Bob Parsons tem sido apelidado de louco, bizarro e rebelde — e não contesta nenhum destes epítetos. Mas é mais do que isso. No fundo, estamos perante um multimilionário que se fez sozinho e de uma pessoa com uma generosidade extraordinária. Bem, excepto quando está a jogar golfe. Oriundo de uma família pobre no centro de Baltimore, nos EUA, a sua mãe era dona de casa e o seu pai vendedor de imobiliário. Ambos adoravam jogar. “Cartas, cavalos, bingo — tudo e mais alguma coisa,” afirma Bob. “Um jogador nunca tem muito dinheiro, sobretudo se não começar com muito.”
Quando precisava de alguma coisa — uma bola, uma luva de basebol – tinha de descobrir uma maneira de comprá-la. Um dos seus esquemas mais bem-sucedidos consistia em vender jornais de forma pouco convencional: procurava uma paragem de autocarro bastante frequentada, chegava cedo, colocava uma moeda de 25 cêntimos na máquina de venda de jornais e retirava os jornais todos, que vendia depois — a um preço mais alto — aos passageiros.
Depois de vender tudo, ficava com o lucro e colocava o resto do dinheiro de volta na máquina de venda automática. A escola não era propriamente um refúgio da sua vida familiar. Depois de chumbar no 12.º ano alistou-se no Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA (Marines) e, em 1969, no auge da guerra, foi enviado para o Vietname. No primeiro dia, num local traiçoeiro de nome Hill 190, sentou-se numa parede e ficou a olhar para o vale lá em baixo, certo de que iria morrer. “Foi aí que tomei duas decisões,” lembra. “Fazer o meu trabalho da melhor forma e conseguir chegar à chamada do correio no dia seguinte”, diz.
Bob acabaria por ser distinguido com uma Combat Action Ribbon, uma Vietnam Cross of Gallantry e uma Purple Heart. Hoje atribui todo o seu sucesso ao tempo que passou nos Marines. “Ensinou-me a acreditar em mim e a ser responsável e disciplinado,” afirma. “Quando estamos no meio do nada e vemos algo a mover-se na selva temos mesmo de ser criativos”.
Quando regressou, trabalhou durante algum tempo numa siderurgia, a Bethlehem Steel, e, mais tarde, matriculou-se na Universidade de Baltimore, onde se formou em Contabilidade. Mais tarde, tirou a carteira de Técnico Oficial de Contas e entrou para a unidade de crédito comercial da empresa informática Control Data. Pouco depois, estava a escrever código. “Era um passatempo,” afirma, “mas comecei a ser muito bom naquilo.” Isto levá-lo-ia em 1984 a fundar a Parsons Technology, empresa que concebia software de gestão de dinheiro.
Em 1994, a empresa contava já com mil colaboradores e 86 milhões de euros de receitas. Mas Bob decidiu afastar-se. “Não achei que houvesse grande futuro no software comercial,” afirma. Nesse ano vendeu a empresa à Intuit por cerca de 55 milhões de euros, e mudou-se para o Arizona, sem planos na bagagem. “Jogava muito golfe com pessoas vestidas com roupas engraçadas,” recorda.
Desafiador natural
Quando estava no deserto, Bob começou a mostrar-se cada vez mais impaciente. Em 1997, fundou a Jomax Technologies, cuja actividade principal era conceber websites. “O problema com isso é que não se ganha escala”, afirma, mas “aprendi que o dinheiro ganha-se a dormir”, revela. Mudou o nome da empresa para GoDaddy e alargou a sua incidência, passando a vender nomes de domínios.
A GoDaddy vendeu o seu primeiro nome — ghettojustice.com — a um habitante do Arizona em 2000, mas teve algumas dificuldades em progredir, e quando a bolha das “dotcom” rebentou as empresas de tecnologia começaram a falir. “Éramos os únicos que conseguíamos pagar as contas,” diz Bob. “Não fazíamos nada de diferente, mas estávamos vivos.”
O crescimento da GoDaddy foi lento, mas constante até 2005, altura em que Bob fez uma jogada de mestre em termos de marketing. Nesse ano, a empresa transmitiu o seu primeiro anúncio no Super Bowl, que tinha Candice Michelle como protagonista e parodiava o famoso episódio da “avaria no fato” de Janet Jackson durante o intervalo do jogo no ano anterior.
O anúncio devia ter passado duas vezes, mas a Fox, que transmitia o jogo, decidiu que era demasiado sensual e recusou-se a transmiti-lo uma segunda vez. Essa decisão acabou por despertar ainda mais interesse — na semana seguinte, a quota da GoDaddy no mercado mundial de domínios subiu de 16% para 25%.
E nascia assim essa imagem de presidente-executivo rebelde – apesar de Bob afirmar que a sua empresa não era nenhuma Animal House movida a álcool, admite, contudo, que a sua reputação não é totalmente imerecida. “Entrámos num negócio que de divertido não tinha nada e tornámo-lo em algo divertido — criando um negócio de 1,7 mil milhões de euros”.
O dinheiro começou a entrar em 2011, quando vendeu 72% da GoDaddy a várias empresas de private equity (incluindo a KKR e a Silver Lake Partners). Os restantes 28% veriam seu valor disparar quando a empresa foi lançada em Bolsa em 2015. Mas a riqueza não o mudou. Ainda é ele que corta o seu cabelo grisalho e barbicha. Quando a coroa do seu dente caiu há uns meses tratou-a sozinho com Super Cola. “Ainda me vejo como um puto doido de Baltimore, sempre a inventar esquemas,” afirma.
Apostas de paixão
O dinheiro permitiu, contudo, que Bob iniciasse uma nova carreira em 15 negócios com 700 colaboradores, sob o lema de YAM Worldwide. (O acrónimo YAM quer dizer “You’re a Mess,” – “não vales nada”, uma expressão muito usada na Batimore da sua juventude.) Esses negócios incluem uma firma de imobiliário comercial, uma agência e um estúdio de filmagens. Mas a primeira aposta de Parsons pós GoDaddy centrou-se numa das suas paixões: as motas.
Actualmente, Bob tem dois stands de Harley-Davidson e mais dois que vendem nove marcas, totalizando cerca de 80 milhões de euros em receitas anuais. O stand da Harley de Scottsdale Harley, com cerca de 14 mil metros quadrados, é o maior do mundo, e um exemplo da capacidade de encenação do multimilionário: no interior da loja existe também um departamento de lingerie para motociclistas, um espaço de tatuagens e piercings, uma sala de espectáculos com 55 lugares e uma capela matrimonial (onde Bob, que foi ordenado pela Internet, já presidiu a algumas cerimónias).
A aposta seguinte centrou-se noutro dos seus grandes amores: o golfe. Bob começou a jogar este jogo à séria quando estava na casa dos 30 em Cedar Rapids e tinha de renovar constantemente o seu equipamento: afirma que num ano gastou mais de 300 mil euros em tacos, mas nunca encontrou o que melhor se adaptasse a si.
A solução estava na PXG. Abordou dois designers da Ping e incumbiu-os de uma missão simples: demorem o tempo que quiserem, mas criem algo verdadeiramente especial. Em 2015, a PXG lançou os seus primeiros tacos e fez 2,3 milhões de euros. Este ano espera obter receitas na ordem dos 70 milhões.
Apesar deste crescimento, a PXG não foi pensada para o mercado de massas. Um conjunto de tacos custa 4300 euros. São totalmente personalizados e vendidos apenas no âmbito de pacotes específicos, incluindo um de nome “The Xperience”. Concebido para o Scottsdale National, inclui refeições e bebidas, alojamento e 45 buracos de golfe (incluindo 18 buracos com um mestre aquando da entrega dos tacos).
O “The Xperience” começa nos 15 mil euros e, até à data, já cativou 122 clientes. Além de ser um apaixonado pelo golfe e por motos, Bob é também conhecido pela sua veia filantrópica. Nos últimos cinco anos, doou mais de 115 milhões de euros através da fundação que dirige com a sua mulher, Renee. O seu maior gesto de generosidade ocorreu com o anúncio, em 2013, de que assinaria a Giving Pledge, comprometendo-se a doar pelo menos metade da sua fortuna que, segundo a FORBES, será de 2,3 mil milhões de euros.
Outro dos seus legados, pelo menos assim espera, é o Scottsdale National. Parsons comprou este clube privado que se debatia com dificuldades (conhecido então como Golf Club of Scottsdale) em 2013 pelo preço relativamente baixo de 520 mil euros e começou logo a agitar as águas.
Rapidamente se apercebeu que os membros que mais golfe jogavam eram os que menos dinheiro gastavam. Numa carta a que a imprensa teve acesso, recriminava esses membros e começou a traçar planos para o futuro. O clube tinha um campo de 18 buracos a que deu o nome de Mineshaft. Parsons e acrescentou-lhe um segundo campo de 19 buracos (que chamou de forma divertida “O Outro Campo”) e um campo brutal de nove buracos conhecido como The Bad Little Nine.
Além disso, acabou com algumas regras: os membros podiam fazer o que queriam (usar roupa de ganga, ouvir música nos seus carrinhos) desde que não impingissem o divertimento aos outros membros. E ofereceu um reembolso das inscrições até 95 mil euros a todos os que quisessem sair.
Dos 176 membros, 84 saíram. Alguns dos que aceitaram a oferta tentaram voltar mais tarde. “Mas isso não vai acontecer,” afirma.
Agora, uma inscrição custa 130 mil euros e a quota anual é de 31 mil. O objectivo é criar um lugar exclusivo para que as “pessoas realizadas” possam jogar golfe e descontrair. “Construí isto como presente para meus trisnetos”, afirma. O clube pode ficar na mão dos seus descendentes, mas, por ora, é seu, e é um reflexo do melhor que sabe fazer.