Jeff Platt, de 32 anos, aparece para a entrevista de t-shirt de gola em V e ténis semi-abotinados. Estaciona o Tesla, tira os óculos de sol e entra no seu reino de 2797 metros quadrados: um armazém perto de Los Angeles, EUA, equipado de uma ponta à outra com trampolins.
Empregados de camisola laranja com o nome Sky Zone aproximam-se da zona de jogos e do campo de dodgeball, uma espécie de Jogo do Mata.
As portas estão quase a abrir e centenas de crianças – na sua maioria com idades entre os 6 e os 17 anos de idade — chegarão em breve para saltarem em perfeita anarquia.
Platt, o presidente-executivo da Sky Zone, gere a empresa desde os 22 de idade. Sob a sua alçada, esta cadeia de parques de trampolins passou de negócio com um conceito estranho e dois estabelecimentos para um negócio franchisado que conta já com 176 parques em seis países.
Estes espaços foram visitados, em 2017, por vinte e cinco milhões de pessoas, gerando qualquer coisa como 200 milhões de euros em receitas. No ano anterior, as receitas da empresa Sky Zone ascenderam a 40 milhões de euros e a margem de lucro foi de 20%.
As portas estão quase a abrir e centenas de crianças – na sua maioria com idades entre os 6 e os 17 anos de idade — chegarão em breve para saltarem em perfeita anarquia.
Numa sala reservada especialmente para festas de aniversário para crianças, Platt senta-se no banco de uma pequena mesa de piquenique e explica o seu plano mestre: “Queremos criar um mundo onde as pessoas possam brincar todos os dias,” diz com ar confiante.
A Sky Zone criou a sua própria indústria mas rapidamente atraiu concorrência. Os seus rivais operam agora cerca de 75% dos mais de 600 parques de trampolins espalhados pelo país.
Um destes, de nome CircusTrix, conta com milhões de euros de capital de risco e gere mais de 80 espaços sob nomes diferentes. Numa tentativa de fazer face a estas ameaças, a sua equipa de marketing está a trabalhar no sentido de conquistar os adolescentes, contratando influenciadores do YouTube e gerando notoriedade no Snapchat.
O recurso a novas tecnologias, tais como um dispositivo que se pode vestir de forma a monitorizar as actividades nas pistas de obstáculos nos Jogos do Mata, insere-se na estratégia de aplicação de técnicas e jogo a todas as vertentes da experiência Sky Zone.
Saímos da sala de festas atrás do fundador da empresa e o armazém enche-se com o som de crianças aos gritos. “Isto é muito divertido”, graceja.
Pular barreiras
Apesar de agora ser uma empresa sustentável e em contínuo crescimento, a Sky Zone não teve um início promissor. No virar do milénio o pai de Jeff, Rick Platt, fechou a sua empresa de sucata em Los Angeles, no estado da Califórnia, e começou a pensar num novo negócio.
A oportunidade surgiu durante um jogo de voleibol do seu filho no liceu, onde ouviu falar pela primeira vez de um desporto praticado em trampolins e onde os atletas tentavam saltar por um arco suspenso enquanto seguravam a bola.
Procurou então um local na cidade de Las Vegas, no estado vizinho do Nevada, passando um ano a montar as instalações e outro a recrutar atletas. Usou fundos de amigos da família e de investidores que insistiram em manter o anonimato para não serem apelidados de malucos.
O “desporto” a que deram o nome de Sky Zone foi um tremendo fracasso. Platt abandonou rapidamente o conceito e abriu os trampolins ao público.
Os primeiros clientes eram crianças de um parque de skate nas imediações e que pagavam cerca de 6 euros de entrada. No primeiro mês de actividade, em 2004, o número de bilhetes vendidos subiu para mil.
No segundo, esse número duplicou. Platt fez então um anúncio de publicidade para passar na televisão e em apenas outro mês apareceram dez mil pessoas.
O “desporto” a que deram o nome de Sky Zone foi um tremendo fracasso. Platt abandonou rapidamente o conceito e abriu os trampolins ao público.
Foi um “Oh meu Deus, estamos a ter receitas,” lembra Jeff. No primeiro ano, as receitas praticamente tocaram os mil milhões de euros, recorda o gestor.
Pouco tempo depois, Jeff, na altura a frequentar o ensino superior em St. Louis, no estado do Missouri, decidiu expor o negócio no curso de empreendedorismo que estava a tirar. E, no âmbito dessa aula, acabaria por se reunir com investidores locais.
Para sua surpresa, gostaram do conceito e sugeriram que criasse um espaço em St. Louis para verem se funcionava fora de Las Vegas. Platt ainda hesitou mas lançou-se de pés e cabeça no projecto.
Com cerca de 500 mil euros de amigos da família, concedidos sob condição de que o projecto permanecesse em St. Louis e que fosse o próprio a gerir as operações, abria assim o segundo Sky Zone em 2006, pouco depois de se formar. Este espaço gerou algo como 200 mil euros logo no mês de abertura. “E ultrapassou todas as nossas expectativas,” afirma.
Seis semanas depois da inauguração a mãe de Jeff, Jan, foi diagnosticada com cancro nos ovários. O pai abandonou a empresa para tratar da mulher, deixando Jeff, então com pouco mais de 20 anos, a cargo da empresa.
Rick Platt nunca retomou funções diárias na empresa, mesmo depois da morte de Jan em 2009, apesar de continuar a ter assento no conselho de administração.
Começar do zero
Com o afastamento do seu pai, Jeff mergulhou a fundo na Sky Zone, organizando aí festas de aniversário e gerindo empregados adolescentes. “Não fazia a mínima ideia do que estava a fazer,” afirma. “Estava a aprender tudo à minha custa. Todos os meus amigos eram da Goldman Sachs, advogados ou então estavam a tentar entrar para escolas de gestão. E eu era o director-geral de um parque de entretenimento”, diz à FORBES.
Mas os parques eram um sucesso. Em 2010, abria a primeira franquia e, no espaço de três anos, mais umas dezenas abriam um pouco por todo o país.
O modelo era simples: cada franquia pagava entre 30 a 50 mil dólares de custos iniciais, entregava 6% das vendas brutas e 2% mais a um fundo nacional de marketing. Os proprietários concordaram também em comprar merchandise e grande parte do equipamento para estes espaços à empresa detentora da Sky Zone.
Com cada loja média a gerar cerca de 2 milhões de euros de vendas anuais, eram poucas as reclamações enviadas para a sede, que ficou conhecida pelo nome carinhoso de “Casa de Partida”. “São muito receptivos e transparentes,” afirma Caroline Irving, a detentora de uma franquia de quatro parques no Canadá.
Actualmente, o império de Platt está sediado num edifício cinzento no bairro financeiro de Los Angeles, partilhando o mesmo piso com uma agência de talentos animais e uma escola de modelos.
Em 2010, abria a primeira franquia e, no espaço de três anos, mais umas dezenas abriam um pouco por todo o país.
O escritório tem as regalias típicas de uma start-up de tecnologia: refeições grátis, jogos de vídeo e um carrinho de bebidas. “É interessante trabalhar numa empresa como esta, assim tão descontraída,” afirma o director de marketing Josh Cole, cuja equipa produz um torneio anual de Jogo do Mata que atrai milhares de participantes.
O evento, com anunciantes em cada jogo e produção de vídeo com qualidade televisiva, é transmitido no ESPN e no Snapchat. Estas jogadas de marketing são vitais num contexto interno cada vez mais saturado de concorrentes, muitos deles com nomes semelhantes (SkyWalk, Sky High Sports, Aerozone).
As perspectivas globais são também um desafio, tendo em conta que alguns dos seus rivais marcam já presença na Europa, Austrália e Ásia. “Nos próximos três anos esperamos levar esta experiência de desportos radicais em espaços cobertos a todos os continentes,” afirma o presidente-executivo da CircusTrix, Case Lawrence, cuja empresa angariou cerca de 30 milhões de euros de capital de risco.
Platt afirma que rejeitou muitos pedidos para vender a empresa, admitindo no entanto que já se sentiu tentado nesse sentido. Mas por agora vai continuar a espalhar o evangelho do recreio. “Criámos uma indústria de milhares de milhões de euros a partir do nada,” afirma.
“Ainda há muito para fazer aqui”, termina o gestor, que também gosta de se divertir nos seus parques temáticos. Afinal, é sempre bom despertar a criança que há em nós.