Manter o segundo maior hospital do país na vanguarda da assistência, da investigação e do ensino é aquilo a que se propõe António Oliveira e Silva, que desde Fevereiro de 2016 sucedeu a António Ferreira na presidência do conselho de administração do Centro Hospitalar de São João (CHSJ).
Diz que não há nenhuma fórmula secreta e o que procura fazer no dia-a-dia é dar continuidade ao trabalho do seu antecessor porque “nos últimos anos, o São João registou ganhos de eficiência enormes”, diz.
Apesar de estar na presidência há pouco tempo, António está como um peixe na água. “Os hospitais são instituições muito complexas, exigem múltiplos processos, uma logística enorme. Costumo comparar o hospital a um aeroporto. E apesar de surgirem todos os dias coisas novas, não há segredos”, adianta.
O médico que se foi fazendo gestor, escusa-se à pergunta quanto a um segundo mandato porque não gosta de fazer planos para o futuro, “coisa que a vida me ensinou”.
E quanto ao primeiro mandato: “Particularmente, não gostava de deixar marca nenhuma”, diz com um sorriso na cara. Não gostava, mas acabará por deixar, inevitavelmente.
“Os hospitais são instituições muito complexas, exigem múltiplos processos, uma logística enorme. Costumo comparar o hospital a um aeroporto. E apesar de surgirem todos os dias coisas novas, não há segredos”
Além dos ganhos de eficiência e do plano de investimento de 66 milhões de euros para o próximo triénio, que apresentou recentemente à tutela, António fez com que o Hospital de São João saísse das quatro paredes e fosse até à Cadeia de Custóias para tratar de reclusos com hepatite C. “Temos de sair do hospital e apostar numa estratégia de inclusão”, frisa.
Daí que também já esteja a pensar em programas de hospitalização domiciliária. O São João é composto por duas áreas bem distintas: a nova, que foi sujeita a vários trabalhos de reconstrução, e a velha, a que o presidente do CHSJ chama “hospital 59” (o Hospital de São João foi inaugurado em 1959).
Reconhece que gerir esta diferença “é muito difícil e às vezes temos de ser imaginativos”, afirma. Para se perceber o que faz falta, atente-se o plano de investimento: intervenções estruturais e infra-estruturais, a reabilitação completa da cozinha hospitalar, da lavandaria, do bloco operatório central e compra de equipamento.
Apesar das limitações, o médico-gestor sabe que tem em mãos um grande trunfo, que adjectiva de “excepcional e diferenciador”. Fala de pessoas, profissionais de referência nacional e internacional, que continuam a exercer funções no Serviço Nacional de Saúde (SNS), e particularmente no CHSJ, “o que nos permite continuar a dar uma resposta atempada e adequada às necessidades da população”.
No entanto, não é suficiente para fazer desaparecer as dificuldades que sente na gestão de duas realidades distintas. “Uma parte do hospital tem condições adequadas para a prestação correcta e humanizada de cuidados de saúde, mas a outra, que corresponde a 40% do hospital, continua a necessitar de uma intervenção urgente”.
A saúde boa paga-se caro
António não podia ser outra coisa que não médico. Foi influenciado pelo ambiente familiar, “mas sem qualquer tipo de pressão”, diz. Olhando para o caminho que seguiu, o presidente do CHSJ refere que o maior desafio para um médico é tornar-se médico.
“A pessoa não sabe muito bem como é que de um momento para o outro começa a tomar decisões e a ter segurança nessas decisões”. E a opção pela medicina interna aconteceu porque nunca teve apetência especial por especialidades cirúrgicas ou laboratoriais. “Gosto das especialidades generalistas, onde predomina o domínio cognitivo acima da técnica”, adianta.
Com recursos financeiros limitados e problemas de subfinanciamento do hospital, “às vezes é muito difícil” dar respostas aos problemas, que surgem, refere António. Contudo, sublinha que “vamos tendo respostas assistenciais possíveis. Não são óptimas, mas as possíveis”.
Num país onde a saúde boa é uma saúde cara, António fala de despesas que aumentam, um financiamento que tem diminuído por acto clínico e que não cobre os custos das intervenções. O presidente do CHSJ mostra-se preocupado com esta realidade. “Neste momento acontece uma coisa extraordinária: sempre fomos habituados a que o último grito de tecnologia estivesse nos hospitais universitários, só que, actualmente, numa grande parte dos casos, temos de recorrer obrigatoriamente às instituições privadas”, adianta.
Num país onde a saúde boa é uma saúde cara, António fala de despesas que aumentam, um financiamento que tem diminuído por acto clínico e que não cobre os custos das intervenções.
Se lhe pedir para datar um período de maior aflição, o médico-gestor responde prontamente que a partir de 2011 houve uma progressiva falta de autonomia dos hospitais. Mesmo a decisão relativa a pequenos pormenores, o que dificulta muito a gestão das unidades no dia-a-dia. “É certo que temos uma planificação de actividade, mas tudo é centralizado. Nestas condições não é possível dar uma resposta imediata a um problema imediato porque preciso da resposta da tutela a esse pedido” (por exemplo: contratação de pessoas e compra de equipamento).
O rapaz de Oliveira de Azeméis que foi morar para o Porto aos 18 anos, respondendo ao chamamento do ensino universitário, fez o Internato Geral no Hospital de Santo António e o Internato da Especialidade no Hospital de São João. Foi nesta casa que assumiu várias funções até 2014.
Foi director clínico, coordenador de Emergência Pré-Hospitalar, director do Serviço de Urgência e liderou a unidade de AVC do CHSJ. Depois de 2014 foi trabalhar para o Hospital de Braga, onde era director do Serviço de Medicina Interna. Não morou lá, preferiu deslocar-se diariamente e manter a residência em Matosinhos.
Dois anos depois regressou ao CHSJ para tomar posse como presidente do CA. Na altura disse que as suas prioridades eram obter bons resultados, prestar um serviço de excelência aos doentes e fortalecer a ligação à Faculdade de Medicina.
Continua a batalhar por isso, sem esquecer que também ele está sob escrutínio. “As reclamações a que a instituição está sujeita são relacionadas com problemas estruturais, más instalações e outros aspectos relacionados com a comunicação”, diz.