O crescimento constante do maior fabricante de sofás e colchões da Península Ibérica – que em 2015 facturou 125 milhões de euros -, é justificado com decisões bem medidas. Mesmo em período de maior crise, entre 2008 e 2010, o grupo Aquinos não parou de realizar investimentos. Nunca teve dificuldade junto da banca, mas como qualquer investidor, teve acesso a dinheiro mais caro nessa altura. Do lado do consumo continuou a haver procura, sobretudo de produto mais económico.
A alma e a força do sucesso da Aquinos é o seu fundador e único accionista. Apesar de não estar na gestão diária da empresa, Carlos Aquino garante que continua a trabalhar muito. Na verdade, não sabe viver de outra forma porque é um workaholic. Há um ano, por exemplo, deu-lhe um gozo especial construir uma fábrica de espuma, por ser uma área nova e também porque deixavam de estar à mercê do fornecedor. Mas a história de Carlos é também preenchida de algumas desilusões. Uma aconteceu em 1990, quando abriu uma pequena confecção de vestuário em pele, e outra em 1996 com uma fábrica de mobiliário em madeira. Se no primeiro caso não tinha a equipa comercial certa, no segundo foi a crise no sector que acabou por matar o pouco que já restava da vontade de diversificar. Em ambos os casos, os trabalhadores foram reintegrados no grupo.
Focado no que sabe e gosta de fazer, Carlos garante que investir continua a ser a palavra de ordem. Só nos últimos cinco anos, o investimento rondou os 90 milhões de euros. Como investir significa crescer, Carlos diz estar interessado em aquisições na Europa. Há um ano esteve na corrida para comprar a congénere francesa Cauval, até que este ano, também em França, concretizou a compra da J. P. Gruhier, em Tonnerre, que fabrica sofás e colchões há mais de 40 anos e tem 120 trabalhadores. Esta empresa dedica-se ao mercado francês, mas o grupo português quer virá-la também para a exportação. Com a J.P. Gruhier, a facturação do grupo português em 2016 foi de 176 milhões de euros.
Estratégia vencedora
Decide sozinho, mas gosta de partilhar e de trabalhar em equipa. Tem ideias que depois são corrigidas e amadurecidas por uma task force de 15 pessoas, a maioria mulheres. “Não quero que me digam ámen. Quero que contraponham porque se estivermos todos de acordo alguma coisa está mal”, adianta. Não se lembra de alguma decisão errada, mas reconhece que se calhar podiam ter saído do grupo decisões melhores no sentido de se atingirem mais rapidamente os objectivos. Desse grupo de 15 pessoas fazem parte os dois irmãos e o filho mais velho (o mais novo ainda está na Universidade de Coimbra a estudar Gestão). Trata-se de uma equipa com quadros da produção, área financeira, comercial, marketing e engenharia de processos. Emídio Brandão, que conhece Carlos desde o final da década de 1980, classifica o empresário como alguém “corajoso, arrojado e apaixonado pelo trabalho.”
Francisco Ivo Portela, que foi presidente da Câmara de Tábua durante 22 anos, classifica Carlos como detentor de uma personalidade invulgar. “Tem uma enorme capacidade de trabalho, frontalidade, fervor e entusiasmo. Os resultados estão à vista. Este grande homem, de uma extraordinária visão, levou o nome do concelho de Tábua e da região Beirã a todo o mundo”. O grupo Aquinos é o maior empregador privado de toda a zona Centro do país. É responsável por 14% das exportações nacionais do sector, mas Carlos nunca trabalhou para receber prémios nem pensou nisso. Daí ter sido com surpresa que em 2015 recebeu do então Presidente da República, Cavaco Silva, o título de Comendador da Ordem do Mérito Empresarial. “Somos humildes e discretos, e é assim que vamos continuar a ser”, frisa.
O filho mais velho já trabalha no grupo há cinco anos e nem a licenciatura em Gestão o livrou de começar pelo chão de fábrica. “É preciso cheirar a serradura porque é assim que se adquire o know-how. Depois, lancei-lhe um desafio: a fábrica em Nelas. Arrancou com três funcionários que eu escolhi, que nem eram os melhores, propositadamente, e foi avançando até empregar cerca de 400 pessoas. Fez um excelente trabalho. Hoje, está a ser preparado para director-geral e também está a ficar apaixonado por isto”, diz orgulhoso.
Uma vida de trabalho
Desde muito cedo que a labuta faz parte da vida de Carlos. À FORBES, conta que no início trabalhava muito e sozinho. Não lhe custava porque tinha o sonho da indústria. Contra a vontade dos pais, que trocaram Trás-os-Montes por Tábua, deixou a escola para trás e foi trabalhar para uma fábrica de sofás. Tinha muita vontade de aprender e depressa, só que os trabalhadores mais velhos não estavam para aí virados. Lá acabaram por ceder em troca de dinheiro que Carlos lhes dava, apesar do seu magro salário (800 escudos na altura). Foi desta forma que aprendeu rapidamente a fazer sofás e a acrescentar ao horário normal da fábrica o trabalho à peça, que fazia à noite, fins-de-semana e até em parte da hora de almoço. “Ganhei algum dinheiro, mas trabalhei bastante”, recorda.
Carlos começou do zero, com seis pessoas. “Havia quem dissesse: dou-vos um ano e isso acaba. Mas quanto mais ouvia isto, mais força tinha para continuar”, diz. Nos primeiros anos não houve férias. O empresário vivia exclusivamente para o trabalho. Até que em 1988 resolve construir a primeira das seis fábricas que o grupo possui actualmente em Tábua, numa área total de 44 hectares.
A cinco minutos do conglomerado, ainda em Tábua, tem uma fábrica de poliéster, e em Nelas, uma fábrica de sofás. Para Março deste ano está prevista a entrada em laboração da fábrica nova de Carregal do Sal, que irá produzir sofás para exportação. A partir dessa altura, irá passar-se de uma produção diária de sofás de 3500 para 6500 unidades. Nos colchões, a partir de 2018, fabricará 8500 unidades por dia (hoje são 4500 colchões). A ampliação da fábrica de colchões representará um investimento de 16 milhões de euros.
Carlos ainda se lembra bem da dificuldade que foi entrar em França, onde o made in Portugal era um problema. Inconformado assumido, também tinha sede de todo o tipo de conhecimento ligado à gestão do negócio. Sempre procurou estar informado, como quando recorreu a professores e ao ensino à distância para aprender contabilidade. “Ainda hoje, naquilo em que me envolvo tenho de ter know-how, porque senão não estou a acrescentar valor. Posso não ser um especialista, mas tenho que ser o clínico geral”, afirma. Emídio Brandão, que conheceu Carlos no final da década de 1980, destaca a visão empresarial de um homem incomum como o elemento mais marcante em Carlos. “Quando ainda era um jovem, já se revelava um gestor lúcido, com ideias claras do que queria para a sua empresa e determinado em consegui-lo”, recorda.
Emídio colaborou com Carlos na área da comunicação empresarial e conhece-o bem, tanto em termos profissionais como pessoais. Por essa razão não fica surpreso com o império que criou. “Sempre inconformado, a vila de Tábua cedo ficou pequena demais para o jovem empresário que ambicionava tornar a sua marca, recém-criada, numa referência no sector do descanso em Portugal. Corajoso, arrojado mesmo, apaixonado pelo trabalho, Carlos não levou muito tempo a atingir esse patamar e, logo depois, a internacionalização”, diz.