em que a acção é seguida de reflexão, o que despoleta acções mais eficientes, traduzindo-se em ganhos individuais e organizacionais.